Foco dos concorrentes agora é derrubar o preço variável do Uber
Indignados com privilégios de motoristas que atendem pelo aplicativo, mototaxistas querem veto à 'tarifa dinâmica'
Passado o Carnaval, ainda perdura em Campo Grande a repercussão do decreto que regulamenta o transporte particular de passageiros na cidade, assinado no fim de fevereiro. Descontentes com o que eles chamam de "privilégios", mototaxistas garantem que vão entrar na justiça para impedir que a tarifa cobrada pelo serviço de aplicativos como Uber seja oscilante.
A partir da semana que vem, o presidente do Sindicato dos Mototaxistas de Campo Grande, Durvair Boaventura Caburé, diz que organizará uma ação popular numa tentativa de evitar que o preço dinâmico seja cobrado pelo Uber.
“Vamos convocar a classe para que possamos rever nossos direitos. É inviável concorrer com o preço do Uber, porque nossa tarifa é fixa. Por que a deles é variável? Não é justo. Dessa maneira nossa atividade está sendo escrachada. Iremos cair no esquecimento”, acredita Durvair.
Para o sindicalista, a Prefeitura regulamentou uma atividade que já existia, que é de taxistas e mototaxistas. “Não é correto que motoristas do Uber que estão atuando há menos de 5 meses na Capital recebam alvarás antes de taxistas e mototaxistas que estão há anos tentando obter uma licença. Isso não contribui para o desenvolvimento da cidade. Estão nos tratando como se não fôssemos nada”, frisa.
A tarifa cobrada pelo Uber é estabelecida pelo preço dinâmico, que faz com que o valor flutue durante momentos de alta demanda. Os mototaxistas cobram um preço fixo, que é com bandeirada de R$ 2,50 e mais R$ 1 por quilômetro rodado.
Ponderação - O presidente do Sindicato dos Taxistas da Capital, Bernardo Quartim Barrios, disse ao Campo Grande News que ainda não estudou na íntegra o conteúdo do decreto que regulamenta serviços como Uber e que é preciso ter muita lucidez antes de partir para medidas mais drásticas.
“O prefeito Marquinhos Trad fez o que tinha de ser feito. Ninguém pode trabalhar na clandestinidade, sem regulamentação. Mas estamos buscando articular com o poder público e nossa categoria para dimensionar os impactos do decreto”, pondera.
“São muitos pontos que precisam ser discutidos. Temos que oferecer serviço melhor para a população, reduzir o preço, temos que nos reiventar para que haja uma competitividade legítima”, conclui.
Indignação nas ruas – Na região central da cidade, enquanto aguardam os clientes nos pontos, taxistas e mototaxistas reforçam que são contrários à regulamentação do Uber na cidade.
O mototaxista Emerson Dias dos Santos, 34, é totalmente contra o uso de aplicativos de caronas pagas na cidade. “Quer dizer que estou há 13 anos trabalhando na área e nunca tive ponto fixo e agora vem gente ligado ao Uber há 5 meses e já consegue alvará? Acho muito injusto”, esbraveja.
A mesma opinião tem Sidinei Diniz, 55, que trabalha há quase 18 anos como auxiliar de táxi. “Com esse decreto o prefeito deu uma martelada em nossa categoria. Estamos em desvantagem. Estou todo esse tempo trabalhando como auxiliar porque não consigo alvará. Com certeza apoiaria uma ação popular”, se revolta o taxista, falando das altas taxas que deve pagar.
O colega de profissão Carlos Roberto de Oliveira, 49, é proprietário de um táxi. Trabalha no ramo há 17 anos e diz que, para quem é “patrão”, o decreto também é desfavorável.
“Estamos sendo taxados de careiros agora. A população se virou contra nós com base nos empresários que possuem vários carros de táxi. Para esses sim, não tem diferença nenhuma, mas para quem sobrevive dessa atividade, a situação está terrível”, afirma.
No meio da polêmica, há quem ainda fica “em cima do muro” quanto à aprovação do decreto. Eronides Medeiros, 55, mais conhecido como “gaúcho”, acredita que não haverá concorrência.
“Primeiro, não tomo partido porque sou mototaxista e meu filho trabalha com o Uber. Quero que todo mundo fique bem. Eu acho que não tem concorrência com nossa categoria porque é possível criar uma clientela fixa. Quem quer conforto, não pegar chuva, pagar um pouco menos, chama Uber. Quem quer agilidade e rapidez, e não perder hora, chama mototáxi. Acho que não haverá disputa desleal”, acredita o mototaxista, que atua há mais de 20 anos nas ruas da Capital.
Regulamentação – O decreto nº 13.099 foi publicado no dia 24 de fevereiro, regulamentando a prestação de serviços como o Uber, que exploram o transporte privado e remunerado de passageiros. Entre os pontos que se tornaram obrigatórios, está o pagamento de taxas e que os motoristas sejam donos dos carros.
Outra exigência é que as OTTs (Operadoras de Tecnologia de Transporte), como é denominada o Uber e serviços semelhantes, tenham escritório em Campo Grande. Elas deverão manter cadastro conjunto de profissionais à prefeitura e renovar a licença de funcionamento anualmente, assim como os motoristas. O limite será de 490 alvarás, sendo que cada profissional poderá contar com um auxiliar.
O decreto também estabelece que cada motorista tenha licenciamento do veículo na categoria aluguel e ele seja emplacado em Campo Grande, além de que o seguro obrigatório DPVAT inclua passageiros - exceto para motorista que já tenham contratado seguro privado com cobertura igual ou superior a R$ 100 mil para morte ou invalidez de cada ocupante.