Moradores cobram basta, após décadas de insegurança e abandono do Rio Anhandui
Usuários de drogas dividem espaço com capivaras e montanhas de lixo
Pessoas em situação de rua vivendo em barracas dividem espaço com montanhas de lixos e dezenas de capivaras às margens do Rio Anhandui, ao longo da Avenida Vereador Thyrson de Almeida. A cena flagrada pela reportagem, na manhã de quinta-feira (20), é descrita como "feia e desagradável" pelos moradores, e está dentro do perímetro urbano, rodeada de casas com saneamento básico, em contraste com a falta de higiene há apenas alguns metros de distância.
No local, há quem relate que "mantém o portão fechado o dia inteiro" e não vê e quem lamenta pela cena e os pequenos furtos que acontecem em momentos de distração, até mesmo dentro dos comércios, pois na vizinhança é preciso estar sempre "em alerta". Há quem segue a rotina conformado com a presença do "vizinho" em situação de rua e usuário de drogas ao lado, pois sente que "não tem nada que possa ser feito".
As capivaras tomam sol em meio ao amontoado de lixo tranquilas, como se fosse um paraíso. De noite, moradores relatam que elas se reúnem aos montes na praça entre as ruas Arquiteto Álvaro Mancine e Jackie Gleason para se alimentar da grama.
A comerciante Niuza Abreu Silva, 57 anos, reforça que na margem do rio tem de tudo. Bichos mortos, restos de construções, lixos domésticos, mosquitos, entulho, ratos e baratas. Lembra que cada vez mais, provavelmente usuários de drogas, montam barracos e estão morando ali, em meio à sujeira. Certo dia, conta a comerciante, se distraiu por alguns minutos e os "vizinhos" entraram na loja onde trabalha e levaram um aparelho de celular.
Os pequenos furtos na região são comuns. "Tem uns 20 dias que eles roubaram os fios todinhos da avenida, ficou todo mundo sem luz. É muito precário isso aí. Mudei pra cá em 99, tem 23 anos que eu moro aqui, mas nunca ninguém tomou nenhuma providência. Eu queria que alguém olhasse pela gente”, expressa Niuza.
À noite, elas [as capivaras] vêm para cá. Aí é onde cai carrapato, bicho, e vem para gente, é perigoso”, declara a comerciante Niuza Abreu Silva.
Na altura das ruas Arquiteto Álvaro Mancine e Jackie Gleason, a reportagem tentou abordar os "moradores" do córrego. Tranquilos com o pedido de entrevista, um deles apenas expressou que "tinha acabado de fumar uns", e "não estava pensando direito pra conversar".
A aposentada Otacília Bitencourt, 77 anos, esperava pelo transporte público em um ponto de ônibus em frente à praça. Enquanto olhava para o córrego, dizia, "é horrível, né?". A aposentada relatou que evita passar pelo local, principalmente pelo risco de assaltos.
Tem que aguentar tudo isso. Fazer o quê? A gente mora aqui há muitos anos, e ninguém nunca faz nada. O bairro está abandonado”, declara Otacília.
O marmoreiro Rafael da Silva, 38 anos, também já foi furtado. Ele conta que os usuários de drogas aproveitaram que o cachorro não estava no local, pularam o muro e levaram o botijão de gás. Agora, ele pretende elevar a altura do muro e instalou câmeras de segurança. Rafael conta que passa a maior parte do dia com o portão fechado, então não vê nada da cena "horrível, desagradável", como ele descreve.
Mas não há portão que disfarce o cheiro de fumaça, quando os "moradores" do córrego resolvem queimar o lixo ou os fios de cobre furtados para vender. "Colocam fogo para queimar fio, queimar cobre, as coisas que eles juntam. Às vezes, está uma baderna lá e eles colocam fogo de madrugada”.
Quanto às capivaras, Rafael diz que vão na praça se alimentar - e são muitas. “Não sei como que não recolheram elas. Porque são bastantes”.
Vulnerabilidade - A SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) acolheu três mil pessoas em situação de rua no primeiro semestre de 2023, nas quatro unidades da secretaria.
As equipes do Seas (Serviço Especializado em Abordagem Social) realizam busca ativa e atendimento à população de rua nas sete regiões da Capital, incluindo as que habitam às margens dos córregos.
As equipes fazem mapeamento de todas as sete regiões da cidade para acompanhar o fluxo migratório da população em situação de rua e facilitar a busca ativa. Outra forma de localizar pessoas nessas condições é por meio de denúncias, feitas pela população, nos canais de atendimento da SAS.
Na abordagem, as equipes informam à pessoa sobre o risco social em que se encontram, oferecem acolhimento institucional ou encaminhamento para tratamento da dependência química em Comunidades Terapêuticas, por meio da parceria com a SDHU (Subsecretaria de Direitos Humanos). O indivíduo tem o direito de escolher se aceita o serviço ou não.
Equipes da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) foram acionadas e o local incluído na programação de manutenção da Secretaria, que irá até o local para averiguar a situação e realizar a limpeza.
A reportagem procurou a PMA (Polícia Militar Ambiental) para responder a respeito do que pode ser feito em relação à situação das capivaras, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.
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