MS é estratégico em esquema que faz PCC lucrar dobrado e fazer fortuna pelo País
Se o quilo da cocaína vale R$ 25 mil em Campo Grande, vai render R$ 50 mil em São Paulo
A facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) não ignora a privilegiada posição geográfica de Campo Grande, que vira entreposto na rota que abastece do varejo, como a boca de fumo mais perto da sua casa, ao mercado nacional. Os “produtos” capitalizam a facção.
O quilo da “maconha comercial” (comum) que custa de R$ 500 a R$ 700 em Campo Grande, simplesmente triplica, alcançando valor de até R$ 2.100, quando chega a São Paulo. No caso da cocaína, a valorização é de 100% em território paulista. Se o quilo do pó vale R$ 25 mil na Capital, vai render R$ 50 mil no Estado vizinho.
Já a maconha bucha, também conhecida por skunk ou supermaconha, custa R$ 1.500 o quilo no mercado local. O motivo de ser mais cara é a maior concentração do princípio ativo THC (Tetra-hidro-canabinol).
“Campo Grande tem se tornado entreposto. A droga é guardada aqui porque Mato Grosso do Sul faz divisa com cinco Estados, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, além de fronteira com Bolívia e Paraguai”, afirma o titular da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), delegado Hoffman D'Ávila.
A função de entreposto ou “guarda-roupa” na logística do crime se mostra, por exemplo, na apreensão de seis toneladas de maconha numa casa do Bairro Nova Campo Grande, em junho deste ano. No flagrante, quatro pessoas foram presas. Parte da maconha ficaria na cidade e parte seguiria viagem a outros Estados.
Eles vão vendendo no atacado e no varejo. Neste dia, pegamos uma BMW já usada que saía com tabletes para abastecer um ponto de vendas de drogas em Campo Grande. Mas grande parte desse entorpecente vai para outras unidades da federação”.
A maconha vem do Paraguai, que faz fronteira com Mato Grosso do Sul. As estratégias variam. Mas há o predomínio de trazer a maconha fracionada. Pega-se uma caminhonete, em geral roubada ou furtada, retira-se os bancos e a entope com até duas toneladas da droga. A prática é conhecida como o “cavalo doido”, pois não se utiliza nenhum tipo de disfarce para a carga ilícita.
“Geralmente vem com os batedores, são aqueles equipados com radiocomunicador. Às vezes, vêm duas três caminhonetes abarrotadas com drogas. Eles arrancam todos os bancos, lotam esse veiculo de maconha”.
No ano passado, a delegacia apreendeu oito toneladas de maconha em Campo Grande. Até agosto de 2022, o volume quase triplicou: foram apreendidas 22 toneladas.
“Demonstra que a Denar está trabalhando, combatendo o narcotráfico que vem crescendo no período pós-pandemia. Eu incinerei no mês passado uma tonelada de cocaína. Sexta-feira passada, incinerei 12 toneladas de maconha e sexta-feira agora, dia 16, nós vamos incinerar mais 12 toneladas de maconha. Denota o tanto que as forças policiais estão trabalhando”, afirma o delegado.
No mês de agosto, a Denar fez 17 flagrantes de boca de fumo e prendeu 19 pessoas. A delegacia não tem nem estimativa da quantidade de pontos de revenda de drogas em Campo Grande. De acordo com Hoffman, ainda é feito um levantamento por bairros.
“A gente faz o mapeamento para minar essas bocas de fumo. E todas as denúncias são verificadas. Às vezes, a pessoa que está ali é só o vendedor e depois tem o que passa para recolher todo o dinheiro. Então, é uma organização criminosa com estabilidade, divisão de tarefas. A gente faz todo esse levantamento porque não adianta ir lá, fechar essa boca de fumo, prender aquele cidadão e não prender quem é o responsável por abastecer. Tem boca reincidente, que já fechamos três, quatro vezes e vamos fechar de novo”, diz.
No ano passado, foram apreendidos 488 quilos de cocaína em Campo Grande. Até agosto de 2022, foram 263 quilos. A delegacia atua em três frentes: preventiva, repressiva e a incineração. O delegado ministra palestras em escolas públicas e privadas. A faixa etária do público é de 12 a 18 anos.