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Capital

Falta proteção lateral e sobram quedas e acidente ao longo da Avenida Norte Sul

Não há proteção lateral, nem calçada em mais da metade dos sete quilômetros percorridos pela reportagem

Idaicy Solano | 19/06/2023 10:21
Caminhonete trafega bem perto de margem sem proteção de córrego, na Avenida Vereador Thyrson de Almeida. (Foto: Marcos Maluf)
Caminhonete trafega bem perto de margem sem proteção de córrego, na Avenida Vereador Thyrson de Almeida. (Foto: Marcos Maluf)

Em mais de sete quilômetros de rio, entre a Avenida Vereador Thyrson de Almeida, na altura da Rua Campestre, até o Shopping Norte Sul Plaza, em Campo Grande, não há proteções laterais que evitem - ou ao menos amorteçam - a queda de veículos, pedestres e animais dentro do Rio Anhanduí. E mais, a pouca proteção que existe no local é constantemente furtada.

Foi observado pela reportagem que não há proteção lateral em mais da metade do trajeto percorrido, principalmente no trajeto sentido Centro, que vai em direção ao shopping. As margens estão abarrotadas de lixo, estruturas que deveriam servir de proteção quebradas ou deterioradas e pouca ou nenhuma calçada para os pedestres.

Em alguns trechos, moradores da região dizem que os ferros de proteção foram furtados por dependentes químicos e pessoas em situação de rua. Também é possível observar pedaços de fios cortados e pedaços de concreto jogados que atrapalham a acessibilidade dos pedestres na calçada.

Em trecho sentido Centro, que vai em direção ao Shopping Norte Sul Plaza, quase não existe proteção. (Foto: Marcos Maluf)
Em trecho sentido Centro, que vai em direção ao Shopping Norte Sul Plaza, quase não existe proteção. (Foto: Marcos Maluf)

Falta acessibilidade e segurança - Apesar de a região do Shopping Norte Sul Plaza contar com uma calçada ampla, com proteção e até pisos táteis, é possível encontrar pedaços de concreto pelo caminho que atrapalham o ir e vir dos pedestres. A realidade de todo o trajeto pelo qual o córrego passa é ainda pior, pois boa parte do trecho de sete quilômetros, nem calçada possui. Não precisa caminhar muito para encontrar um cenário completamente diferente da área próxima ao centro de compras.

A cabeleireira Maria Lucinete Lima, 64 anos, declara que é preciso cautela para andar na avenida. Ela viu a calçada acessível e segura ser construída, mas a segurança não lhe acompanha por todo o trajeto. “Quando eu venho aqui, geralmente eu vou pra lá [parte sem calçada], é sem segurança. Sempre procuro ter cautela, cruzar de um lado onde a gente possa ter mais segurança. É muito descaso".

Maria Lucinete Lima relata falta de segurança de acessibilidade para pedestres aos arredores do córrego. (Foto: Marcos Maluf)
Maria Lucinete Lima relata falta de segurança de acessibilidade para pedestres aos arredores do córrego. (Foto: Marcos Maluf)

A idosa, inclusive, já chegou a presenciar um motociclista cair dentro do córrego que passa pela região do Horto Florestal, na Vila Carvalho, após ser atropelado por um carro. O condutor não resistiu aos ferimentos e faleceu. "Às vezes, a gente presencia umas coisas que a gente não gostaria de ver”.

O auxiliar de limpeza Benedito Valério, 49 anos, trabalha há três anos no Ginásio Guanandizão e relata que o trecho é mal sinalizado e não tem iluminação. Na curva, há uma erosão que puxou parte do asfalto para dentro de trecho do Rio Anhanduí e piora a cada ano, principalmente em época de chuva, segundo a observação de Valério.

Apesar de haver alguns cavaletes da Agetran (Agência de Trânsito) indicando perigo e pedindo cautela aos motoristas, a sinalização só é visível quando o dia está claro. "Eu já vi uma moto caindo ali na curva por falta de sinalização e de proteção na via. Eles vêm em alta velocidade, e quando vê já está em cima. Enquanto eles não resolvem [o problema da erosão], deveria ser mais sinalizado, porque essa parte não tem iluminação", relata o auxiliar Valério.

Erosão em trecho da Avenida Vereador Thyrson de Almeida, sinalizada por cavaletes da Agetran (Foto: Marcos Maluf).
Erosão em trecho da Avenida Vereador Thyrson de Almeida, sinalizada por cavaletes da Agetran (Foto: Marcos Maluf).

Além da falta de segurança e acessibilidade no trânsito e nas calçadas, os moradores ainda enfrentam um segundo problema: região da Vila Nhanhá são furtados fios, tampas de bueiro, câmeras de segurança e tudo que tenha valor para vender.

Rafael Bezerra dos Santos, 34 anos, vende redes em frente ao Shopping Norte Sul e relata que a segurança e acessibilidade do córrego não são o único problema da região. Além da falta de segurança no trânsito, também não tem segurança aos arredores, pois usuários de drogas cometem pequenos delitos, inclusive furtando as barras de proteção dos córregos.

O vendedor já presenciou muitos acidentes, com carros, cachorros e motociclistas, além do furto das barras de ferro utilizadas na estrutura de segurança do córrego. “O que eles acharem eles roubam para vender. É bem vulnerável a segurança aqui. As pessoas passam com medo, às vezes nem param. Isso aqui tá abandonado".

Estrutura de contenção está deteriorada, possivelmente por conta de eventos climáticos. (Foto: Marcos Maluf)
Estrutura de contenção está deteriorada, possivelmente por conta de eventos climáticos. (Foto: Marcos Maluf)

A reportagem também flagrou um rapaz queimando fios de cobre na beira do rio Anhanduí. "Às vezes eles acabaram de furtar e vem aqui pra queimar o cobre, e já sai para vender aqui mesmo. A maioria dos usuários que foram expulsos da área central vieram pra cá e estão tomando conta", explicou um policial à paisana que preferiu não se identificar.

Maioria dependentes químicos, o oficial explica que eles ocupam as margens do córrego e formam pequenos "condomínios" de casas irregulares, feitas de lona e sacos de plástico. A vizinhança é frequentemente abordada por eles para pedir dinheiro.

Morador de rua foi flagrado queimando fios de cobre para vender. (Foto: Marcos Maluf/0
Morador de rua foi flagrado queimando fios de cobre para vender. (Foto: Marcos Maluf/0

Acidentes - Em menos de dois meses, o Campo Grande News noticiou pelo menos quatro acidentes que ocorreram em córregos na Capital. Na segunda-feira (12), um veículo despencou cinco metros em um córrego na Avenida Ernesto Geisel, no Córrego Segredo, na altura do bairro Cabreúva. O condutor José Luíz saiu ileso, mas o carro da empresa onde trabalha como motorista ficou destruído.

No início do mês de junho, um carro Hyundai HB20 caiu dentro do Córrego Segredo, em frente ao Cine Belas Artes, no Jardim São Francisco, em Campo Grande. A condutora perdeu o controle do veículo em trecho que não conta com a proteção de guard-rail. O carro ficou destruído com a queda e parou tombado. A mulher, que não teve o nome divulgado, tem aproximadamente 30 anos e conseguiu sair pela janela do veículo.

No dia 21 de maio, uma cachorrinha caramelo chamada Mindinha também foi resgatada depois de passar dois dias dentro de córrego na Avenida Ernesto Geisel, na altura da Rua Barão do Rio Branco, na região central da Capital. Ela estava desaparecida e a família acompanhou o resgate.

Apenas 24 horas após o resgate da cachorrinha, um motoentregador, de 21 anos, foi socorrido em estado grave após colisão com um carro, na Avenida Presidente Ernesto Geisel, cruzamento com a Afonso Pena, centro de Campo Grande. A vítima quase foi parar dentro do mesmo córrego.

Segundo dados da GGIT (Gabinete de Gestão Integrada), ao longo dos mais de cinco quilômetros da Avenida Thyrson de Almeida, houve 14 acidentes envolvendo carros e motos de janeiro a maio de 2022. Onze destes acidentes fizeram vítimas. No mesmo período, em 2023, foram contabilizados 11 acidentes com vítimas e 13 acidentes sem vítimas.

HB20 tombado dentro do Córrego Segredo (Foto: Henrique Kawaminami)
HB20 tombado dentro do Córrego Segredo (Foto: Henrique Kawaminami)


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