Nas favelas, barracos de zinco deixam calor à beira do insustentável na Capital
Molhar o chão de lona ou tomar 5 banhos por dia são as estratégias para amenizar sensação térmica
No barraco feito de zinco, o calor acima dos 35ºC transformou a casa humilde de Greiciele Ferreira, de 29 anos, em uma fornalha. “Não existe circulação de ar, fica tudo abafado. É complicado para quem já sofre com hipertensão ou diabetes, sem contar as crianças, que sofrem bastante dentro e fora de casa", afirmou.
A situação enfrentada por ela é a mesma de outros 420 moradores da Favela do Mandela, na saída para Cuiabá, região norte de Campo Grande. As moradias improvisadas são feitas de zinco, lona, sacos plásticos, pedaços de madeira ou papelão. Pequenas e apinhadas com os móveis, roupas e moradores, torna situação já desconfortável à beira do insustentável.
A responsável pela comunidade de 183 famílias relatou a dificuldade pessoal. Mãe do menino de 13 anos, que nasceu com apenas um rim, precisa se hidratar em dobro para evitar problemas de saúde no calorão.
"Estamos monitorando para que esse calor não influencie na saúde dele. Muitos vizinhos tiveram que buscar ajuda médica nesses dias quentes", contou.
Este é o caso de Roseli Vieira de Oliveira, 50. Hipertensa e diabética, a dona de casa contou à reportagem que precisou recorrer ao atendimento médico duas vezes nesta semana. Para ela, a sensação térmica se estende em seu "cantinho", feito de madeira e lonas.
"Ficar aqui embaixo [da lona] depois do almoço é muito ruim. A pressão sobe, aquele calor de 13h se intensifica e só consigo melhorar tomando banho. Já cheguei a tomar cinco vezes ao dia", disse à reportagem.
Diagnosticada com TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), a dona de casa aguarda pela aceitação no pedido de aposentadoria e passa a maior parte do tempo na ocupação.
"A gente vive do improviso. Molhamos o chão e a lona para aliviar, mas nem sempre isso resolve. Nos dias em que esquenta e chove, a situação piora e não tem salvação", ressaltou.
Histórico - Conforme noticiado, a Emha (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários) levou à Câmara Municipal cinco projetos da área de habitação, que preveem a construção de aproximadamente 500 moradias até o final de 2024. Uma delas inclui a realocação de quem vive no Mandela para três regiões da Capital.
A decisão se deu após o entrave no projeto de construir casas destinadas aos moradores da ocupação em uma área sem licenciamento ambiental. À época, o Campo Grande News noticiou que o espaço pertencia à prefeitura, mas era destinado à contenção do Parque Estadual Nascentes do Segredo.
Diante o empasse, a Emha esteve no local para ofertar auxílio aluguel de R$ 500 por 12 meses, entretanto, não houve retorno para tratativas por medo de exclusão.
Desde a última terça (19), por meio de publicação no Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande), a gestão municipal realiza chamamento dos ocupantes para a regularização de cadastro e triagem na agência de habitação. Os convocados serão atendidos, por ordem predefinida, a partir de segunda-feira (25).
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