Mulher luta para punir acusados de queimar irmão e sobrinha vivos
Ao entrar na casa que criou há 15 anos para acolher moradores de rua, Maria Luiza Serrou, 70 anos, depara-se, todos os dias, com uma ferida que não se fecha. Na parede, ao lado da porta, as fotos de dois homens lembram que seu irmão e sua sobrinha foram mortos queimados vivos, enquanto os bandidos do retrato falado desfrutam da impunidade.
O crime foi brutal e, passado quase dois meses, arranca lágrimas de uma família enlutecida. No dia 2 de junho, dois adultos e um adolescente mataram Oscar Serrou Camy Filho, 77 anos, e Marta Cavalcante Serrou, 48 anos. Pai e filha moravam na fazenda Araras, em Pedro Gomes, a 309 km de Campo Grande. Único detido, o rapaz relatou momentos de horror, com espancamento, violência sexual e carbonização.
“Não queremos vingança, só queremos Justiça”, dizem em uníssono os irmãos Maria Luiza e Antônio Serrou Camy, de 75 anos. Em Campo Grande, ela comanda há mais de uma década a Casa de Apoio São Francisco de Assis, que abre as portas para mendigos.
Lado a lado na entrevista, ambos contam que nem cogitam a voltar à fazenda onde o irmão nasceu e morreu. “A família está em Pedro Gomes desde 1850. É o berço dos Serrou”, conta Antônio. Dos doze irmãos, quatro estão vivos.
"Era um avô extremado. Ajudou a criar vários parentes, sobrinhos”, recorda o irmão. Emocionada, Maria Luiza fala sobre a sobrinha. “Uma moça bonita, com casamento marcado para dezembro”, conta. Na versão do adolescente, que morava em um assentamento a sete quilômetros da fazenda, os dois homens, que chegaram a trabalhar por “empreita” na propriedade, afirmaram que iam “apagar o velho”. Oscar teria escutado e correu para o quarto.
Eles arrombaram a porta e começaram a bater. Agredido na cabeça de com uma barra de ferro, o idoso desmaiou.
No relato do rapaz, Marta foi violentada pelos três e desmaiou. Desacordada, foi levada para o quarto. Eles jogaram os colchões e álcool nas vítimas, ateando fogo. Além da saudade e do horror, eles lutam para que o crime não seja esquecido. A família divulga os retratos falados na internet e em cartazes.
Um dos retratos que pode fazer Justiça foi feito a partir do relato do adolescente, que foi trazido para uma unidade de internação em Campo Grande. Já as descrições do outro homem foi dada pela dona de um bar. Após o crime, eles foram jogar sinuca e, inclusive, fizeram apostas em dinheiro. Das vítimas, foram levados R$ 600. O adolescente ainda relatou que roubaram um revólver. A família contesta que Oscar tivesse arma em casa.
De acordo com o perito criminal Wanderley Serrou Camy, parente das vítimas, o rapaz disse que estavam em busca de dinheiro para comprar drogas. “O menor disse que com R$ 4 mil fariam R$ 8 mil em drogas”, relata.
Para Wanderley, a versão do estupro pode ser fantasiosa, pois Marta foi encontrada com todas as peças de roupas. Conforme a Polícia Civil de Pedro Gomes, o laudo que pode atestar violência sexual ainda não ficou pronto. A investigação segue sem pistas dos dois foragidos.
Mesmo diante de tamanho choque, Maria Luiza conta que nem cogitou encerrar os trabalhos de assistência social, que estende as mãos para todo tipo de estranho. “Aqui nós estamos lidando com anjos e demônios. Mas não é por causa dos demônios que vou deixar de ajudar os anjos”.
Quem tiver informações sobre os foragidos deve ligar para (67) 3291 1463, Polícia Civil de Coxim, (67) 3230-1359 ou Polícia Militar (190).