Na periferia, rua vira rio e moradores só saem de casa porque não têm opção
Com chuva de 12 milímetros, bairros sem asfalto são evitados por motoristas de aplicativo
Nas regiões periféricas da Capital, a falta de infraestrutura transforma ruas em rios de enxurrada. A chuva da madrugada e manhã já acumula 12 milímetros, segundo a Estação Meteorológica do Tempo da Uniderp. É o suficiente para acabar com o dia de quem precisa trabalhar, mas não tem como sair na rua sem molhar os pés.
No Noroeste, morador da Rua Vassoura pensou duas vezes, mas não teve jeito. Pisou na água para chegar em casa, na hora do almoço. O flagrante mostra apenas um dos problemas da favela, conhecida como Tatuzinho, uma área de invasão que busca regularização.
“Cai água dentro de casa, não temos muita estrutura, mas o pior problema é a rua que fica alagada e se chover mais hoje a água vai continuar avançando. Infelizmente, faz falta o asfalto. Tive que pisar na água mesmo. Somente na linha do ônibus que passam um cascalho, mas também fica bem ruim quando chove demais. Precisamos de uma atenção do poder público.”, reclama o morador, o motorista Ademilson Mariano Gomes, de 35 anos.
O vizinho conta que não consegue nem corrida com motorista de aplicativo quando a situação fica assim. Aí o jeito é conseguir carona com amigos que têm carro ou sair nas ruas para pegar ônibus.
“Eu precisava ir buscar um carro para uma pessoa para quem prestei serviço, então chamei pelo aplicativo, mas não quiseram vir”, conta o desempregado José Silva, de 52 anos.
Morador do local há 10 anos, José diz que hoje só vai sair para ir à igreja se um amigo der carona. “O irmão disse que se conseguir entrar com o carro, vai dar para irmos”.
A vizinha conta que a chuva prejudica muito porque não dá nem para fazer o fogão a lenha improvisado, que ajuda a economizar com o gás de cozinha.
“É bem precária a nossa situação. Aqui só tem promessa de asfaltar. Esse é o pior problema quando chove desse jeito”, relata a moradora. Ela conta que só com sacola no pés para sair para trabalhar.
Limpeza - Na quinta-feira (7), equipes da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) já registravam estragos do temporal. Foram realizadas ações emergenciais para recuperar as vias e remover árvores.
As equipes removeram pedras e outros sedimentos levados pela enxurrada, que estavam obstruindo o trânsito, em vias como a Avenida Lúdio Coelho, Rua Praia Grande, Rua João Rezek, no Bairro Oliveira III e Ruas Ouro Preto e Pedra Negra, no São Conrado.
Também foram removidas árvores na Rua Nazar Kodjogllanian e Avenida Raquel de Queiroz, no Conjunto Aero Rancho. Foi preciso ainda desobstruir bocas de lobo fechadas por pedras da enxurrada.
Enquanto o solo estiver encharcado não é possível iniciar o serviço de patrolamento e cascalhamento dos trechos críticosnão asfaltados, segundo o superintendente de Serviços Públicos da Sisep, Medhi Talayeh. "É necessário, pelo menos, um dia de estiagem para o serviço se tornar viável, sem risco das máquinas atolarem e as ruas ficarem intransitáveis”, explica.