Imigrantes dizem que adoeceram e passaram fome e sede até chegar a Campo Grande
Maior parte do trajeto até o Brasil foi caminhando e venezuelanos dizem que chegam a dormir com os filhos
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Chegada de grupo de venezuelanos refugiados ao Cedami (Centro de Apoio aos Migrantes), no último domingo (29), foi marcada por uma trajetória de fome, sede, saúde debilitada e descanso ao relento. Os motivos citados pelas famílias a deixar o País de origem e enfrentar o caminho difícil até o Brasil são os mesmo: fugir da pobreza e desemprego e buscar melhores condições para criar os filhos.
Erika Torrealba, 51 anos, chegou em Campo Grande neste final de semana com o marido de 74 anos e o filho de 3 anos. Eles entraram no país pela cidade de Porto Velho, no Estado de Rondônia, onde ficaram até conseguir transporte para a capital sul-mato-grossense.
O casal tem mais dois filhos adultos, que ficaram para trás porque não conseguiram transporte. A filha mais velha deve chegar ainda hoje, com o marido e os três filhos.
Ela conta que chegaram no Brasil caminhando e pegando carona. Durante o trajeto, relata que a família passou fome e sede e chegou a dormir no relento.
Nós passamos fome, a gente pedia comida e não davam comida, a gente pedia água e não davam água, a gente dormia na chuva, as crianças passavam mal, ficavam com febre, e não encontrávamos ajuda. Tínhamos que tomar água da rua, eu cheguei a ficar com diarreia”, relata Erika.
O destino do casal era a capital do Estado de São Paulo, mas decidiram ficar em Campo Grande. “Agora nós queremos emprego e estamos pensando nos estudos da criança. Queríamos seguir avançando, mas não queremos continuar passando necessidade”, explica.
Yamitza Gonzalez, 53 anos, e o marido de 45 anos passaram oito dias em Porto Velho, até conseguir transporte para a capital sul-mato-grossense.
A imigrante conta que a maior parte do trajeto da Venezuela até o Brasil foi feito a pé e chegou a passar quatro dias dormindo na ferroviária de Porto Velho, até conseguir a carona.
Ela também se separou dos filhos, pois não conseguiram transporte para todos. Segundo relato da imigrante, ela passou dois dias inteiros caminhando e ficou com calos de tanto caminhar, e até machucou a ponta do dedão após bater numa pedra. Ela e o marido conseguiram carona para Campo Grande com um brasileiro que estava de viagem.
O que me dava força eram esses meninos [os filhos], eles só não morreram porque foram fortes, eles mereciam um Oscar por tudo que passaram. Eu caminhei com dengue depois de ter saído do hospital, debaixo do sol e quando se está com dengue nem pode ficar no sol, eles eram a força para chegarmos até aqui”, relata Yamitza.
José Rafael, 33 anos, chegou junto com a esposa, de 31 anos, e os quatro filhos. Eles seguiram viagem caminhando e pegando carona nas rodovias, até chegar ao Brasil por Corumbá, distante 428 quilômetros de Campo Grande. A família chegou à Capital após conseguir carona com um carreteiro.
O imigrante relata que já morou em Campo Grande em 2013 e voltou para buscar o restante da família. Ele diz que o trajeto não foi “nada fácil”, mas que veio destinado a ficar na Capital, por já conhecer a cidade e considerar ela um bom local para imigrar.
Aqui o tratamento é por igual, somos todos seres humanos. Na Bolívia, quando a gente passa por lá, já mandam a gente voltar para o nosso país. Aqui tem menos homofobia, racismo”, diz.
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No último final de semana, o Cedami (Centro de Apoio aos Migrantes) acolheu 36 venezuelanos refugiados que chegaram a Campo Grande, entre eles 14 crianças e 12 adultos, apresentando sinais de desnutrição.
A administração do Cedami continua recebendo doações de roupas, materiais de higiene pessoal e alimentos, incluindo itens perecíveis como frutas, verduras e legumes.
As doações podem ser entregues direto no Cedami, localizado na Rua Visconde de Taunay, 96 no Bairro Amambai, em Campo Grande, mas o centro também possui o serviço de busca de doações, que pode ser solicitado através do número (67) 3325-7819.
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