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Capital

"Maníaco do Segredo" que atacou casais por uma década é acusado de latrocínio

João Leonel é apontado pela investigação como criminoso em série, com 7 ataques registrados e uma suspeita

Marta Ferreira | 08/05/2020 06:35
Preso em agosto de 2016, após ataque a casal na região da Mata do Segredo, João Leonel da Silva agora é acusado de roubo seguido de morte. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Preso em agosto de 2016, após ataque a casal na região da Mata do Segredo, João Leonel da Silva agora é acusado de roubo seguido de morte. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

João Leonel da Silva é um homem de 40 anos, segregado da sociedade na ala dos “jacks”, como são chamados nas prisões os criminosos sexuais, no IPCG (Intituto Penal de Campo Grande). Tem penas a cumprir até 2032, por condenações que vão de estupro a tentativa de latrocínio. E deve ficar por muito mais tempo encarcerado, se depender de acusação por roubo seguido de morte à qual está respondendo, em inquérito policial relatado ao Judiciário nesta semana.

O documento elaborado pela DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio) atribui a ele, de forma taxativa, a característica de criminoso em série, especialista em atacar casais parados em veículos para namorar. Conforme a reportagem levantou, trata-se de maníaco sexual meticuloso, que agiu anos a fio no entorno da Mata do Segredo, na região norte de Campo Grande.  Entre a primeira desconfiança e o último crime, foram quase 11 anos, com prisões registradas desde 2009.

São sete ataques registrados em boletim de ocorrência e uma suspeita, investigada e arquivada sem apontar culpado pelo desaparecimento de casal de adolescentes.

As imagens descritas são de pavor: armado de revólver, o "Maníaco do Segredo" ameaçava as vítimas, as roubava, estuprava as mulheres, obrigava o casal a fazer sexo, se masturbava observando a cena. Às vezes parecia estar filmando com o celular. Costumava amarrar os namorados e fazer as namoradas andarem pelo mato, por vezes ajoelhadas, sem olhar para ele.

Criminoso "organizado" - Sempre teve a preocupação de não deixar vestígios, mostra o trabalho policial. Para não ser reconhecido, o rosto ficava coberto, com a própria camiseta, além de estar com roupas escuras e largas.  A voz mudava de entonação. Outro “procedimento” era sair de casa com luvas, conforme admitiu a companheira dele em depoimento à polícia. Também lavava tudo e, até, jogava roupas fora.

Agia no entorno da casa onde vivia, no Bairro Nova Lima, sempre a pé. Não sabia dirigir automóveis, por isso nunca levou os carros de quem vitimizava. Ficava com dinheiro e celulares, principalmente, mas nem sempre. Houve casos em que nada foi levado.

Depois de episódio em agosto de 2016 quando João Leonel foi preso, não houve mais registro de crimes.

Caixão com o corpo de Diego Sá Barreto, assassinado a tiros em 2016, na Rua Marques de Herval, no Bairro Nova Lima. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Caixão com o corpo de Diego Sá Barreto, assassinado a tiros em 2016, na Rua Marques de Herval, no Bairro Nova Lima. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Latrocínio - No caso com apuração concluída agora pela DEH, o “Maníaco do Segredo” matou a tiros Diego de Sá Barreto, 28 anos, na noite de 30 de janeiro para 1º de fevereiro de 2016. A vítima estava no carro dela, com uma mulher, na Marques de Herval,  uma das principais vias do Nova Lima, onde há trecho antigamente conhecido como de desova de corpos.

De arma em punho, o maníaco obrigou o casal a fazer sexo oral enquanto olhava, conforme relatado.

A mulher conseguiu escapar. Enquanto corria, ouviu os disparos de arma de fogo. Diego foi atingido no peito e na cabeça. A sobrevivente pediu socorro, só de camiseta e calcinha, e a polícia foi acionada. A mulher foi embora de Mato Grosso do Sul, mas sua versão dada à época ajudou a reconstruir os passos de João Leonel.

Inicialmente, a hipótese levantada foi de crime passional, impressão que foi mudando com a chegada de novas provas, entre elas o levantamento feito pela investigadora Wanuza Alves Macedo. A policial apontou muitas semelhanças entre situações criminosas ocorridas nas rendondezas, e que tinham o "Maníaco do Segredo" como personagem.

Depois desse episódio, ele voltou a ser preso, em agosto de 2016, por obrigar um casal a ter relações, também em lugar ermo próximo à Mata do Segredo, na Rua Zulmira Borba, nos fundos de frigorífico abandonado.

Parou - Desde então, nenhum boletim de ocorrência com fatos semelhantes surgiu. Para dois delegados de Polícia Civil responsáveis por investigar as ações do assaltante e estuprador, isso evidencia que era ele o criminoso em série.

A delegada Fernanda Félix, hoje titular da Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), trabalhou em casos de estupro resultantes na condenação de João Leonel. Ela se recorda dele como um homem calado, que nunca confessou os crimes, nem demonstrou emoções. "Extremamente frio", define. A dinâmica dos ataques, cita, comprovava ser a mesma pessoa atuando.

Os inquéritos da Deam levaram à punição do detento por três violências sexuais, conforme apurado. “Ele dificultava a identificação pelas vítimas, mas uma delas o reconheceu”, cita a autoridade policial. Há uma quarta acusação em fase processual.

Mapa mostra a data e a localização de 7 ataques atribuídos a "Maníaco do Segredo" registrados oficialmente, todos próximos da casa dele. (Arte: Ricardo Oliveira)
Mapa mostra a data e a localização de 7 ataques atribuídos a "Maníaco do Segredo" registrados oficialmente, todos próximos da casa dele. (Arte: Ricardo Oliveira)

A relação entre os casos - Conforme o relatório de inquérito produzido pela DEH sobre a morte de Diego de Sá Barreto, o “Maníaco do Segredo” foi responsável por pelo menos sete ataques a casais de namorados no período de novembro de 2011 a agosto de 2016. O dado considera boletins nos quais aparece oficialmente como autor. (Confira no mapa acima)

A sequência dos sete boletins policiais com João Leonel como indicado pelos crimes revelam mudança de comportamento, com menor espaçamento entre episódios nos quais ele foi flagrado e ainda agravamento da violência, até chegar ao assassinato, como destaca o delegado Carlos Delano.

O policial é responsável pela peça investigatória em fase de encerramento. Também atuou em procedimento da Derf (Delegacia Especializada de Repressão a Furtos e Roubos), o qual obteve a condenação do infrator por tentativa de roubo majorado. Nesses autos, igualmente era um casal, o rapaz foi baleado, ficou em coma por cinco dias, internado por 4 meses. A mulher foi estuprada. Ela reconheceu João Leonel, na investigação tocada pela Deam.

Crime insolúvel? O oitavo caso cuja suspeita recai sobre o criminoso é o desaparecimento dos adolescentes Wellington e Naiara, ocorrido em 2009, e ainda um mistério. Ele tinha 14 anos e ela 17.  A última vez que foram vistos, estavam em um ponto de ônibus.

João Leonel chegou a ficar preso temporariamente por envolvimento no caso, segundo consta em peças processuais, depois de o aparelho celular dos dois jovens ser localizado enterrado no quintal da casa dele.

Naiara e Wellinton sumiram em 2009, sem deixar sinais. (Montagem: Arquivo/Campo Grande News)
Naiara e Wellinton sumiram em 2009, sem deixar sinais. (Montagem: Arquivo/Campo Grande News)

Não houve provas suficientes para acusá-lo e a investigação foi arquivada. Em 2016, quando o “Maníaco do Segredo” foi preso pela Derf, a família dos jovens teve esperança em um desfecho. Ele não veio. A investigação era tocada à época pela Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), mas não chegou a provas suficientes para acusar João Leonel.

Essa apuração está parada, segundo identificado pela reportagem. Ainda pode ser retomada, se novos elementos forem encontrados.  Ou se vier uma confissão.

O que o “Maníaco do Segredo”  fez sem ser relatado à polícia pode ficar para sempre escondido, até porque parte das vítimas têm vergonha da situação e não denunciam. Esses casos ocultos podem sair do anonimato se outras pessoas reconhecerem João Leonel como autor de crimes e procurarem a polícia.

Denúncias podem ser feitas pelo WhatsApp da DEH, no número 67 3318-9016.

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