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Capital

Na favela, moradores apelam à fogueira e lona para enfrentar o frio

Enquanto seus corpos e queixos tremiam, adultos e crianças diziam não se incomodar com a temperatura baixa

Richelieu de Carlo e Guilherme Henri | 18/07/2017 11:33
Crianças tentam espantar o frio ao redor de uma fogueira. (Fotos: André Bittar)
Crianças tentam espantar o frio ao redor de uma fogueira. (Fotos: André Bittar)

Habituados a viver com pouco, moradores de favela no Jardim Teruel passam pelo período mais frio do ano tentando manter a rotina e ignorar a temperatura baixa. A tarefa é quase impossível, mesmo negando o incômodo com o tempo gélido, o bater de queixo e o corpo trêmulo não escondem a realidade. Sendo necessária uma fogueira para enfrentar a situação.

Quatro crianças brincavam na rua, uma delas sem camisa, quando a reportagem chegou ao loteamento, próximo de onde ficava a antiga favela Cidade de Deus, na região sul de Campo Grande, na manhã desta terça-feira (18), dia mais frio de 2017, até agora em Mato Grosso do Sul.

Questionadas se estavam com frio, com as bocas e corpos tremendo, as crianças respondiam que não. Sobre seus pais, disseram estar trabalhando. Após a sabatina, seguiram em suas brincadeiras, indiferentes ao tempo gelado.

Os adultos, entretanto, tentavam se manter aquecidos dentro de casa ou em barracos de lona improvisados.

“Aqui caiu bem a temperatura, fez muito frio, tive que dormir com três cobertores. Mas como moro em barraquinho, entra vento de tudo que é lado”, diz Paulo Zenato de Oliveira, 44 anos, auxiliar de serviços gerais, sobre como enfrentou a madrugada mais fria do ano na Capital, com sensação térmica abaixo de zero.

Ele diz que se a situação se repetir, vai providenciar mais lonas para vedar as frestas do “barraco”. Antes de se despedir, não perdeu a oportunidade de apontar a falta de ajuda e doações de roupas e agasalhos.

Criança tenta se manter aquecida.
Criança tenta se manter aquecida.
Lona tenta impedir a entrada do vento gelado.
Lona tenta impedir a entrada do vento gelado.

Considerando-se “sortudo” por morar em casa de alvenaria, o aposentado Jurandir Castelheira, 72 anos, diz que “graças a Deus, tem muita roupa e cobertor”. Além disso, faz o que pode para ajudar os vizinhos menos afortunados.

Entre eles está Miriam Soares de Souza, 38 anos, moradora do “pior barraco de todos”, pois não possui teto. A família vive de sucata e passa muita necessidade, segundo Jurandir.

Ao falar sobre sua situação, Miriam foi de poucas palavras. “Não senti frio, aqui é muito quentinho. Estou acostumada”, disse tremendo e escondendo as mãos no casaco embaixo do pescoço, dispensando a reportagem.

Antes de ir embora, uma situação chamou a atenção, quatro crianças se aglomeravam em torno de uma fogueira. Evidenciando que mesmo tentando ignorar, o frio e a realidade acabaram prevalecendo.

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