Mosquito transmissor da dengue se adaptou para continuar reprodução
O mosquito Aedes aegypti – transmissor da dengue, zika e chikungunya – tem um rápido ciclo de reprodução e características que contribuem para sua proliferação. Enquanto o número de casos das doenças transmitidas pelo vetor aumentam, a maior preocupação é que os criadouros sejam extintos. A fêmea do inseto, que vive aproximadamente 40 dias e pode produzir de 150 a 300 ovos, é responsável pela transmissão dos vírus.
“Além disso, o ovo pode sobreviver por um ano dissecado e, se entrar em contato com água, o desenvolvimento é normal”, explicou o doutor em entomologia – ciência que estuda os insetos – e gerente técnico da SES (Secretaria de Estado de Saúde), Paulo Silva de Almeida.
Ele afirma que eliminar os criadouros ainda é a principal forma de combate as doenças transmitidas pelo Aedes. “O mosquito tem um comportamento diferente, de se reproduzir em criadouros domésticos como latas, pneus, plantas com água nos pratinhos ou vasos, lixo domiciliar que a pessoa deixa e não imagina que pode servir como criadouro. Por isso devem ser eliminados. A limpeza e a conscientização são os melhores remédios contra a dengue”.
Atualmente, a principal “mutação” do mosquito é justamente em relação a quantidade de água para desenvolvimento do ovo em larva, e posteriormente na forma adulta. “O mosquito evolui conforme o ambiente que tem, se houver pouca água para proliferação ele consegue se adaptar. O inseto diminui o processo para se tornar mosquito, se normalmente o período de reprodução na fase aquática seria de 5 a 7 dias, pode chegar no máximo a 4 dias. O calor também favorece muito e acelera a reprodução dele”, afirmou.
Da liberação do ovo até a fase adulta o tempo médio de reprodução é de 8 a 10 dias. O ovo precisa de dois dias na água para se tornar larva, mas a transformação para a forma de mosquito é de apenas alguns minutos – após o período de até 7 dias na água. Por isso, a eliminação de criadouros deve ser realizada pelo menos uma vez por semana: assim, o ciclo de vida do mosquito será interrompido.
Apenas a fêmea do Aedes se alimenta de sangue humano – necessário para o desenvolvimento completo dos ovos – e por isso transmite os vírus das doenças. Ela vive entre 30 e 40 dias, acasala apenas uma vez e espalha entre 150 e 300 ovos em diferentes lugares – para dispersar a espécie. “Durante o período de vida ela vai aos poucos eliminando os ovos em vários criadouros, para garantir a proliferação. A capacidade de postura desta forma também foi uma evolução”, disse Almeida.
Ainda não existe vacina ou medicamentos contra as doenças, apenas os sintomas são controlados por remédios. Até agora a única forma de prevenção é acabar com o mosquito, mantendo o domicílio sempre limpo, eliminando os possíveis criadouros.
Adaptação – Porém uma nova característica já foi observada no mosquito, que alguns anos atrás se reproduzia apenas em água limpa, e agora já pode ser encontrado também em água suja. “Eu fiz pesquisas e encontrei larvas em fossas, isso é comum em época de infestação como a que vivemos agora. Além disso, o mosquito também circula na área rural. Coisa que não tínhamos antes, pois a principal característica dele é justamente de ser urbano”.
O Aedes aegypti é um mosquito doméstico, vive dentro de casa, tem hábitos diurnos e alimenta-se de sangue humano, sobretudo ao amanhecer e ao entardecer. A reprodução acontece em água parada, a partir da postura de ovos pelas fêmeas. Os ovos são distribuídos por diversos criadouros – estratégia que garante a dispersão da espécie.
Outra doença também transmitida pelo vetor é a febre amarela, que tem sintomas semelhantes a dengue – febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas e vômitos. “Como tem vacina, o risco é pouco. Já a dengue são quatro sorotipos, além da zika e da chikungunya”, explicou Paulo.
Eliminar focos do mosquito Aedes aegypti é simples, basta extinguir ambientes favoráveis para a proliferação do inseto, que tem como criadouros locais com água parada. Medidas básicas como eliminar a água de pratos de plantas, vasos, garrafas, pneus, além de manter o lixo fechado, não jogar materiais em terrenos baldios, lavar (toda semana) com sabão locais usados para armazenar água, manter caixas d'água fechadas e limpar calhas, são algumas das ações necessárias para acabar com o mosquito.