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Capital

Dois anos atrás, "Pedreiro Assassino" disse à Justiça ter medo de ladrões

Cleber de Souza Carvalho foi ouvido em maio de 2018 sobre processo contra dupla que furtou motocicleta dele em 2016

Marta Ferreira | 19/05/2020 20:06



Na tarde de 3 de maio de 2018, o pedreiro Cleber Souza de Carvalho, 43 anos, esteve no Fórum de Campo Grande. Por seis minutos, foi ouvido na 1ª Vara Criminal e Residual, sobre furto de motocicleta de sua propriedade comunicado à Polícia Civil na noite de 28 de setembro de 2016, em frente à Santa Casa de Campo Grande, na Rua 13 de Maio.
O depoimento foi gravado.

No vídeo, aparece um homem calmo, simplório, que responde com certa timidez às perguntas feitas pela promotora e pelo juiz do caso. Em dado momento diz inclusive ter relutado em denunciar os ladrões da moto CG Fan vermelha, chamada por ele de "motinha".  Afirma, também, que não quis vê-los no momento da prisão, quando estavam encostados em um "paredão" na delegacia de Polícia Civil.

“Ficou com medo, né?”, indaga a promotora e Cleber concorda. “Eu moro ali por perto, esses caras são...”, balbucia.

Que vê a cena, não consegue imaginar que aquela pessoa já havia matado pelo menos dois homens e enterrado os cadávares, segundo as descobertas policiais da semana passada, revelando-o como o “Pedreiro Assassino”. É, conforme admitiu, matador confesso de 7 vítimas entre 2015 e 2020.

Uma delas sumiria no dia 23 de junho de 2018, pouco mais de um mês depois do encontro de Cleber com a Justiça gravado em vídeo. A ossada de Roberto Geraldo Clariano, morto aos 48 anos, só foi achada na sexta-feira passada (15), com a  prisão de Cleber pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar.

Assassino em série – De dois anos para cá, o criminoso confesso matou mais cinco pessoas, pelo menos. Todas foram atingidas por pauladas na cabeça, possivelmente cabos de ferramentas. Em seis casos, foram enterradas nos locais de crime, na mesma região da cidade, o entorno da Vila Nasser. A última, foi jogada em um poço de 10 metros de profundidamente no próprio quintal do imóvel onde residia.

Discussões banais aliadas ao interesse de ficar com bens - como terrenos, casas e veículos das pessoas mortas - estão relacionados aos assassinatos, conforme diz a polícia.

Naquele 3 de maio, porém, Cleber se mostrou de forma bem diferente do perpetrador cruel traduzido pela forma como tratou a vítima antes e depois da morte. Calmo, falava baixo sobre o ilícito do qual foi vítima em 2016.

No relato apresentado, a partir das interrogações de juiz e promotor sobre o ocorrido,  afirma ter ido à Santa Casa de Campo Grande, onde a mulher estava internada depois de cirurgia cardíaca. Na saída, 20 minutos depois, percebeu o furto.

“Eu parei a motinha em frente à Santa casa, aí entramo lá, saímo, aí tinha que comprar uns remédios e fomo na farmácia ali na esquina com a Mato Grosso”, contou. A grafia respeita a forma como Cleber fala no vídeo.

Cleber de Souza Carvalho, durante depoimento à Justiça no Fórum de Campo Grande, em 2016. (Foto: Reprodução de vídeo)
Cleber de Souza Carvalho, durante depoimento à Justiça no Fórum de Campo Grande, em 2016. (Foto: Reprodução de vídeo)

Na volta, disse, a moto não estava e um rapaz dentro de um carro contou que dois homens haviam levado o veículo. “Eu saí correndo, quando eu virei a esquina, vinha passando um carro da polícia”, relatou Cleber.

“O rapaz falou é aqueles lá”, complementou, ao comentar dos dois presos logo depois. Os ladrões não conseguiram ligar a motocicleta. Confessaram ter tentado fazer ligação direta com uma faca, achada perto da CG Fan.

“Eu até não queria ir porque a moto já estava ali, mas o polícia falou tem que ir”, disse Cleber às autoridades durante a audiência de dois anos atrás. “Prenderam eles, aí fomos pra delegacia”, afirmou em alusão à Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Centro, na Rua Padre João Crippa.

Esse processo corre na Justiça ainda. Em novembro de 2017,  audiência de instrução deixou de ser realizada por ausência de Cleber. O processo traz a informação de notificação, em endereço na Rua Júpiter, porém registra o não comparecimento.

A rua fica na região que faz parte do “mapa da morte” desenhado ao longo de cinco anos pelo “Pedreiro Assassino”. Preso de forma preventiva, ele está em cela do Cepol (Centro Integrado de Polícia Especializada), onde fica a DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), que cuida do trabalho investigatório.

Responsável pela defesa de Cleber, o advogado Jean Carlos Cabreira de Sousa já anunciou a alegação de insanidade mental do cliente.

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