Em mansão abandonada, o que era luxo agora preocupa a vizinhança
Entulhos, restos de móveis quebrados, muita sujeira e possíveis focos do mosquito Aedes aegypti. Esta é a situação de uma mansão, ou do que restou dela, localizada em uma das áreas mais nobres de Campo Grande, o bairro Jardim dos Estados.
A casa, que no passado foi uma das mais belas construções da região, está localizada na esquina da Rua Goiás com a Antônio Maria Coelho, mas nem de longe aparenta o luxo que ostentou um dia. A situação da mansão, que está parcialmente demolida, tem sido motivo de preocupação dos vizinhos e lojistas que trabalham próximo ao endereço, devido à epidemia de dengue.
Apesar de o bairro não constar entre os que apresentam alto índice de notificações de focos, os moradores temem que a situação do imóvel contribua com a proliferação de mosquitos na região o que, segundo eles, já vem ocorrendo.
Segundo moradores e funcionários de lojas ouvidos pelo Campo Grande News, a infestação de mosquitos na rua é tão grande que em alguns momentos do dia é quase impossível permanecer nas lojas. "Aqui ficamos na base do inseticida o dia todo. Dá até vergonha de receber os clientes", reclama o vendedor Paulo Antônio Corrêa, que há um ano trabalha em uma loja de roupas na frente da casa.
Após denúncia de uma moradora da rua, o Campo Grande News esteve na mansão na manhã desta quinta-feira (28) e constatou o cenário de total abandono. Como um dos portões está quebrado, foi possível entrar e verificar a situação da casa.
Além do mato e sujeira espalhados em todo o terreno, ainda há restos de madeiras da demolição que, segundo os vizinhos, começou em janeiro de 2015, mas foi interrompida já no mês seguinte. Pilhas de telhas ocupam dois pontos da área e algumas estão dispostas de forma que podem acumular água da chuva.
Também há móveis quebrados, portas e janelas inteiras, jogadas em uma área que parecia ser a sala da mansão. Roupas, sapatos e embalagens de comida indicam a presença de moradores de rua, como denunciado pelos lojistas.
Na piscina – Mas é a piscina da casa que representa o principal perigo. Apesar de ter sido esvaziada, ela começou a acumular água devido às chuvas constantes do fim do ano. Sem limpeza, a parte da piscina que fica em um desnível apresenta um líquido turvo, repleto de sujeira e lodo.
Duas escadas de madeira improvisadas estão na borda, indicando que alguém pode ter entrado no espaço, há alguns meses, para fazer a limpeza.
Outro ponto que também preocupa é uma espécie de jardim de inverno, que abriga o que um dia foi um lago artificial e que ficava dentro da casa. Apesar de estar repleto de entulho, ainda há pequenas poças no tanque, também criando um ambiente favorável ao Aedes aegypti.
Medo - Para os lojistas vizinhos da mansão, além dos mosquitos, a presença de moradores de rua no imóvel tem causado medo, principalmente em quem trabalha até a noite. "Já tentaram mexer no meu carro, por isso tenho medo de sair daqui tarde", conta a técnica de enfermagem Jenifer Barreto Borda, que trabalha em uma casa de repouso, na Rua Goiás.
Ela diz que sempre observa movimentação no local quando chega, por volta das 6 horas e no final do dia. Quanto a proliferação de mosquitos, ela confirma a infestação e diz que teme pela saúde dos idosos que moram na casa de repouso. "Sei que minha patroa já fez denúncias, mas nunca vi ninguém vir aqui", ressalta.
Funcionárias de um salão de beleza também próximo à casa, afirmam que pelo menos seis moradores de rua ocupam o imóvel e que ás vezes eles chegam a abordar os clientes na rua, fazendo perguntas banais. "Eles querem verificar se você tem algum objeto de valor", diz uma das funcionárias que preferiu não se identificar.
O vendedor Paulo Antônio Correa, que trabalha em uma loja na Rua Antônio Maria Coelho, diz que há três semanas fez uma denúncia na prefeitura, mas até o momento ninguém foi verificar a situação da área. "Conversei em seis números até conseguir formalizar a denúncia. Para cada tipo de imóvel é um telefone, foi complicado", ressalta.
Como são vizinhos recentes da casa, a maioria das pessoas ouvidas pela reportagem desconhece a história dos antigos donos, mas o assessor político Aílton Ferreira, que trabalha no escritório do senador Delcídio do Amaral, localizado ao lado da mansão abandonada, conta que a casa pertencia a um fazendeiro, que vendeu o imóvel há mais de três anos.
"Estamos aqui há 15 anos e pelo menos há três anos não tem ninguém nessa casa. Começaram a demolir, mas teve que parar porque fiquei sabendo que tem algum problema na Justiça referente à venda", conta.
Aílton diz que em dezembro fez uma reclamação na prefeitura e funcionários do setor de zoonoses estiveram na casa. "Eles entraram e jogaram veneno, inclusive na piscina, mas depois não vieram mais", destaca.
O assessor diz que não lembra o nome do antigo proprietário, mas recorda dos artigos de luxo que compunham a decoração da fachada da mansão, que ele calcula ter pelo menos 500 metros quadrados, sem contar o terreno. "Tinha dois bois de bronze que precisaram ser retirados com um caminhão munck de tão pesados", recorda.
Com 16 funcionários, ele diz que o escritório está em recesso, mas se preocupa quando as atividades forem retomadas em março. "Sem dúvida essa situação de abandono representa um perigo para quem trabalha aqui nas imediações. Precisa interditar essa casa", pontua.
A situação se agrava porque na região, de acordo com reclamações recebidas pela reportagem, existem outros imóveis abandonados e que possuem piscinas que podem servir de criadouro do Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus.
O que fazer? – Em nota, a prefeitura informa que não pode disponibilizar os dados do proprietário nem do imóvel e que as denúncias quanto a possíveis focos de dengue devem ser registradas pelo telefone 3317 5740.