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Capital

Em bairro campeão em focos do Aedes, sobram broncas para vizinhos

No Alves Pereira, que lidera o primeira Liraa de 2019 em Campo Grande, moradores relatam histórias sobre a dengue e criticam quem joga lixo em terrenos ou não cuida das plantas

Humberto Marques e Guilherme Henri | 25/01/2019 17:13
Conceição  Rocha critica quem joga lixo em terrenos pelo bairro e coloca a comunidade em risco com a proliferação do Aedes. (Foto: Guilherme Henri)
Conceição Rocha critica quem joga lixo em terrenos pelo bairro e coloca a comunidade em risco com a proliferação do Aedes. (Foto: Guilherme Henri)

Dados do primeiro Liraa (Levantamento de Índice de Infestação Rápida do Aedes aegypti) de 2019, divulgado na terça-feira (22) pela Prefeitura de Campo Grande, colocou o Alves Pereira –no sul da Capital– como o campeão de incidência de focos do mosquito transmissor da dengue, zika vírus e da febre chikungunya. Não por acaso, a Secretaria Municipal de Saúde anunciou um mutirão para eliminar potenciais criadouros e evitar que as doenças se tornem um problema para os moradores.

Na comunidade do Alves Pereira, embora a notícia sobre a “liderança” surpreenda, logo acaba justificada com o comportamento dos próprios vizinhos, que transformaram áreas públicas e os vários terrenos sem construções no bairro em depósitos de lixo, que viram verdadeiros berçários para o Aedes. A situação não é nova: à reportagem, moradores admitiram terem ao menos uma história de um familiar padecendo de dengue nos últimos tempos.

Iraldina Enéas do Carmo, 54, diz ter sorte: afirma nunca ter contraído dengue. “Mas dos vizinhos sempre tem alguém que fala que teve”, prosseguiu a aposentada, que ainda confirma ter cuidado maior com o terreno de sua casa. “Mas não adianta nada se o vizinho não faz a parte dele”.

A moradora disse desconhecer que o Alves Pereira lidera em infestação de dengue na Capital (com índice de 7,3%, segundo o Liraa), mas a posição, destacou, tem explicação. “Os moradores passam nos terrenos e jogam lixo, plástico, potinho, garrafas, e viram foco de dengue”.

Iraldina diz que nada adianta cuidar do seu imóvel se os vizinhos não fizeram o mesmo nos seus...
Iraldina diz que nada adianta cuidar do seu imóvel se os vizinhos não fizeram o mesmo nos seus...
... enquanto Enói adverte que cautela também deve chegar às plantas. (Fotos: Guilherme Henri)
... enquanto Enói adverte que cautela também deve chegar às plantas. (Fotos: Guilherme Henri)

Reclamação – Aos 80 anos, Conceição Rocha concorda com a vizinha. “O pessoal é muito porco, joga tudo na rua, em qualquer lugar”, reclamou ela. Curiosamente, nesta sexta-feira, imóveis visitados pelo Campo Grande News que foram apontados como fontes de problemas estavam limpos. A justificativa, segundo Conceição, é que nesta semana –após a divulgação do índice de infestação–, houve uma maior presença de agentes de saúde no Alves Pereira.

“Bem que a gente sentiu uma movimentação maior de agentes de saúde aqui. Eles sempre passam, mas agora aumentou”, afirmou a moradora, ao confirmar que a filha já teve dengue. “Isso é muito bom, evita que quem tem idade mais avançada pegue dengue”.

Também com um caso de dengue na família –o da filha–, Enói Teixeira da Silva, 60, afirma ser comum ouvir os vizinhos relatarem casos da doença na família. “Tem sempre algum nas conversas do bairro, mas fiquei surpresa que tenha tanto assim no Alves Pereira”, contou ela, também confirmando a maior presença de agentes de saúde nos últimos dias.

Enói critica, ainda, quem mantém plantas em casa em vasos com água. “Tem muita gente com planta no quintal, mas as minhas estão na terra. Tem relaxado que coloca no vasinho e não se preocupa em colocar areia para não deixar acumular água”, disparou.

Prefeitura fará mutirão na próxima semana na região atendida pela UBSF Alves Pereira. (Foto: PMCG/Divulgação)
Prefeitura fará mutirão na próxima semana na região atendida pela UBSF Alves Pereira. (Foto: PMCG/Divulgação)

Força-tarefa – Apesar da maior presença de servidores municipais relatada pelos moradores, a Prefeitura da Capital anunciou que, a partir de terça-feira (29), mais 30 agentes comunitários de saúde e de combate a endemias para vistoriar 100% dos imóveis do Alves Pereira sob jurisdição da UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família) do bairro.

O trabalho da CCEV (Coordenadoria de Controle de Endemias Vetoriais) visa a reduzir os índices de infestação do Aedes e, por consequência, o de casos das doenças transmitidas pelo mosquito. Os servidores que atuarão no bairro passaram por capacitação fornecida pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e Semed (Secretaria Municipal de Educação), com gerentes técnicos da coordenadoria, para definir o plano de ação.

O trabalho deve se estender por 5.078 imóveis do Alves Pereira e bairros adjacentes –como Colibri, Naschiville e Vila Antunes– e ser realizado ao longo da próxima semana. Equipes de agentes vão percorrer as áreas dividas por quarteirões para orientar os moradores sobre cuidados para evitar a proliferação do mosquito e fazer o tratamento e remoção de materiais inservíveis, bem como remoção de focos. Imóveis que estiverem fechados serão visitados em um segundo momento, em data a ser definida.

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