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Capital

Entre farsa e 'silêncio', defesa já deu 3 versões sobre morte de Mayara

Para a família de Mayara, mudança de versões do assassino confesso representa estratégia

Luana Rodrigues | 07/08/2017 17:28
Luís Alberto Bastos Barbosa, 29 anos, no dia em que passou por audiência de custódia. (Foto: Marcos Ermínio)
Luís Alberto Bastos Barbosa, 29 anos, no dia em que passou por audiência de custódia. (Foto: Marcos Ermínio)

Mentiras, versões desencontradas e uma verdade ainda não esclarecida. Desde que veio a tona, a morte da violonista Mayara Amaral, 27 anos - praticada com requintes de crueldade - abriu um verdadeiro debate social sobre o que teria ocorrido no dia do crime. Muita gente questionou a tipificação imposta pela polícia e, diante do cenário confuso, o autor, que confessou o assassinato, chegou a construir uma farsa entorno do crime e mudou a própria versão mais de uma vez.

No último sábado (5), Luís Alberto Bastos Barbosa, 29 anos, disse abertamente em entrevista a revista Veja, que matou e se livrou do corpo da violonista sozinho, sob a justificativa de que teve um rompante de raiva após uma discussão com a moça.

Versão bem diferente da que foi contada por ele no ato de sua prisão, no dia 26 de julho. Na época, Luís disse que havia combinado um encontro com Mayara, com quem ele já se relacionava há algum tempo, foi até a casa de Ronaldo da Silva Olmedo, 30 anos, e depois os três decidiram ir ao motel.

Nesta versão, o assassino chegou a afirmar que os dois (ele e Ronaldo) haviam mantido relações sexuais com Mayara, com o consentimento dela, e que o próprio Ronaldo era quem havia matado a moça, como parte de um plano para roubá-la.

Dois dias após a prisão, esta versão foi confrontada pelo advogado do músico, Conrado de Souza Passos, em entrevista ao Campo Grande News.

No dia 28 de julho, Passos contou que tinha indícios de que o suspeito não tinha matado a jovem e sequer havia convidado Mayara para o encontro no motel. O defensor revelou que o cliente havia contado que Ronaldo foi quem deu as marteladas na cabeça da musicista e que depois, no desespero, Luís Alberto ajudou “Cachorrão” a se livrar no corpo.

A defesa chegou a dizer que ele sequer viu o assassinato e que estava no banheiro do quarto de motel quando “ouviu duas pancadas” desferidas por Cachorrão na cabeça na moça.

Quando convocado para depor pela segunda vez, Luis Alberto preferiu o silêncio, mas na quinta-feira (3), um dia depois de estar na frente da delegada Gabriela Stainle, falou à Veja, admitindo que tinha feito tudo sozinho, num rompante de raiva após uma discussão com a vítima e após beber e usar cocaína.

Para a família de Mayara, a mudança de versões do assassino representa uma estratégia. Em entrevista ao Campo Grande News no sábado (5), o pai dela, Alziro Lopes do Amaral, disse que o assassino estpá apenas tentando se livrar da acusação de latrocínio - roubo seguido de morte. “Isso é estratégia. As provas indicam que ele a roubou. Ele vendeu o carro dela, estava com as coisas dela, com o cartão da poupança dela, e quem conhece a Mayara sabe que ela não entregaria a senha do cartão. Ela não entregou a senha e ele a matou ", considera o pai.

O advogado de Luís Alberto tem outra justificativa: "Pressão da polícia e psicológico afetado. Naquele primeiro momento, ele estava abaladíssimo, transtornado e sob o efeito de drogas. Ele estava num momento de perturbação mental, insegurança, estava sendo ameaçado, recebendo pressão da polícia para entregar o crime. Desde o primeiro momento ele queria dizer que era só ele o responsável pelo crime, mas foi obrigado a falar aquilo por pressão. Agora ele tem condições de falar. Está se sentindo seguro", afirma Conrado Passos.

A polícia confrontou as versões do acusado com provas juntadas na conclusão do inquérito da Polícia Civil, entregue ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), desconstruiu o que foi dito por ele no primeiro depoimento e também a segunda alegação feita via defesa, além da terceira, contada em entrevista.

Segundo o inquérito, as câmeras do motel mostram que Luís Alberto e Mayara chegaram juntos ao motel Gruta do Amor, na noite do dia 24, bem como, ele deixando o local no dia seguinte. Além disso, o GPS do celular da moça indica que ela esteve apenas na casa de Luís antes de seguirem para o motel e que depois, já no dia 25, Luís conduziu o veículo até sua própria casa e em seguida, a um mercado.

Ainda conforme a polícia, imagens de câmeras de segurança do mercado mostram o assassino chegando no local. Além disso, já no fim do dia seguinte ao crime, imagens conseguidas pela polícia mostram o músico chegando em casa com o carro de Mayara e saindo só no período noturno, por volta das 21h42, carregando uma pá, e depois, às 22h18 voltando a pé.

"Suas alegações (de Luís) não se sustentam diante das provas colhidas pela polícia, que apontam que luís agiu sozinho no roubo seguido de morte e na ocultação de cadáver", descreveu a delegada Stainle.

A defesa do músico ainda discorda desta tipificação e afirma que continuará tentando provar que o cliente praticou feminicídio. "É inaceitável que uma pessoa tenha cometido um crime e seja julgado por outro, tudo indica que foi feminicídio", diz o advogado de defesa.

Desde que o caso veio a tona, há um clamor social para que o caso seja tipificado como feminicídio, que é uma qualificadora de homicídio, cuja a pena é de 12 a 30 anos de prisão . No entanto, esta tipificação não foi considerada pela polícia. Até então, o crime é tratado pela polícia como latrocínio – roubo seguido de morte - com pena de 20 a 30 anos.

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