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Mãe obrigou adolescente a tomar medicamentos para abortar, diz polícia

Segundo delegada, consultora de vendas era contrária à gravidez da filha e orquestrou com comparsas plano que levou ao encontro de feto no quintal da casa da família; Investigação continua

Viviane Oliveira e Rafael Ribeiro | 16/05/2017 12:34
Ferramentas apreendidas e que podem ter sido usadas para cavar a cova onde feto estava (Foto: Marina Pacheco)
Ferramentas apreendidas e que podem ter sido usadas para cavar a cova onde feto estava (Foto: Marina Pacheco)

A Polícia Civil de Campo Grande concluiu que a mãe da adolescente de 17 anos que abortou um feto de cinco meses em março, no bairro Guanandi, região sul da Capital, foi a mentora do crime e obrigou a própria filha a tomar grandes doses de medicamentos abortivos.

A versão foi explicada na manhã desta terça-feira (16) pela delegada Aline Sinnott, titular da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude), responsável pela investigação do caso e condução da operação onde a acusada, uma consultora de vendas, de 37 anos, e outras duas pessoas, um pedreiro, de 39, e uma enfermeira, de 38, foram presos nesta manhã. Nenhum dos detidos teve o nome revelado.

Segundo a polícia, a mãe obrigou a adolescente a consumir oito comprimidos de Cytotec, medicamento com efeito abortivo cuja venda e distribuição são proibidos no Brasil, na noite do dia 13 daquele mês, cinco dias após ficar sabendo da gravidez.


“A adolescente ficou extremamente debilitada. A primeira dosagem (no dia 13), com quatro comprimidos não deu certo e ela repetiu no dia seguinte”, disse a delegada Aline.

Caso – Conforme o Campo Grande News já noticiou na época, o crime foi denunciado pelo ex-namorado da adolescente, de 27 anos. Na ocasião ele entregou áudios de conversas por celular com a mãe se posicionando contra a gravidez.

“Nós chegamos (na casa da família) e a cova nos fundos do imóvel tinha acabado de ser feita”, completou a delegada. Segundo ela, apesar da jovem ter confessado na ocasião o aborto após dizer que ficou dois dias sem comer tomando chá de buchinha (uma erva natural da Região Norte do Brasil), haviam indícios fortes da história ser falsa: a bebida é ineficaz como abortivo com um feto já em idade avançada e, debilitada, a adolescente não conseguiria cavar uma cova der 1,20 metros de profundidade sozinha, sem ficar com seqüelas.

“A menina não queria (o aborto). Ela enterrou o corpo com muito zelo, rosas e um terço, meio que fez um velório”, disse Aline.

Investigação – Segundo a polícia, a investigação mostrou que a mãe e o pedreiro, que estavam na residência no momento que os investigadores chegaram, enterraram o feto. Pás e outras ferramentas foram apreendidas na casa do acusado, amigo da consultora de vendas.

Foto do dia do crime foi apresentada pela polícia em coletiva desta terça-feira (Foto: Marina Pacheco)
Foto do dia do crime foi apresentada pela polícia em coletiva desta terça-feira (Foto: Marina Pacheco)

Os celulares dos dois também foram apreendidos. E deve provar a acusação da polícia de que ambos conseguiram os comprimidos com a enfermeira, que teria facilidade com fornecedores e cujo local de trabalho não foi revelado.

Segundo a polícia, a mãe era brigada com a terceira acusada de participação e pediu para o pedreiro mentir e dizer que o medicamento abortivo era na verdade para familiares seus.

Na acusação formal feita pela polícia nesta manhã, a mãe é quem mais foi indiciada por crimes, quatro deles: aborto sem consentimento, ocultação de cadáver, corrupção de menores e associação criminosa.

Caso condenada, ela pode pegar mais de 20 anos de prisão. No seu depoimento, no entanto, negou a versão da polícia e as acusações.

O pedreiro responderá por ocultação de cadáver, participação em aborto e tráfico de drogas, pelos comprimidos proibidos. Essa última acusação é a mesma pela qual a enfermeira será indiciada.

Por enquanto, a adolescente segue sem ser acusada formalmente de nenhum crime. Na avaliação da polícia, ela é vítima. Abalada com os fatos ocorridos nesta manhã, foi levada por investigadores à casa do pai, em lugar não revelado de Campo Grande.

Segundo a delegada Aline, a polícia agora trabalha na elucidação de mais dois participantes do crime. O quarto acusado será o namorado da mãe, que será indiciado por falso testemunho. Na investigação do caso, ele mentiu aos investigadores dizendo que passou a noite do aborto junto da acusada.

O último envolvido a ser investigado é o fornecedor do remédio abortivo à enfermeira, caso que será investigado por outra delegacia, em outro inquérito.

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