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Capital

Em aldeia alvo da PF, moradores dizem que nunca souberam de milícia

Cinco equipes da Polícia Federal estavam em busca de armas, quatro casas foram vasculhadas e nada foi encontrado

Anahi Zurutuza e Fernanda Palheta | 17/07/2019 13:15
Por volta das 11h, ruas quase não tinham movimento na Aldeia Urbana Água Bonita (Foto: Marina Pacheco)
Por volta das 11h, ruas quase não tinham movimento na Aldeia Urbana Água Bonita (Foto: Marina Pacheco)

O dia amanheceu movimentado na Aldeia Urbana Água Bonita nesta quarta-feira (17). Cinco equipes da Polícia Federal estavam em busca de armas. Quatro casas foram vasculhadas e nada foi encontrado. Horas depois que agentes deixaram o local, a rotina voltou ao normal e pelas ruas da comunidade, moradores disseram nunca ter ouvido falar de esquema de extorsão de famílias.

A PF investiga grupo que agia exigindo valores de moradores para a entrega de lotes e permanência no local. Os quatro alvos de mandados seriam ligados ao antigo cacique, Nilton Nelson, que morreu em abril, e teriam formado espécie de milícia que cobrava taxas das famílias na base da ameaça e violência.

A primeira denúncia chegou à polícia em 2016 e de lá para cá, outros três boletins de ocorrência foram registrados, disse o delegado Fernando Rocha Rodrigues da Silva, da Delinst (Delegacia contra Pedofilia, Crimes contra Populações Indígenas e Eleitoral), nesta manhã.

Na aldeia, contudo, quem topou conversar com a reportagem diz nunca ter pago ou ouvido falar da cobrança ilegal. “Nunca existiu, faz cinco anos que moro aqui, nunca ouvi falar de nenhum tipo de cobrança”, afirma Sander Barbosa, índio guarani-kaiowá e representante dos trabalhadores da construção de casas na comunidade. Para ele, os denunciantes têm de provar a irregularidade.

Maria Olinda de Lima, de 72 anos, conta que mora há quatro anos na aldeia e diz que nunca soube de cobranças de taxas para viver por lá (Foto: Marina Pacheco)
Maria Olinda de Lima, de 72 anos, conta que mora há quatro anos na aldeia e diz que nunca soube de cobranças de taxas para viver por lá (Foto: Marina Pacheco)

Índia terena, uma cozinheira, que pediu para ter o nome preservado, disse que as únicas contas que paga são de água e luz.

Casada com indígena, a dona de casa, Maria Olinda de Lima, de 72 anos, conta que mora há quatro anos na aldeia e diz que nunca soube de cobranças de taxas para viver por lá. “Eu quase não saio de casa, mas acho é tranquilo. Ninguém nunca foi expulso, nem quem faz bagunça”, acrescenta.

A cacique Alicinda Tibério foi eleita como líder da comunidade depois que Nilton Nelson morreu e diz estar preocupada com a possibilidade de uma milícia operando na comunidade, mas afirma que até hoje, não soube do suposto esquema. “Nunca chegou denúncia para mim”.

Uma comerciante casada com um terena diz conhecer os alvos e nega a existência do esquema. “Por que mandar a polícia para uma coisa que não existe?”, questiona. Ela é dona de uma mercearia pequena que atende a comunidade.

Luiz Henrique Moraes Nelson, filho do antigo cacique, nega que pai comandava esquema (Foto: Marina Pacheco)
Luiz Henrique Moraes Nelson, filho do antigo cacique, nega que pai comandava esquema (Foto: Marina Pacheco)

Filho do Nilton, Luiz Henrique Moraes Nelson, também nega que seu pai era liderava grupo que fazia cobranças. “Vieram com denúncia de droga e venda de casas para pessoas que não são índias. Mas esse negócio de extorsão nunca existiu. Meu pai nunca fez isso e nunca nem pensou em fazer isso”.

A única entrevistada que diz já ter ouvido falar da cobrança pediu para se identificar apenas como Julia, de 30 anos. “Não pago, mas já ouvi esse boato”.

A comunidade surgiu há 15 anos na região norte de Campo Grande e hoje abriga cerca de 600 indígenas de cinco etnias. Metade da aldeia é ocupada por moradores mais antigos que vivem em casas de alvenaria e em outra parte, barracos ocupam lotes onde moradias estão sendo erguidas.

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