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Capital

Meninas de 6 a 13 anos são os principais alvos de criminosos sexuais na Capital

“Realidade terrível”, definiu promotor Marcos Alex ao comentar que se deparou com 1,6 mil denúncias em 2 anos

Anahi Zurutuza | 18/05/2021 12:32
Promotor Marcos Alex Vera de Oliveira durante coletiva de imprensa nesta manhã (Foto: Marcos Maluf)
Promotor Marcos Alex Vera de Oliveira durante coletiva de imprensa nesta manhã (Foto: Marcos Maluf)

Em dois anos, 1.667 denúncias de violência contra crianças e adolescentes, 78% delas contendo relatos de cunho sexual, chegaram à Polícia Civil em Campo Grande, em 2019 e 2020. São quase 70 por mês, pelo menos duas por dia.

“Infelizmente, na nossa Capital, a realidade é terrível”, definiu o promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, durante coletiva de imprensa nesta manhã para apresentar o balanço da Operação Araceli, que foi “à caça” de condenados por crimes cometidos contra meninos e meninas.

O promotor, que ficou conhecido pela atuação à frente do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), mas que atua agora contra “criminosos comuns”, diz ter ficado assustado com a quantidade de casos e teor dos relatos que chegam em suas mãos. “Me chocou bastante porque eu não imaginava. Isso tem de ser enfrentado pelas forças de segurança, mas temos de repensar o papel da sociedade no combate esse tipo de crime”.

Conforme a estatística levantada pela Promotoria, as meninas são os principais alvos dos criminosos sexuais, que têm “preferência” pelas garotas com idades entre 6 e 13 anos. “Noventa e seis porcento das vítimas são do sexo feminino, das quais 74% têm entre 6 e 13 anos, 13% entre 14 e 17, e 13% entre 1 e 5 anos. Ou seja, nem crianças muito pequenas, bebês, figuram como vítimas de violência sexual”.

Outra realidade escancarada pela estatística é que o perigo está dentro de casa. “Noventa e 3 porcento dos autores possuem vínculos familiares com a vítima. São pais, padrastos, o avô, tio, primo. Isso talvez reflita na dificuldade de denunciar. Talvez o problema não seja o sistema de investigação e Justiça, mas incentivar a denúncia”.

Boneca na sala da Depca usada para a coleta dos depoimentos especiais de crianças e adolescentes (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Boneca na sala da Depca usada para a coleta dos depoimentos especiais de crianças e adolescentes (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Danos incalculáveis - A delegada Marília de Brito Martins, titular da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), aproveitou para comentar sobre os danos graves e irreversíveis que crimes contra crianças e adolescentes causam. “O primeiro sintoma seja culpa, aquela vítima se sente culpada pelo que acontece com ela. Os danos psicológicos são muitos: baixa autoestima, traumas, dificuldade de relacionamentos no futuro, automutilação, baixo rendimento escolar. São danos quase que incalculáveis”.

Marília destaca de a omissão diante de violências do tipo também causa sequelas. “Recebemos na delegacia muitos casos de pessoas já adultas que sentem mágoa significativa com relação aquele que deveria proteger, aquele que tinha confiança, para quem ela relatou os fatos e a pessoa nada fez”.

Homem preso nas Moreninhas foi levado para a Deam (Delegacia Especializada de Atendiment à Mulher) (Foto: Aletheya Alves)
Homem preso nas Moreninhas foi levado para a Deam (Delegacia Especializada de Atendiment à Mulher) (Foto: Aletheya Alves)

Balanço - A Operação “Araceli” levou para a cadeia 30 pessoas condenadas por cometerem crimes contra crianças e adolescentes, principalmente violência sexual. Nem todos eram foragidos da Justiça.

Agentes do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), policiais civis e militares foram às ruas de ao menos 10 bairros de Campo Grande, na manhã desta terça-feira (18), “à caça” de 27 alvos, dos quais 20 foram localizados.

De acordo com o promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, 69ª Promotoria de Justiça, nos últimos 10 dias, durante os levantamentos de campo para as buscas marcadas para hoje, 10 pessoas foram presas.

A operação foi deflagrada no Dia Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes , 18 de maio.

A data foi instituída pela Lei Federal 9.970, de 2000, escolhida em alusão ao "Caso Araceli", a menina que aos 8 anos foi raptada, drogada e violentada física e sexualmente por vários dias, antes de ser morta, ter seu corpo desfigurado por ácido e abandonado em um terreno baldio em Vitória, no Espírito Santo.  Araceli Cabrera Sánchez Crespo foi assassinada em 18 de maio de 1973. Vinte e um anos depois da criação da lei e 48 anos após a morte da criança, o crime segue impune.

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