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Capital

Manifestação por índios de MS saiu da internet e foi para as ruas no País

Viviane Oliveira | 09/11/2012 20:58
Para Silmara, o manifesto é uma forma de despertar o interesse da causa indígena nas pessoas. (Foto: Simão Nogueira)
Para Silmara, o manifesto é uma forma de despertar o interesse da causa indígena nas pessoas. (Foto: Simão Nogueira)
Basílio Jorge da aldeia Alagoinha, em Sidrolândia. (Foto: Simão Nogueira)
Basílio Jorge da aldeia Alagoinha, em Sidrolândia. (Foto: Simão Nogueira)

A carta em que os Guarani-Kaiowá anunciam que vão resistir até a morte caso sejam obrigados a sair de uma fazenda ocupada em Iguatemi foi lida no final desta sexta-feira (9) durante o ato nacional pacífico ‘Não ao genocídio Guarani-Kaiowá, pelos povos indígenas do Mato Grosso do Sul’, na Praça Ary Coelho, em Campo Grande.

Além da carta, foram lidas reivindicações como a demarcação das terras indígenas. Com faixas e cartazes, centenas de manifestantes deram a volta em torno da praça e foram até o cruzamento da 14 de julho, com a avenida Afonso Pena e 13 de maio.

O protesto acontece simultaneamente em todo País. A manifestação na Capital foi feita pelo Coletivo Terra Vermelha, grupo de discussão, organização e estudo criado na internet conta atualmente com 2,4 mil membros.

De acordo com o cacique terena da aldeia indígena Alagoinha de Sidrolândia, Basílio Jorge, 63 anos, a manifestação é um momento importante para fortalecer a importância do povo indígena vítima de vários tipos de ataques. “Ainda temos parceiros não índios nesta luta”, disse.

Compartilha da mesma opinião o secretário estadual das causas indígenas pelo PSL (Partido Social do Liberal), Arildo Soares. “Fomos pegos de surpresa, porém viemos fortalecer ainda mais o evento”, destaca, acrescentando que ficou sabendo da manifestação pela internet.

“Ferramenta que tem ajudado a comunidade indígena a se informar, adquirir conhecimento para se organizar”, disse Josimar, Presidente da Associação de Produtores da aldeia Alagoinha.

Para a terena, Silmara Cândida, o ato é importante para toda a comunidade indígena independente de etnia. “O manifesto é uma forma de despertar o interesse e colher assinaturas a favor do povo Guarani-Kaiowá".

Interesse foi o que despertou o grupo de teatro Imaginário Marancangalha, que apresentou a peça Tekoha - ritual de vida e morte do Deus pequeno, que conta a vida de Marçal de Souza - lider indígena defensor incansável da luta dos garanis pela recuperação e pelo reconhecimento dos terrítorios indígenas.

Ele foi brutalmente assassinado na porta de sua casa, aos 63 anos de idade. “A gente fala de impunidade”, explica o diretor da peça, Fernando Cruz.

 Grupo de teatro Imaginário Marancangalha, que apresentou a peça Tekoha – que conta a vida de Marçal de Souza. (Foto: Simão Nogueira)
Grupo de teatro Imaginário Marancangalha, que apresentou a peça Tekoha – que conta a vida de Marçal de Souza. (Foto: Simão Nogueira)
Artista Cecílio Vera pintando uma índia amamentando um bebê. (Foto: Simão Nogueira)
Artista Cecílio Vera pintando uma índia amamentando um bebê. (Foto: Simão Nogueira)

Cartazes com dizeres da manifestação foram espalhados pelas grades da Praça. Durante todo o dia teve apresentação de teatro, exposição de livros, quadro e artesanato, com a temática indígena.

Pintando uma índia amamentando um bebê, o artista Cecílio Vera, disse que fez questão de participar do movimento que só vem acrescentar a todos nós que somos descentes indígenas.

Durante a manifestação se apresentaram Geraldo Espíndola, Brô MCs, Muchileiros, Canarrots, X-quarteirão e Hermanos Irmão.

Situação da terra - A terra reivindicada como indígena mais polêmica hoje em Mato Grosso do Sul ainda está no estágio inicial de levantamento que pode definir se é ou não dos Guarani- Kaiowá.

Nota técnica da Funai, publicada em março deste ano, concluiu que a área reivindicada pelos indígenas como Pyelito Kue e Mbarakay é ocupada desde tempos ancestrais. Não há, sequer, definição do tamanho da área.

“Desde o ano de 1915, quando foi instituída a primeira Terra Indígena , ou seja, a de Amambai, até os anos de 1980 – com forte ênfase na década de 1970 –, o que se assistiu no Mato Grosso do Sul foi um processo de expropriação de terras de ocupação indígena, em favor de sua titulação privada”, afirma o texto.

No momento, um grupo técnico está na região para fazer os estudos antropológicos e a previsão é que dentro de 30 dias, conforme o Ministério da Justiça, saia o relatório. Depois disso, ele precisa ser homologado pela Presidência da República, caso realmente seja considerada indígena e, após isso, ainda há a fase de demarcação da terra, que costuma levar anos e motivar disputas judiciais demoradas.

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