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Capital

Na memória de uma mãe, a tristeza de ver o filho morrer cedo demais

Paula Maciulevicius | 12/07/2012 14:33
“Nunca imaginei que isso ia acontecer comigo. Ele era meu filho, meu tudo”. As lágrimas de Ambrósia Chastel podem parecer de revolta, mas são de saudade. (Foto: Minamar Júnior)
“Nunca imaginei que isso ia acontecer comigo. Ele era meu filho, meu tudo”. As lágrimas de Ambrósia Chastel podem parecer de revolta, mas são de saudade. (Foto: Minamar Júnior)

“Cheguei e vi a poça de sangue no chão e o tênis dele. Comecei a gritar, abracei o tênis e comecei a gritar, mas não tinha jeito mais”. Em meio ao desespero, as cenas que se seguiram nunca mais vão sair da memória de Ambrósia Barbosa Chastel, 59 anos. Mãe, ela vive há três meses a dor de ter perdido o filho para o trânsito.

A casa de Ambrósia está à venda. Desde a morte do filho ela diz que não consegue seguir com a vida ali. “Ando meio baratinada e não sei o que vou fazer”. Mais uma prova de que os acidentes de trânsito fazem mais vítimas e deixam feridos também aqueles que não estavam envolvidos na colisão.

“A moto dele estava em pé, beirando a carreta”. A descrição dos últimos momentos de vida do filho ainda é feita passo-a-passo. Ela se lembra de cada detalhe, do semblante de quem prestava assistência e principalmente, das pessoas que vieram relatar o que de fato aconteceu.

“Teve um motorista de ônibus que falou: dona um táxi fechou ele”. “Olha eu chego a me arrepiar”, interrompe. “Foi um táxi que virou com tudo, jogou luz alta e fechou ele. Ele vinha descendo quando isso aconteceu, não estava bêbado, ele só estava com sono, havia trabalhado até tarde”, diz.

O acidente a que ela se refere aconteceu na madrugada do dia 26 de março, quando o filho, Luiz Carlos Chastel Filho, 28 anos, que levava de moto, a namorada Suelen Quintana Deluque, 25 anos, e o filho dela, de 7 anos, até o bairro Caiçara. A moto bateu em uma carreta estacionada na rua Arquiteto Vilanova Artigas, no bairro Aero Rancho.

“Ele acertou a lateral da carreta. Foi de lado, porque se fosse atrás da carreta, ela teria ou se machucado muito ou morrido também”.

Do acidente, apenas Suelen sobreviveu aos ferimentos e a dor de ter perdido o filho e o namorado. O menino, Vítor Andrade, morreu logo depois de dar entrada no hospital.

Ambrósia é dona de casa. Vive há poucas quadras de onde o acidente aconteceu, com uma filha e três netos. O quarto de Luiz Carlos ainda está lá. No canto da sala um aparelho de som, exatamente do jeito que ele deixou.

Nas mãos e no coração. A lembrança da missa de 7° dia de Luiz Carlos e o enteado, Vítor, 7 anos. Mortos no acidente. (Foto: Minamar Júnior)
Nas mãos e no coração. A lembrança da missa de 7° dia de Luiz Carlos e o enteado, Vítor, 7 anos. Mortos no acidente. (Foto: Minamar Júnior)

“Eu nunca imaginei que isso ia acontecer comigo. Ele era meu filho, meu tudo. A Polícia falou que a carreta estava no lugar certo, mas este não foi o primeiro acidente, no velório uma senhora chegou falando que era para ela estar morta. Tinha que ter uma sinalização ali, tinha,é um breu danado”.

Agora fazendo parte, de tão perto, das estatísticas de mortes em acidentes de trânsito, dona Ambrósia tem outra visão do movimento de carros, motocicletas e caminhões pelas ruas.

“Está muito perigoso, tem muito acidentes. As pessoas bebem e não pensam. Toda hora que eu vejo na TV, vem na hora à tona, o acidente do meu filho”, relata.

O motorista do táxi que foi visto pelas testemunhas “fechando” o motociclista segundos antes do acidente, nunca foi localizado. Na Polícia o registro do acidente descreve apenas Luiz Carlos colidindo na carreta estacionada, sem outro veículo que nem ao menos prestou socorro.

“Tem que ter mais sinalização, ali na rua tinha que ter um quebra-molas. O pessoal enjoou de pedir, fizemos um abaixo-assinado, mas até agora nada”, comenta sobre a rua Arquiteto Vilanova Artigas.

O que dona Ambrósia, como mãe de vítima deseja, agora, é que a carreta nunca mais seja motivo de dor.

“Eu queria que ele tivesse pensado melhor. O motorista, dono da carreta, que tivesse tirado ela de lá. Ele tirou logo depois do acidente com medo da gente por fogo, fazer algo. A gente não ia fazer, não ia trazer meu filho de volta”.

As fotos tentam preencher parte da saudade de não ter o filho perto. O crachá do local de trabalho continua na bolsa da mãe. (Foto: Minamar Júnior)
As fotos tentam preencher parte da saudade de não ter o filho perto. O crachá do local de trabalho continua na bolsa da mãe. (Foto: Minamar Júnior)

As lágrimas escorrem. Não de revolta, mas de saudade. “Não gosto nem de descer, quando eu chego perto de onde foi, eu volto para trás. À pé eu não consigo ir, não tenho coragem”.

As últimas palavras do filho foram exatamente aquelas que dão a certeza para a mãe de que Luiz Carlos não estava bêbado. “Eu liguei e ele me disse mãe eu estou tomando Coca-Cola, acredita? A Suelen não me deixa beber, fica fria que daqui há pouco eu estou em casa. Foi a última vez que ouvi meu filho falando comigo”.

Agora pela casa está apenas o vazio que ela tenta preencher com fotos de Luiz Carlos. Na estante, no computador, na bolsa. Ambrósia tira o crachá que carrega consigo. Lembranças das quais não consegue desapegar.

“Eu penso muito nele. Dá saudades. Ano passado teve churrasco no aniversário dele, teve festa e foi tão bom. E agora? Eu não vou ter ele...”

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