Na favela, moradores apelam à fogueira e lona para enfrentar o frio
Enquanto seus corpos e queixos tremiam, adultos e crianças diziam não se incomodar com a temperatura baixa
Habituados a viver com pouco, moradores de favela no Jardim Teruel passam pelo período mais frio do ano tentando manter a rotina e ignorar a temperatura baixa. A tarefa é quase impossível, mesmo negando o incômodo com o tempo gélido, o bater de queixo e o corpo trêmulo não escondem a realidade. Sendo necessária uma fogueira para enfrentar a situação.
Quatro crianças brincavam na rua, uma delas sem camisa, quando a reportagem chegou ao loteamento, próximo de onde ficava a antiga favela Cidade de Deus, na região sul de Campo Grande, na manhã desta terça-feira (18), dia mais frio de 2017, até agora em Mato Grosso do Sul.
Questionadas se estavam com frio, com as bocas e corpos tremendo, as crianças respondiam que não. Sobre seus pais, disseram estar trabalhando. Após a sabatina, seguiram em suas brincadeiras, indiferentes ao tempo gelado.
Os adultos, entretanto, tentavam se manter aquecidos dentro de casa ou em barracos de lona improvisados.
“Aqui caiu bem a temperatura, fez muito frio, tive que dormir com três cobertores. Mas como moro em barraquinho, entra vento de tudo que é lado”, diz Paulo Zenato de Oliveira, 44 anos, auxiliar de serviços gerais, sobre como enfrentou a madrugada mais fria do ano na Capital, com sensação térmica abaixo de zero.
Ele diz que se a situação se repetir, vai providenciar mais lonas para vedar as frestas do “barraco”. Antes de se despedir, não perdeu a oportunidade de apontar a falta de ajuda e doações de roupas e agasalhos.
Considerando-se “sortudo” por morar em casa de alvenaria, o aposentado Jurandir Castelheira, 72 anos, diz que “graças a Deus, tem muita roupa e cobertor”. Além disso, faz o que pode para ajudar os vizinhos menos afortunados.
Entre eles está Miriam Soares de Souza, 38 anos, moradora do “pior barraco de todos”, pois não possui teto. A família vive de sucata e passa muita necessidade, segundo Jurandir.
Ao falar sobre sua situação, Miriam foi de poucas palavras. “Não senti frio, aqui é muito quentinho. Estou acostumada”, disse tremendo e escondendo as mãos no casaco embaixo do pescoço, dispensando a reportagem.
Antes de ir embora, uma situação chamou a atenção, quatro crianças se aglomeravam em torno de uma fogueira. Evidenciando que mesmo tentando ignorar, o frio e a realidade acabaram prevalecendo.
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