Jovem vítima de erro médico está há quatro meses com auxílio suspenso
Segundo a mãe, Justiça Federal bloqueou o benefício porque a família comprou pão, bolacha e crédito para celular
A Justiça Federal suspendeu o auxílio de R$ 3,7 mil que Rita Stefanny de Oliveira Ribeiro, de 20 anos, vítima de erro médico em janeiro do ano passado, recebia para compra de alimentos e medicamentos. Ritinha estava recebendo a indenização desde o segundo semestre do ano passado, e teve o benefício bloqueado no mês de dezembro.
Segundo a mãe, Inacélia de Oliveira o auxílio mensal foi suspenso depois que ela prestou contas a Justiça sobre o que tinha gasto. Na prestação de contas consta a compra de pão, bolacha e crédito para celular. Segundo a mãe o juiz alega que a filha Ritinha não precisa desses itens.
“Ele falou que ela não anda de moto, não come pão e não usa celular. A partir daí foi suspenso o auxílio”, conta Inacélia.
A mãe justifica que essas compras não foram com o dinheiro do auxílio, mas na hora da prestação de contas, juntou os recibos.
“Agora estamos sem o benefício para comprar a quantidade de alimentos que ela precisa, custear remédios, médicos e a fisioterapia”, explica.
Inacélia está há quatro meses sem o benefício até justificar a Justiça. Ela questiona se o juiz não poderia liberar o auxílio.
“Será que esse juiz não pode descontar esses valores e liberar o restante? A menina não é de nenhuma autoridade. Ela é minha filha e foi o Estado que causou isso”, ressalta.
Ritinha está se alimentando com a ajuda dos vizinhos. A mãe conta que quando os moradores próximos cozinham trazem sopa ou caldo para a jovem.
“Ela precisa de dois litros da dieta líquida. Só uma caixinha custa R$ 23 reais. A gente poupa a dieta para não ficar sem”.
Necessidades - A família está se mantendo com ajuda de familiares e amigos. O pai de Ritinha está desempregado há dois meses, e a mãe deixou de trabalhar desde o incidente com a jovem. A mãe e a irmã de 12 anos estão fazendo cachecóis de lã para vender e assim conseguir comprar a dieta de Ritinha.
“A gente se vira como dá. A minha outra filha vende e fala que vai fazer mais para ajudar a maninha”, conta.
Inacélia diz estar perdendo a paciência diante da situação. Quando a família pensou que o pior já havia passado, a confusão do bloqueio do auxílio chegou. Segundo os familiares, agora que Ritinha está tendo um começo de melhora, não pode parar com as sessões de fisioterapia.
“Estamos desde janeiro com apenas uma sessão de fisioterapia por dia. Isso porque a profissional está vindo de coração. Ela atende sem receber nada, porque não quer parar agora o tratamento”, fala.
De acordo com a família o ideal era a menina fazer três sessões de fisioterapia por dia e três de fonoaudiologia por semana. A fonoaudióloga também não interrompeu o atendimento.
“São coisas que a minha filha não pode ficar sem. Se não tem como fazer a fisioterapia não evolui. Se não tem alimentação correta não vai melhorar”, destaca.
“Está muito difícil, eu falo pra você. A sociedade inteira estava achando que a Rita estava longe fazendo tratamento fora. Eu queria poupar ao máximo a imagem dela, mas chegou a um ponto que não dá mais”, desabafa a mãe.
Gastos – Além da dieta que a jovem precisa seguir, os procedimentos médicos têm pesado no bolso da família. A mãe conta que Ritinha trocou de sonda e a família precisou optar não pela ideal, mas pela mais em conta, por causa do preço.
“Cada consulta médica é um gasto. Vão pelo menos R$ 250 reais, a troca da sonda foi quase R$ 200 reais. Nós fizemos um mutirão para fazer o procedimento da retirada do cateter”, diz.
Segundo Inacélia a menina também precisa trocar o colchão de água que rompeu.
“Como ela fica numa posição só a minha vida é o tempo todo ali. Só Deus sabe como eu estou por dentro. Depois que saiu na mídia a ‘pensão’ que na verdade era só um auxílio, as pessoas deixaram de ajudar. E a realidade é outra, desde janeiro que não recebemos. E olha o mês que estamos”, completa.
Caso – A jovem Rita Steffany de Oliveira deu entrada no dia 26 de janeiro de 2010 no Hospital Universitário de Campo Grande, para intervenção simples, de retirada de pedras dos rins, mas três meses depois saiu sem movimentos, depois de suposta infecção hospitalar.
O caso foi comunicado ao MPF pela Associação de Vítimas de Erros Médicos, e foi investigado pelo órgão federal porque o hospital em questão é o Universitário, ligado a Universidade Federal. Ainda não é possível afirmar se o estado de Rita é irreversível.