Galinha é o que ficou do tempo antigo, por isso vive como fora da lei na Capital
Proibidos há 12 anos, galos e galinhas mantêm memória afetiva e estão nas ruas no aniversário de Campo Grande
É saudades! O tempo não volta, mas quem viu o que era mato virar "cidade grande" até Campo Grande completar hoje 122 anos, precisa de algo para lembrar da vida e das pessoas que ficaram no “tempo antigo”.
Para muitos, e não são poucos, o que mata essa saudade são as galinhas e os galos. É por isso que eles estão por toda parte, mesmo sendo proibidos na área urbana, há 12 anos.
Nas ruas de terra ou de asfalto, nas casas de cerca ou de muro, nos bairros das sete grandes regiões da Capital, pode observar que você vai ver as últimas galinhas de Campo Grande, que resistem aos tempos modernos.
Elas sempre estavam lá, ciscando, fazendo aquele barulhinho. As galinhas do pai de uma senhora de 80 anos, em uma das casas que encontramos com os bichos, no Jardim Imá, são parte da memória afetiva, que são as lembranças boas que vêm só de ver, de ouvir, de sentir os bichos por perto.
“Sem elas, ficaria um silêncio. O silêncio é bom, mas não tanto. Gosto de ouvir o galo de madrugada. Precisa de um barulhinho para a gente viver”, justifica a moradora, que tem nove galinhas e um galo no quintal.
Os galináceos também ajudam a afastar os escorpiões, que já foram muitos por ali, por isso, vários vizinhos não abrem mão das galinhas.
Com 91 anos, o marido pernambucano, que há 50 anos mora em Campo Grande, até brinca que gosta mesmo é das galinhas na panela, mas no fim, abre o coração.
“Meu pai criava galinhas, a gente vivia na fazenda, aí isso foi acabando, tivemos que sair e aí veio essa infelicidade. Fomos criados para viver na roça. Todo mundo podia ter galinha, ter os bichos. Na cidade, vamos fazer o que?”, diz.
Em outra parte da cidade, no Taveirópolis, encontramos outro senhor que não abre mão das galinhas, mesmo já tendo pagado multa.
“Vieram aí e tive que me desfazer delas, paguei multa, mas sempre ficam umas perdidas aí e vão voltando. As galinhas valiam menos que a multa”, conta o senhor de 63 anos, que tem umas 25 galinhas, mas já chegou a ter muito mais no quintal amplo.
O motivo dele é o mesmo. “Eu gosto das galinhas, nasci e me criei em fazenda. Gosto de vê-las por perto. É difícil dar ovo, logo já saem com pintinho, mas tem que cuidar para não aumentar, sai caro criar”, conta.
Eles sabem que a lei não permite e não são contrários, só não querem ficar sem as galinhas. “É lei e tá certo, a lei não está errada, mas a gente gosta das galinhas”, diz um deles.
Todos preferem não se identificar porque sabem que estão em desacordo com a lei.
Para não serem identificados, todos aceitaram dar entrevistas sem mostrar os rostos e informar o nome.
Lei - É proibido criar galináceos, suínos, ovinos, caprinos, equinos e bovinos em área urbana, de acordo com a Prefeitura. A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) é responsável pela fiscalização.
A lei é para prevenir e controlar as zoonoses, que são doenças infecciosas transmitidas entre animais e pessoas. As galinhas podem transmitir diversas doenças. A proibição está prevista na Lei Complementar nº 148, de 2009.