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Capital

Em época de epidemia, não falta serviço para quem decide carpir lote

Natalia Yahn | 04/02/2016 17:07
Maria de Fátima capina terreno. Ao fundo as manilhas onde ela encontrou possíveis criadouros do Aedes. (Foto: Marcos Ermínio)
Maria de Fátima capina terreno. Ao fundo as manilhas onde ela encontrou possíveis criadouros do Aedes. (Foto: Marcos Ermínio)

“Limpar terrenos em época de epidemia de dengue é muito lucrativo. Também, é serviço que não acaba mais”. A afirmação é do autônomo Joaquim Dias Bispo, 53 anos, que tem faturado todos os dias e até dispensado alguns clientes em Campo Grande, onde somente este ano o número de casos suspeitos da doença supera a casa dos 12 mil.

Os valores cobrados são diversos, depende do que o cliente contratar, mas vai de R$ 30 até R$ 1,5 mil. O serviço vai desde roçada (com uso de máquina) e capina (manualmente), até retirar o mato do local ou não, além do aluguel de uma caçamba para transportar tudo. “Se o trabalho for pouco, só um matinho pode ficar a partir de R$ 30 até uns R$ 60. Mas se for bastante e tiver que contratar mais gente pra ajudar aí sobe, já cobrei R$ 1,5 mil”, afirmou Bispo.

Somente nesta quinta-feira (4), ele tinha dois serviços em diferentes regiões, de leste a oeste da cidade, nos bairros Carandá Bosque e Nova Campo Grande. No dia anterior, o trabalho foi no Bairro Cidade Jardim e, para sexta (5), a previsão é de mais áreas para limpeza no Nova Lima.

Durante esta manhã ele e a esposa, Maria de Fátima Fermino, 50 anos, capinavam dois terrenos, na Rua 59, no Bairro Nova Campo Grande, na saída para Aquidauana. O trabalho deve ser finalizado só amanhã (5), isso porquê será necessária uma caçamba para retirar todo o mato da área.

Para conseguir atender as solicitações de clientes, só mesmo convocando toda a família. Por isso, além da esposa, Bispo também conta com a ajuda de cinco dos dez irmãos. “Cada um trabalha ajudando o outro. E tem mais gente na cidade que ganha dinheiro com isso. É só querer trabalhar, porque terreno sujo tem e muito, é até de chorar”, disse.

Bispo afirma desde dezembro de 2015 não fica um só dia sem trabalho, mas entre setembro e novembro a situação foi diferente. “Fiquei uns três meses com pouco serviço. Mas quando chegou dezembro a coisa melhorou bastante. Todo dia faço alguma capina ou roçada”.

O aumento na demanda, ele acredita, esta diretamente ligado aos casos de dengue que só aumentam na Capital. “Com certeza é por causa do mosquito. E eu acho muito criadouro, com larva e tudo. Além do mato, tem muita vasilha com água parada, copo, tampinhas, tem de tudo”.

Joaquim mostra o terreno tomado pelo mato, em frente ao local onde trabalhava esta manhã. (Foto Marcos Ermínio)
Joaquim mostra o terreno tomado pelo mato, em frente ao local onde trabalhava esta manhã. (Foto Marcos Ermínio)

A grande quantidade de trabalho relatada por ele surgiu na mesma época que o número da explosão do número casos notificados de dengue na Capital, chegando a 6.547 em dezembro passado. O ano fechou com 14.450 casos e entre os meses de setembro e novembro (com 295, 324 e 1.554 casos notificados, respectivamente), quando Bispo ficou praticamente sem serviço, os números ainda estava “controlados”.

A esposa confirma a situação e afirma que no local onde trabalhavam nesta manhã já tinha encontrado um pote de sorvete com água. “Estava dentro de uma manilha, mas não tinha larva não. Mesmo assim joguei a água fora e dei um fim no problema”, afirmou Maria.

Mosquito danado – Os focos do mosquito estão mesmo nos locais mais inusitados possíveis. Enquanto a reportagem do Campo Grande News entrevistava o casal, ao lado do terreno que era roçado um tronco de árvore abrigava várias largas do mosquito Aedes aegypti – transmissor da dengue, zika vírus e febre chikungunya.

O “berço' para proliferação do vetor espantou até mesmo quem esta acostumado a ajudar a combatê-los. “Olha só, até no tronco seco da árvore, ficou um pouco de água e já tem larva. Sempre que eu encontro focos eu elimino, jogo o lixo no lugar correto e até enterro alguma coisa se precisar”, disse Bispo, praticamente um agente de controle de endemias voluntário.

Tronco de árvore guardava "surpresa". Várias larvas do mosquito que transmite dengue, zika e chikungunya estavam no local. (Foto: Marcos Ermínio)
Tronco de árvore guardava "surpresa". Várias larvas do mosquito que transmite dengue, zika e chikungunya estavam no local. (Foto: Marcos Ermínio)

Números – O boletim epidemiológico, divulgado quarta-feira (3), aponta que Mato Grosso do Sul registrou nas quatro primeiras semanas deste ano, 12.219 casos suspeitos de dengue. O número representa 3.950 novos casos suspeitos em relação ao levantamento anterior, divulgado semana passada.

O total é 47,7% maior em relação ao boletim anterior. Também já supera os dados de 2014, quando foram computados 9.256 casos ao longo do ano. Já entre os dias 24 e 30 de janeiro, foram registradas 1.804 notificações, contra 2.133 das computadas entre os dias 17 e 23 deste mês, o que representa uma queda de 15,4% de casos suspeitos em uma semana.

O município de Dois Irmãos do Buriti lidera o ranking de cidades com maior índice de incidência do Aedes aegypti, com 172 notificações, seguido de Deodápolis, com 175. Em terceiro lugar vem Caracol, com 74 casos suspeitos.

A Capital permanece em 17º lugar, com 5.464 notificações. As confirmações de óbitos devido a dengue continuam sendo as mesmas do último boletim, com dois casos.

Na Capital foram duas confirmações, uma criança de 8 anos, que morreu no dia 12 de janeiro na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Vila Almeida ao dar entrada com dengue clássica e depois sofrer uma parada cardíaca e a adolescente Karolina Ribeiro Soares Rodrigues, 16, que morreu um dia depois no Hospital Regional Rosa Pedrossian.

Em todo o Estado foram registrados 17 óbitos no ano passado por causa da doença.

Chikungunya - Quanto a febre Chikungunya um novo boletim também foi divulgado nesta quarta-feira e revela que as notificações de casos suspeitos se mantém em 16, sendo dez em Aquidauana, dois em Bodoquena, dois em Corumbá e Dourados e Miranda com um caso cada. Ao todo, 11 casos aguardam confirmação. Em 2015, foram 184 notificações, com oito confirmações. Ainda há 41 casos suspeitos de chikungunya referentes ao ano passado aguardando resultado.

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