Mesmo divididos, taxistas garantem que não haverá "guerra" contra Uber
Há 24 horas em Campo Grande, o aplicativo Uber, que intermedia o contato entre motoristas e passageiros, está na boca do povo. Seja dos passageiros, interessados na possibilidade de pagar metade do preço da corrida do táxi, seja dos próprios taxistas, que avaliam se é hora de migrar para um esquema mais independente de trabalho.
Por onde passou, o Uber gerou polêmica. De motorista esfaqueado em Minas Gerais à carros depredados em São Paulo, os taxistas rechaçam a concorrência. Aqui em Campo Grande, o cenário é outro.
"A violência não é o caminho e não vamos comprar brigas virtuais, mas estamos nos articulando para responder na hora certa, do jeito certo", adianta Bernardo Quartin Barrios, presidente do Sintaxi (Sindicato dos Taxistas do Estado de Mato Grosso do Sul). "O ouro de trouxa é vendido a todo momento, quem sou eu para dizer algo? O tempo é que vai mostrar".
Além do clima aparentemente pacífico, a capital se difere do resto do país por outro motivo: aqui até os taxistas pediam a chegada da Uber, já que a grande maioria dos condutores de táxi (a saber, 450 dos 490 que rodam a cidade) se enquadra na categoria auxiliar.
Por isso, antes mesmo do aplicativo chegar, a própria categoria tentava atrair o serviço para cá por acreditar que ele representa uma fonte de renda melhor do que o táxi alugado. Isso porque eles tem que pagar as tais diárias, que variam entre 170 e 235 reais por dia.
"Eu pago uma diária altíssima e, do jeito que está, vou ter que mudar pro Uber. Já tenho um carro bom e estou pensando seriamente em migrar", conta Luiz Carlos de Lima, 53 anos. Há 13, ele é taxista auxiliar no centro da cidade. "Creio que o movimento dos táxis irá diminuir, porque o preço é realmente muito vantajoso para a população", completa.
O pensamento é maioria, mas não é unânime. "Depois de 4,5 meses, eles (os adeptos do aplicativo) não vão aguentar os custos e vão acabar tirando menos que o táxi", calcula Carlos Alberto Fernandes, 55, um dos poucos taxistas que conduzem seu próprio táxi, alvará conquistado há 4 anos.
"A população em Campo Grande é pequena para isso e o gasto com manutenção é caro, a maioria está alugando carro para fazer isso", lista Fernandes. A diferença é que os taxistas têm desconto na compra de peças e até de novos veículos. "Eu não troco nem pensar", completa.
No aeroporto, onde Carlos Alberto coordena os 38 táxis, a disputa pelos passageiros promete ser acirrada, já que é lá que a bandeirada do táxi é mais cara, R$8,56 contra R$4,50 nos outros pontos da cidade. No Uber, a 'bandeirada' sai R$2,50. "Mas seguimos uma série de normas, andamos uniformizados e pagamos taxas para a Infraero e Prefeitura para pegar passageiros aqui", elenca.
Outra diferença apontada pelos taxistas que não veem com bons olhos a novidade é a qualificação do motorista. "Se um engenheiro faz bico de motorista, acho que diz sobre o tipo de profissional que ele é. O consumidor quer preço, claro, mas preço não significa qualidade", opina Bernardo.
Preços - Além de ser mais barato para os clientes, cerca de R$1,71 por quilômetro somando o preço base, o deslocamento por quilômetro e por tempo, o Uber fica com 25% do valor de cada corrida apenas e o resto vai para o motorista, que tem que arcar com a manutenção do carro, que calcula-se que seja 40% do valor.
No táxi, os auxiliares calculam que, de R$ 2,80 por quilômetro que o passageiro paga para rodar, R$1,10 vão embora em despesas.