HU interrompe atendimento de hemodinâmica e cirurgias cardíacas
Suspensão dos serviços aconteceu por conta da operação que investiga fraudes em licitações e superfaturamento de materiais hospitalares
O Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian interrompeu nesta segunda-feira (26) os serviços de hemodinâmica e cirurgias cardíacas por tempo indeterminado. Em ofício enviado a Prefeitura de Campo Grande, a alegação é de que a suspensão aconteceu em virtude a Operação Again, que investiga fraudes em licitações e superfaturamento de materiais hospitalares na unidade.
A decisão foi divulgada e passa a valer a partir desta segunda-feira (26). Em documento assinado pela gerente de Atenção à Saúde da unidade, Andréa de Siqueira Campos Lindenberg, a direção explica que o afastamento do médico Mércule Pedro Paulista Cavalcante, apontado pela polícia como o “cabeça” do esquema, deixou o setor de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista com apenas um profissional, o que restringiu o funcionamento da unidade.
Somado a isso, uma orientação da Justiça Federal, enviada no dia 22 de fevereiro, fez o hospital interromper o contrato com a empresa Amplimed, responsável pelo fornecimento de materiais para os serviços de hemodiálise e cirurgias cardíacas, até o fim das investigações.
“Portanto, como consequência da falta de profissionais médicos na hemodinâmica, mas, principalmente, pela restrição do uso de materiais das referidas empresas, informamos que o serviço de Hemodinâmica/ Cardiologia Intervencionista, de Cirurgia Cardíaca e de Unidade de Dor Torácica do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian serão temporariamente interrompidos”.
No documento, o hospital afirma ainda que um processo de compra de urgência para a aquisição de materiais e novas licitações, estão sendo feitos para que serviço seja restabelecido o mais breve possível.
A operação - O cardiologista Mercule Pedro Paulista Cavalcante e o empresário Pablo Augusto de Souza Figueiredo, são considerados pela PF e pela CGU (Controladoria Geral da União) os líderes de organização criminosa que fraudava licitações e superfaturava materiais hospitalares para lucrar com recursos públicos desviados. Contratos com o Hospital Universitário e Hospital Regional eram usados no esquema.
Além dos principais alvos da força-tarefa deflagrada ontem, mais seis servidores dos hospitais são investigados. Em entrevista coletiva concedida à imprensa, o delegado Marcelo Botelho, que comanda o inquérito, explicou que licitações de ambos os hospitais eram direcionadas com cláusulas restritivas para beneficiar determinadas empresas, que pagavam propina ao cardiologista e outros profissionais envolvidos.
Em alguns casos, o Mercule atuou diretamente nos processos licitatórios. As próteses, que custam cerca de R$ 800 no mercado, chegaram a ser vendidas as unidades públicas de saúde por R$ 2 mil. Os equipamentos comprados pelos hospitais públicos também eram desviados pelo profissional para uso nas clínicas particulares e até próteses vencidas eram usadas.
As empresas Amplimed Distribuidora de Produtos Hospitalares Ltda., que pertence a Pablo Figueiredo, e QL Med são investigadas. As duas tiveram contratos, firmados em 2016 e 2017, que somam R$ 12 milhões com o HU e o HR.
É investigado ainda o pagamento de viagens e veículos de luxo (com valor acima de R$ 200 mil) pela empresa de Pablo ao médico. Durante as investigações, as equipes encontraram pagamentos de viagens nacionais, com possibilidade de ser congresso médico e até uma viagem dos dois, acompanhados das famílias, para Miami.
A PF e a CGU se debruçaram sobre R$ 6 milhões em contratos e identificaram R$ 3,2 milhões em prejuízos aos cofres públicos.