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Capital

Ex-vereador condenado em escândalo de exploração sexual é preso por força-tarefa

Robson Leiria Martins está com mandado de prisão em aberto desde novembro do ano passado

Geisy Garnes | 18/05/2021 11:49
Martins está com mandado de prisão em aberto desde novembro do ano passado (Foto: Arquivo Campo Grande News)
Martins está com mandado de prisão em aberto desde novembro do ano passado (Foto: Arquivo Campo Grande News)

O ex-vereador Robson Leiria Martins, envolvido crime de extorsão contra o então vereador Alceu Bueno, denunciado por exploração sexual de adolescentes, está entre os presos da Operação Araceli, realizada na manhã desta terça-feira (18) por força-tarefa do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), Polícia Civil e PM (Polícia Militar) em combate a violência  contra crianças.

Martins está com mandado de prisão em aberto desde novembro do ano passado, quando sua condenação de 8 anos, 6 meses e 20 dias de reclusão e 77 dias-multa e prisão foi publicada no Diário Oficial da Justiça.

Ao Campo Grande News o advogado José Roberto Rodrigues da Rosa explicou que após a condenação em trânsito julgado, a defesa pediu revisão criminal e com isso conseguiu que o ex-vereador começasse a cumprir a pena no regime semiaberto, ao invés do fechado. Ele, no entanto, não quis se apresentar.

Robson foi considerado foragido durante todo o período de revisão criminal, que não foi aceita. Com isso a decisão que beneficiou o ex-vereador com a progressão de regime foi desconsiderada e o mandado de prisão voltou a ser pela condenação em regime fechado.

Nesta manhã, Robson foi capturado durante as ações que tinham como objetivo cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão, expedidos pela 7ª Vara Criminal de Campo Grande, contra condenados por crimes praticados contra crianças e adolescentes, a maioria por abuso e exploração sexual.

“Ele foi levado para fazer exame de corpo de delito e deve ser encaminhado para o Presídio Militar de Campo Grande provavelmente hoje de tarde ou amanhã cedo”, detalhou Rosa. Ainda segundo o defensor, a condenação do ex-vereador ainda deve ser analisada em instâncias superiores, no sistema de recurso especial.

Robson Martins foi preso por envolvimento em crime de exploração sexual em 2003, quando ainda exercia mandato de vereador, foi denunciado por exploração sexual infantil e renunciou. Já em 2015, data das acusações de extorsão, disse em entrevista que foi vítima de uma trama do ex-vereador Alceu Bueno e de “forças ocultas”.

Alceu foi morto em setembro de 2016. O corpo dele foi encontrado no Jardim Veraneio, próximo ao Parque dos Poderes. O veículo do ex-vereador foi encontrado completamente queimado em Ponta Porã.

A operação desta manhã foi deflagrada no “Dia D” do Maio Laranja. Nesta terça-feira, 18 de maio, é Dia Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. As ações da força-tarefa levaram para a cadeia 30 pessoas condenadas por cometerem crimes contra crianças e adolescentes, principalmente de cunho sexual.

Força-tarefa contou com MPMS, Polícia Civil e Polícia Militar (Foto: Marcos Maluf)
Força-tarefa contou com MPMS, Polícia Civil e Polícia Militar (Foto: Marcos Maluf)

A história - Segundo Robson Martins, no final do mês de março de 2015, foi procurado pelo, então vereador, Alceu Bueno para tratar de um assunto "bastante delicado". Bueno teria dito que preferia encontrá-lo fora do escritório, considerando que o local era muito movimentado. Por isso, ele teria ido até a sua residência para relatar os fatos.

Na ocasião, Martins teria orientado ao vereador como proceder diante da situação. “Pedi para ele (Alceu) manter o assunto reservado, e que aguardasse a manifestação da delegacia. A partir daí eu o representaria em um possível processo, se houvesse necessidade.” Por esse procedimento, Robson Martins teria cobrado R$ 1.000,00, que fora pago com depósito em conta corrente.

Robson disse que, até aquele momento, não havia necessidade de contrato de trabalho e nem de procuração para representação, pois não havia um processo em nome do possível cliente. “Ele me procurou por diversas vezes e chegou ir à casa da minha mãe para conversarmos. Não fiz nenhuma ligação para o Alceu. Não o procurei em nenhum instante”, garantiu.

No dia 13 de abril, Robson revelou que encontrou com Alceu Bueno na Rua Ceará e seguiram juntos no carro do cliente até um terreno na Chácara dos Poderes, em que havia um serviço de terraplanagem feita pela empresa de Alceu Bueno.

Nesta ocasião, o então vereador, Bueno havia lhe informado que teria comentado o assunto com o vereador Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), e que a Câmara de Vereadores já teria conhecimento dos fatos. Alceu Bueno comentara que estaria com receio de sofrer alguma sanção por parte da instituição, segundo Robson Martins.

Robson afirmou acreditar que a partir daí , “forças ocultas” dentro da Câmara, que sempre o agrediram por sua liderança no Bairro Aero Rancho, o mais populoso da Capital, estaria novamente agindo contra si.

Ele contou que já havia sofrido ameaças e que seu escritório também teria sido ameaçado, mas não detalhou o assunto. Mas disse que poderia ser em razão de sua defesa de pessoas mais humildes e por ser profissional competente. “Nunca fiz parte de grupos políticos perigosos e poderosos que existem aqui”, declarou ele, sem citar nomes.

Flagrante - Seguindo a linha de pensamento de Robson Martins, no dia 14 de abril, Alceu Bueno, já sabendo de seu indiciamento, já teria tramado o flagrante contra ele, com o apoio do delegado Paulo Sérgio Louretto, da DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente). Conforme Robson, Bueno teria acertado com o delegado da DEPCA os detalhes do flagrante, que aconteceu no dia 16 no estacionamento de um Hipermercado, em Campo Grande.

Robson alega que, considerando o fato dele ter respondido a um processo por exploração sexual de adolescente em 2003 teria atraído a atenção do delegado e seria um prato cheio para a imprensa.

Neste dia, ele teria sido chamado por Alceu Bueno para ir até o hiperpermercado. Ele disse que Alceu Bueno estaria acompanhado do Luciano Pageu. “Quando cheguei eles me aguardavam sentados na área de uma lanchonete do supermercado.”

Robson disse que, assim que chegou, Bueno teria mostrado no celular “imagens indecentes” envolvendo algumas meninas. “Fotos que ele mesmo (Alceu) havia feitas. Alertei-o sobre o fato de estar com problemas sérios e ainda assim continuava com as imagens do relacionamento com as meninas”, ressaltou Robson, lembrando que as fotos eram as mesmas apresentadas no primeiro encontro dos dois.

De acordo com Robson Martins, durante a conversa não se falou em dinheiro, apenas de política e sobre as imagens. “Não vi dinheiro algum, muito menos R$ 15 mil, que disseram ter sido apreendidos, mas percebi que Bueno estava mais nervoso”, afirmou, reiterando que estava no local como advogado.

Ao saírem da lanchonete em direção ao estacionamento, cada um teria seguido para seus carros. “Neste instante Alceu me chamou e quando cheguei ao veículo, em que já estava com o Luciano, senti um revolver nas minhas costas e a pessoa dizendo que eu estava preso por extorsão. Achei até que fosse um assalto, mas logo o delegado se apresentou”, contou Robson.

Segundo Robson Martins, Alceu Bueno teria procurado uma advogada antes dele para tratar do assunto, mas que não conseguira relatar os fatos a uma mulher. E Luciano Pageu, que já sabia do problema por conhecer as meninas, teria sugerido a Alceu a procurá-lo, uma vez que eles teriam feito parte de uma mesma “célula” na igreja.

Robson afirmou que nunca teve contato com Fabiano Otero e, que antes desse caso, nunca teve relação com Alceu Bueno, apenas se conheceram quando ele foi presidente do clube do futebol Operário, quando Bueno era presidente do Taveirópolis. “Hoje tenho Alceu como inimigo político”, declarou.

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