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Cidades

Moradores da Favela do Mandela relutam em deixar barracos em área de risco

Prefeitura ofereceu auxílio aluguel, mas famílias temem perder lugar caso saiam de ocupação

Natália Olliver e Mariely Barros | 14/03/2023 10:54
Simone gostaria de mudar o barraco de lugar para não sair da ocupação no Mandela (Foto:Henrique Kawaminami)
Simone gostaria de mudar o barraco de lugar para não sair da ocupação no Mandela (Foto:Henrique Kawaminami)

Mesmo em área de risco, moradores da Favela do Mandela, na saída para Cuiabá, relutam em deixar o local com medo de perder barracos na ocupação irregular. O drama vivido pelos residentes se estende desde o início do ano, quando as chuvas atingiram mais intensamente a favela, causando desmoronamentos e erosões. O cenário é um risco à saúde física das famílias que “não largam” as casas feitas de madeirite e lonas.

A situação causa desconfiança em quem já construiu uma vida no local. Jaine Correia, de 31 anos, contou à reportagem que jogar terra nas erosões é uma das alternativas que encontrou para lidar com os buracos próximos a casa onde mora.

Tem uns canos que ficavam na terra, mas foram aparecendo por conta da chuva. Perto do meu barraco, a água passa com muita força descendo para o córrego, uma correnteza mesmo. Parte do quarto do meu filho fica alagada. Durante a chuva nem saio“, contou Jaine.

A moradora revela que para solucionar o problema teria que arrastar o barraco, mas que não faz isso pelos custos financeiros. Ela questiona a prefeitura por oferecer apenas lonas às famílias, material insuficiente para manter as casas em pé em dias de chuva forte.

Lateral de uma das residências feitas de madeirite e lonas, na Favela do Mandela (Foto: Henrique Kawaminami)
Lateral de uma das residências feitas de madeirite e lonas, na Favela do Mandela (Foto: Henrique Kawaminami)

Relembre - Em fevereiro, a Prefeitura de Campo Grande esteve no local para oferecer auxílio aluguel aos moradores. A proposta da gestão municipal é de retirar o grupo de ocupantes em área de risco até que todos sejam transferidos para os residenciais Mandela I, II e III, que serão construídos. A expectativa é de que a entrega dos conjuntos comece em 2024.

Enquanto a obra não inicia, a prefeitura prometeu auxílio financeiro de R$ 500 por 12 meses somente para as famílias residentes em área de risco, ou seja, próximas ao Córrego Segredo. Entretanto, não houve retorno para as tratativas.

Yasmin Caldeira, de 27 anos, foi uma das notificadas para sair do local. Conforme a moradora, a prefeitura ofereceu um aluguel social, chamado “Recomeçar Moradia", mas diz que não consegue sair da favela pelos filhos que estudam próximo.

Ela comentou que muitos habitantes chegaram a indagar a prefeita Adriane Lopes (Patriota), durante visita em dia de chuva, sobre a escola das crianças. ”Eles falaram que iam dar um jeito. A gente deduziu então que não seria nas redondezas. Não queremos nos mudar. Estou aqui há 5 anos”, disse.

A Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários) assegurou que as famílias do Mandela estão todas cadastradas e não há risco de exclusão para a transferência quando o novo conjunto habitacional ficar pronto.

Barranco desmorronando próximo a residência de Yasmin Caldeira (Foto: Henrique Kawaminami)
Barranco desmorronando próximo a residência de Yasmin Caldeira (Foto: Henrique Kawaminami)

O problema também atinge a moradora Simone Rocha, 41 anos, que, assim como a vizinha, gostaria de mover o barraco, mas não consegue devido aos custos da água e energia. Ela ressaltou que está consciente que a situação é crítica.

“Sei que estamos em uma área de alto risco. Quando me fizeram a proposta eu cheguei a aceitar, mas depois vi o pessoal comentando que não era bom sair daqui porque tinha o risco de sair e perder. Então, vou ficar. Pra quem já ficou quatro anos nessa situação, um ano ou dois a mais não é nada”.

O momento é atípico para Simone, que se assustou com a quantidade de chuvas este ano. “Nunca vi nada igual”.

Lixo acumulado em buracos próximos, na Favela do Mandela (Foto: Henrique Kawaminami)
Lixo acumulado em buracos próximos, na Favela do Mandela (Foto: Henrique Kawaminami)

A Amhasf informou que mantém telefones à disposição dos moradores para atendimento em caso de emergências relacionadas às chuvas: números 3314-3900 e 99350-1126.

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