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Capital

Juiz reconhece legítima defesa e absolve jovem de confusão envolvendo PM

Francisco Pereira dos Santos Neto acabou baleado pelo policial e foi preso por porte ilegal de arma de fogo

Por Bruna Marques e Ana Paula Chuva | 12/11/2024 10:27


RESUMO

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Francisco Pereira dos Santos Neto foi absolvido da acusação de porte ilegal de arma de fogo após o juiz reconhecer que ele agiu em legítima defesa ao atirar em um policial militar, Fábio José Gomes de Castro, que também agiu em legítima defesa durante um confronto em uma tabacaria em Campo Grande. O caso aconteceu em setembro de 2022, quando Francisco foi baleado após uma briga com os seguranças do estabelecimento, tendo pegado a arma de um dos seguranças e fugido. O juiz entendeu que a posse da arma por Francisco foi justificada pela necessidade de repelir a agressão dos seguranças e o policial foi transferido do Batalhão de Choque para o Batalhão de Guarda e Escoltas após o incidente.

O juiz Márcio Alexandre Wust absolveu Francisco Pereira dos Santos Neto, 26 anos, jovem que acabou belado pelo soldado da Polícia Militar Fábio José Gomes de Castro. O magistrado reconheceu que o réu “agiu em legítima defesa”, após ele pegar revólver que caiu no chão durante confusão em frente a uma tabacaria na Avenida Ernesto Geisel, Bairro Amambai, em Campo Grande, na madrugada do dia 11 de setembro de 2022.

Na sentença assinada na semana passada, o juiz entendeu e expôs que “ante o exposto, hei por bem em julgar improcedente a pretensão punitiva estatal, para o fim de absolver o acusado Francisco Pereira dos Santos Neto, da imputação da prática da conduta tipificada no artigo 14 da Lei 10.826, posto que provada a legítima defesa (CPP, art. 386,VI)”.

A defesa de Francisco foi feita pelas advogadas Herika Cristina dos Santos Ratto e Elen Cristina Magro que entraram com o pedido de absolvição, pois acreditaram que o rapaz estava amparado pela legitima defesa.

“A posse da arma de fogo foi necessária a repelir a injusta agressão, e, a fuga com a arma, também, foi necessária a repelir a injusta agressão dos seguranças. Não era exigível que ele tivesse outra conduta”, disse Herika ao Campo Grande News. 

Conforme apurado pela reportagem, o inquérito em nome do soldado da Polícia Militar, Fábio José Gomes de Castro, foi arquivado porque houve o entendimento de que ele também agiu em legítima defesa.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Militar por e-mail e mensagem no Whatsapp, para saber como fica a situação do soldado, que na época dos fatos foi transferido do Batalhão de Choque para o BPMGdaE (Batalhão de Guarda e Escoltas), mas até a publicação da matéria não obteve resposta. O espaço segue aberto para posicionamento.

Sangue do jovem atingido pelos disparos feitos pelo soldado da Polícia Militar. (Foto: Paulo Francis | Arquivo)
Sangue do jovem atingido pelos disparos feitos pelo soldado da Polícia Militar. (Foto: Paulo Francis | Arquivo)

O caso - Francisco foi baleado após uma confusão na tabacaria que fica na Avenida Ernesto Geisel. Conforme o boletim de ocorrência, o rapaz foi atingido nas nádegas e socorrido pelo Corpo de Bombeiros para a Santa Casa da Capital.

Conforme o pai da vítima, de 47 anos, que não quis se identificar e conversou com a imprensa na época dos fatos, o filho comemorava o aniversário na tabacaria com cerca de dez amigos, quando se desentendeu com uma mulher dentro do estabelecimento. Durante a confusão, o rapaz foi colocado para fora e agredido pelos seguranças.

Ainda segundo relatos do pai, ao tentar se defender das agressões, o filho reagiu e a arma do segurança caiu. Neste momento, o rapaz pegou a arma e tentou disparar, mas não conseguiu. Desesperado com a situação, ele correu e foi em direção a sua caminhonete Toyota Hilux, estacionada na rua, próximo ao local. O segurança foi atrás e disparou várias vezes contra o rapaz, que já estava dentro da caminhonete, conforme o pai.

Mesmo ferido, ele conseguiu dirigir até a Rua Brilhante onde foi socorrido. No veículo foram encontradas sete marcas de tiro. Já a versão do registro policial é de que policiais militares faziam rondas pela região, quando foram interceptados por testemunhas relatando que havia acabado de acontecer um tiroteio e um dos envolvidos estava em uma Toyota Hilux branca.

A equipe fez buscas na região e encontrou o veículo que seguia pela via em direção oposta. Os policiais fizeram a abordagem e encontraram o rapaz ferido, sangrando. Na porta do veículo, havia um revólver calibre 38, com numeração raspada, com cinco projéteis deflagrados.

Consciente, ele confessou que a arma era sua. Ele foi socorrido e dentro da caminhonete ainda foram apreendidos quatro telefones celulares, uma garrafa de whisky vazia e duas de energético. Francisco acabou preso por porte ilegal de arma. Para a equipe de reportagem, um dos amigos da vítima, que estava junto com ele na tabacaria, confirmou que os tiros foram disparados por um dos seguranças.

Francisco em uma das fotos postadas nas redes sociais. (Foto: Facebook)
Francisco em uma das fotos postadas nas redes sociais. (Foto: Facebook)

Transferência - O soldado Fábio José foi transferido para o BPMGdaE (Batalhão de Guarda e Escoltas), dois dias depois do ocorrido. A transferência assinada pelo subcomandante-geral da Polícia Militar, Renato dos Anjos Garnes, foi publicada no Diário Oficial do Estado no dia 14 de setembro, com efeito retroativo para o dia anterior. Inicialmente ele seria transferido para a 11ª Companhia Independente da PM no Bairro Coophasul, mas a designação final foi corrigida. O militar estava lotado no Batalhão de Choque em Campo Grande desde o dia 21 de junho de 2022.

Somente no dia 16, dois dias após a publicação da transferência, o militar se apresentou à 1ª DP (Delegacia de Polícia), juntamente com um advogado, para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido. Em depoimento, Fábio José negou que era segurança da tabacaria e que foi ao local como cliente, para se divertir e, na saída, viu um homem apontando uma arma de fogo para Francisco.

Ainda segundo o militar, vendo a situação, se identificou como policial e desarmou a pessoa, momento em que a arma caiu no chão. Em seguida, o policial afirma que Francisco pegou a arma do chão e começou a atirar contra ele, que revidou. O PM revelou que estava com a arma da corporação, que foi entregue no dia seguinte aos fatos para a Corregedoria da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. A versão apresentada pelo PM será confrontada com as imagens de câmeras de segurança obtidas sobre o dia dos fatos.

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