Lojistas temem prejuízos e cobram continuidade do Cidade Limpa
Comerciantes investiram na adequação das fachadas das lojas ao programa Reviva Centro, como é conhecida a versão Cidade Limpa campo-grandense, mas temem que o projeto não tenha continuidade com o atual prefeito Alcides Bernal (PP). A Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) já pediu a continuidade do projeto e cobrou as intervenções que cabem ao poder público, como a retirada das fiações e a revitalização das vias centrais.
Elaborado na gestão do ex-prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad (PMDB), o projeto Reviva o Centro, que visa deixar a região central da cidade livre da poluição visual por meio da padronização de fachadas e publicidade, ainda não saiu oficialmente do papel. A mudança faz parte da Lei Complementar 161 de 20 de junho de 2010 que prioriza a revitalização do Centro onde também foram inclusas as reformas da Orla, Estação Ferroviária e Praça Ary Coelho.
Para dar celeridade à efetivação do projeto, o presidente da Associação Comercial, Omar Aukar, se reuniu com o prefeito no início deste mês. Na ocasião, o progressista não deu posicionamento e pediu que as solicitações da associação fossem colocadas em uma pauta de reivindicações e, posteriormente, entregue a ele.
Omar disse que, já no início de agosto, o documento será enviado a Bernal e esclareceu que muitos comerciantes têm lhe procurado para reclamar que fizeram o que a lei determina sem respaldo algum do poder público. “Tem muita gente que jogou fora plano de mídia que custou caro, todo o investimento foi para o lixo. A parte privada já cumpriu o que foi determinado, agora falta o poder público cumprir”, disse.
Conforme o presidente, entre as modificações de responsabilidade da prefeitura está a modulação das calçadas, projeto de paisagismo para o Centro e fiação elétrica subterrânea, mas a insegurança é ainda maior por conta da descontinuidade de governo. “Trocou o prefeito e a gente está literalmente sem saber o que será feito”, esclareceu.
A mesma preocupação paira sobre o gerente administrativo das conveniências Alemão e Salvador, ambas localizadas na Avenida Calógeras, Diego Bruschi. Ele conta que somando o gasto para adaptação das duas lojas a despesa foi de aproximadamente R$ 15 mil.
“O Salvador foi em 2011 e o Alemão no final do ano passado. Fomos notificados e fizemos as adaptações necessárias. Substituímos os grandes painéis por menores, retiramos os luminosos, tudo padronizado. Hoje as duas lojas estão adequadas”, contou. O gerente entende que com a diminuição na poluição visual a área central fica mais bonita, porém faz uma observação importante.
“Não sei se para os menores é tão viável porque não sabemos quando o projeto será finalizado”. Este é o caso da sócia proprietária do grupo Arcy, Noemy Menezes, que foi notificada pelo Executivo por ainda não ter disponibilizado toda a documentação provando que se adequou ao Reviva o Centro. Ela é dona de um salão de beleza e uma loja de roupas que ficam lado a lado na Travessa Lídia Baís e gastou pouco mais de R$ 2 mil para modificar a fachada do comércio.
“Eu parcelei para não ficar pesado e está tudo ok, só falta um leiaute do rapaz que fez os novos painéis para eu levar os documentos completos lá na prefeitura. Me notificaram, tenho 15 dias para fazer isso”. No início Noemy, que está no local há mais de 13 anos, não gostou muito da ideia, mas depois de ver as adequações gostou do novo aspecto da empresa. “Fica mais limpo mesmo, mais bonito. Antes era legal, mas tínhamos duas placas enormes lá fora, realmente chamava muita atenção”, admitiu.
Ao passar pelo Centro da Capital a equipe de reportagem do Campo Grande News teve dificuldade em achar lojas que ainda estão com fachadas fora da lei. No entanto, algumas retiraram as placas de publicidade, mas permanecem sem colocar painéis algum, fato que também está contra a determinação.
Segundo assessoria de imprensa da Prefeitura, este é outro ponto que impede a continuidade do projeto. Para sanar o problema, o Executivo está notificando todos os lojistas que não fizeram as adaptações e estipulou prazos individuais, ou seja, uma data para cada comerciante, pois “cada caso é um caso”.
Insegurança – É impossível passar pela Pedro Celestino, antes de chegar à Praça do Rádio, e não enxergar duas placas enormes anunciando serviços prestados pelo escritório do advogado Edson José da Silva. Ele garante que nunca recebeu notificação por conta da fachada, mas ressalta que se tivesse recebido, não iria atendê-la.
“A lei sempre deixa lacunas e eu não vou tirar as placas. Vou apresentar minha defesa e se mesmo assim não aceitarem, vou colocá-las do lado de dentro do escritório, bem nas janelas de vidro e pronto”, disse. Tamanha resistência vem exatamente do fato de muitos comerciantes terem cumprido a lei, sem ter o retorno de benefício algum.
Na opinião do advogado a prefeitura já poderia ter começado a revitalizar o Centro com o resultado prévio que obteve do Reviva o Centro. “Olha, seria diferente se a administração passada estivesse ainda porque sabíamos que eram pessoas sérias. Agora não se sabe se vão continuar com o projeto, político é assim um faz e outro vem e não dá continuidade. Então eu não vou mudar minha fachada”, finalizou.