Lixo se espalha pela cidade e aumenta temor de epidemia de dengue
O lixo que se espalha por Campo Grande e a proximidade da temporada de chuvas aumentam o temor de dengue, que já contabiliza 5.933 casos notificados e duas mortes em 2015. Na rua Ana Luíza Spengler, no bairro Ana Maria do Couto, Ednaldo Alves da Silva, 42 anos, enfrenta os percalços de trabalhar a poucos metros de um terreno baldio, promessa de um novo lixão.
Os resíduos incluem entulhos, sofás, arranjos, pneus, animal morto, tênis e vaso sanitário. Ontem, Ednaldo, que é auxiliar de obra, teve que enterrar um pedaço de carne apodrecida, jogado no local, para conseguir trabalhar.
Ele conta que já teve dengue no passado e teme que o lixo vire criadouro do mosquito aedes aegypti, transmissor da doença. “Graça a Deus ninguém pegou”, diz, ao comentar o risco ao qual ele e os colegas ficam expostos.
No bairro, a notícia da nova greve na coleta de lixo tira o sossego da cuidadora de idosos e acadêmica Arlete da Silva, 56 anos. “Tá feia a coisa. O lixo atrai muitos insetos”, reclama. Ela já se prepara para reforçar os sacos de lixo, enquanto a coleta não vem, e congelar restos de carne para que o mau cheiro não se espalhe.
Morando próximo a terreno baldio, Emerson Souza, 49 anos, conta que tenta dialogar com os “carroceiros” e motoristas que param veículos para jogar o lixo. “São muito mal educado. Só não chamam você de santo”, diz. Ou seja, além do odor fétido, tem que ouvir impropérios.
“No Japão, isso dá multa. Falta conscientização da população”, diz Emerson, que passa uma temporada na cidade e deve voltar ao Japão em janeiro.
De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), o mês com mais notificações foi abril, com 2.087 registros. Em setembro, foram 218. Agosto foi o mês com menor numero de casos notificados: 198.
Em todo o Estado, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) registrou 30.681 notificações de janeiro a 7 de outubro. São 12 mortes confirmadas: Campo Grande (2), Dourados (3), Sonora (2), Corumbá, Juti, Paranhos, Três Lagoas e Maracaju. Um óbito em Itaporã é investigado pela secretaria.
Segundo o médico infectologista e coordenador da Fiocruz no Estado, Rivaldo Venâncio da Cunha, as próximas semanas devem revelar se o cenário é favorável à epidemia de dengue no Verão 2015/2016. Em 2013, foram 102.026 notificações da doença em Mato Grosso do Sul.