“Foi horroroso, desesperador”, diz motorista de aplicativo esfaqueada 15 vezes
Audineth Aguiar dos Santos, 44 anos, foi ferida a golpes de faca no rosto, na orelha e no ombro
Ainda se recuperando na Santa Casa de Campo Grande, Audineth Aguiar dos Santos, 44 anos, relembra dos momentos de terror que passou ao ser ferida com 15 facadas durante tentativa de roubo ocorrida na noite de sexta-feira (20). “Foi horroroso, foi desesperador”, disse. O suspeito pelo crime fugiu sem levar nada e ainda não foi localizado.
Em entrevista ao Campo Grande News, por telefone, Audineth contou que recebeu cinco bolsas de sangue, passou por cirurgia no ombro direito, levou 11 pontos no rosto e mais de 15 na orelha. “Eu tinha medo da anestesia geral, mas deu tudo certo. Só não posso encostar atrás da orelha, porque dói”, afirmou. Sem poder se mexer, ela contou com a ajuda da amiga para segurar o celular enquanto falava com a reportagem.
Segundo a vítima, motorista de aplicativo há 5 anos, em nenhum momento desconfiou do passageiro, que durante o percurso, permaneceu quieto. “A gente pega passageiros de todo tipo. Tem gente que gosta de conversar, tem gente que não gosta. Tem uns agitados, outros mais calmos. Não tem como saber. Eu não desconfiei de nada”, contou.
Ela disse que ao avisar o passageiro que havia chegado ao destino, o rapaz pediu para entrar à direita. “Ele não falou nada, não anunciou o assalto, simplesmente começou a bater no meu rosto com alguma coisa. Na hora, eu não vi a faca. Sentia algo parecido com choque. Mesmo assim, apertei a buzina e acelerei com o carro. Comecei a gritar por socorro. Ele pulou pela porta traseira e fugiu. Passei a mão no meu rosto e senti o sangue escorrendo”, relembrou.
Mesmo ferida e assustada, Audineth conseguiu dirigir por alguns metros até chegar em um espetinho, na Rua Rachel de Queiroz, no Bairro Aero Rancho, onde pediu socorro. “A Polícia Militar foi acionada e como o socorro estava demorando, eles me levaram na viatura para o CRS (Centro Regional de Saúde) do bairro.”
Devido à gravidade, a vítima foi transferida à Santa Casa, onde permanece internada recebendo atendimento médico. Ela contou que para ser levada do posto para o hospital, teve que pagar uma ambulância particular. "Os motoristas de aplicativo fizeram uma vaquinha e pagaram R$ 1.026 pelo transporte”, destacou.
Desespero - Áudios captados pelo sistema de gravação do aplicativo de transporte, usado pelos profissionais para atender as corridas, mostraram o desespero da motorista enquanto percorria as ruas dirigindo e suplicando por socorro. "Eu tô cortada, eu tô morrendo, me furou toda de faca, olha aí, olha onde eu tô. Moço, me socorre! Eu fui assaltada, ele me furou toda de faca. (...) sou Uber e tô toda furada, me ajuda a chegar até o posto", dizia a vítima. Confira, abaixo, o áudio:
A motorista acredita que a intenção do rapaz era matá-la para roubar o carro. “No desespero dele voltar, eu furei sinal vermelho, pedi ajuda para os motociclistas. Perdi muito sangue. Foi me dando uma fraqueza. Achei que ia morrer. Só estou viva por Deus”, contou nesta tarde. A paciente está sob efeito de antibióticos e ainda não tem previsão de alta. Apesar do susto, ela não pretende deixar a profissão. "Não tenho outra renda", contou.
Caso - Audineth iniciou a corrida no Jardim São Conrado, com destino final na Avenida Senador Filinto Muller, no Pioneiros. O passageiro se sentou no banco traseiro e próximo ao fim da corrida, pediu para que a motorista seguisse pela Rua da Divisão, no sentido Centro/bairro.
Quando chegou em um local deserto, o rapaz começou a golpeá-la com faca, causando perfurações profundas em seu rosto e braço direito. Na tentativa de conseguir ajuda, a vítima começou a gritar por socorro e a buzinar ainda com o carro em movimento, momento em que o assaltante pulou do carro e fugiu do local. A mulher ainda dirigiu até a Avenida Rachel de Queiroz, no Bairro Aero Rancho, onde conseguiu socorro.
Protesto - Ontem, motoristas de aplicativo fizeram manifestação em frente à Santa Casa reivindicando mais segurança aos condutores e pedindo doação de sangue para a vítima. Segundo um dos líderes da manifestação, o motorista Elvis da Silva, de 28 anos, muitos pontos precisam ser avaliados para que haja segurança para os trabalhadores que, muitas vezes, ficam expostos à criminalidade.