Em tempo de febre amarela, macacos são como alerta em bairros da cidade
População deve estar atenta à validade da vacina contra a doença; Ministério da Saúde recomenda duas doses na vida, com intervalo de dez anos
Embora a morte deles possa indicar a circulação do vírus causador da febre amarela, a presença de macacos na zona urbana de Campo Grande não representa maior risco da doença. Eles não são os transmissores e por isso, moradores das proximidades de áreas de matas podem ficar tranquilos.
“Na verdade, eles servem como bioindicadores. Se macacos forem encontrados mortos, é sinal de que o mosquito está lá e que há circulação do vírus. Se o mosquito não encontra o macaco, encontra o humano”, explica o biólogo Elson Borges.
A população, entretanto, deve estar atenda à validade da vacina contra a doença. Quem tomou a dose há mais de dez anos deve procurar uma unidade de saúde para se imunizar.
Caso ocorra, de início, a mortandade de macacos serve de alerta para a vigilância epidemiológica a traçar estratégias para imunizar pessoas que por acaso ainda não estejam vacinadas.
“O problema não é o macaco, é o transmissor, ou seja, o mosquito. Assim como acontece com a leishmaniose. Estudos comprovam que acabar com os cães doentes não evita a doença nos humanos”, deixa claro o biólogo.
Medo – Na Capital, segundo Borges, há três espécies de macacos e todas elas são passíveis de contrair a febre amarela. “Os macacos pregos e os bugios são nativos e tem também os saguis, que foram introduzidos nos nossas matas”.
A presença dos animais gera temor. Preocupado com o surto da doença, o coordenador do Fórum da Cidadania, Haroldo Borralho, quer que a prefeitura monte uma força-tarefa para orientar a população, principalmente que vive no entorno de matas dentro da área urbana, a se vacinar. Ele pediu, por meio de ofício, a interferência de vereadores.
O presidente da Associação de Moradores do bairro Maria Aparecida Pedrossian, Jânio Batista Macedo, também tem orientado moradores do bairro a não atrair os macacos para fora da APA (Área de Preservação Ambiental) do Córrego Lageado, que fica no bairro. “A gente já tinha feito este trabalho, há alguns anos, as pessoas davam comida, mas isso parou depois que a gente fez a orientação”.
O biólogo afirma que esta é a medida correta. “O certo é manter os macacos dentro das matas”.
Investigações – Em Mato Grosso do Sul, a morte de quatro macacos na área rural de Aparecida de Taboado – a 481 km de Campo Grande – é investigada. Mosquitos coletados nas matas do município foram enviados para testes no Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), mas o resultado deve sair só no fim do mês.
O secretário de saúde da cidade, Luciano Aparecido da Silva, afirma que apesar da investigação, não há motivo para pânico. “A maior parte das pessoas já foi vacinada, portanto está imune à doença. O risco de haver surto de febre amarela em Aparecida do Taboado e no Estado é praticamente zero”.
Também um caso em Corumbá – a 417 km da Capital – está sendo apurado pelo CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) local. Contudo, a princípio, segundo informações do órgão, testes clínicos favorecem o descarte da infecção e levantam a hipótese de maus-tratos.
Segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), na Capital não houve casos de macacos mortos com suspeita de febre amarela.
Fora de risco – Embora Mato Grosso do Sul esteja na área de risco para a febre amarela, segundo o Ministério da Saúde, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) descarta a possibilidade de surto da doença no Estado. De acordo com a secretaria, a maior parte da população está imune à doença.
O médico infectologista, Rivaldo Venâncio, reforça a importância da vacinação, mas também garante que não há motivo para pânico. “Quem ainda não vacinou está em tempo de fazê-lo”, disse.
Até sexta-feira (3), 702 casos de febre amarela estavam em investigação no Brasil, 161 foram confirmados. Há ainda 60 mortes confirmadas e 87 sendo investigados, conforme o Ministério da Saúde. Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, São Paulo e Tocantins são os Estado onde há casos suspeitos e/ou confirmados e Mato Grosso do Sul por excluído da lista, por enquanto.