Operação "Black Cat" lacra bancas do bicho e inaugura "tolerância zero" ao jogo
Equipes saíram às ruas hoje, um dia antes do previsto, porque a realização da ação vazou aos organizadores do negócio ilegal
Antecipada para esta quarta-feira (23) em razão de vazamento de informações , a fase 4 da “Operação Omertà”, denominada “Black Cat”, lacrou bancas de exploração do jogo do bicho espalhadas por todas as regiões de Campo Grande, mudando paisagem que já era “natural” há décadas. Já sem funcionar porque a investida contra a atividade ilegal foi informada a quem comanda a estrutura, as barraquinhas ganharam faixas pretas e amarelas, lacre e cartaz avisando que tentar reabrir os locais é crime.
Pela primeira vez em muitos anos, não houve extração do jogo do bicho. São duas por dia, 11h e 17h.
As equipes saíram às ruas por volta das 10h e concluíram as ações de hoje por volta das 17h30. Não foi detalhado o número de estruturas lacradas. Eram cerca de 200.
"Tolerância zero” com o negócio ilegal é o que os responsáveis pela Omertà querem adotar daqui para frente, de acordo com levantamento da reportagem. O que não foi bloqueado hoje, será nos próximos dias. Se reabrir, será fechado de novo, conforme apurado.
Para isso, o argumento usado foi a ocupação ilegal do passeio público, destinado ao trânsito de pedestres, além da falta de alvará para o tipo de negócio explorado.
O cartaz colocado nos pontos de aposta também traz um telefone para denúncia, o 3357-9500.
Encaminhamento – Durante o dia, foram levados para depor no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo Banco, Assaltos e Sequestros), no Bairro Tiradentes, pelo menos 20 apontadores da loteria ilegal baseada em números atribuídos a animais.
Como o jogo do bicho não é crime, essas pessoas foram enquadradas em contravenção penal, foram ouvidas, assinaram termo circunstancial de ocorrência, e foram liberadas. Vão responder a processo no juizado especial, que costuma resultar em penas brandas, como prestação de serviço à comunidade.
Foram apreendidos talões de apostas e outros materiais usados nas barraquinhas, que servirão de prova para a investida contra a jogatina.
Ligação - Ao enquadrar as pessoas que trabalham para o "bicho", bloquear as banquinhas e apreender material, a intenção principal, conforme o trabalho investigatório do Campo Grande News, é provar conexão, notadamente patrimonial, entre a exploração do jogo de azar e a milícia armada alvo das primeiras fases da Omertà.
No domingo (27), completa um ano do início da operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) e de força-tarefa da Polícia Civil liderada pelo Garras. Apontado como chefe tanto da milícia quando da “Gato Preto”, organização do jogo do bicho, o empresário Jamil Name, 81 anos, está preso desde setembro do ano passado.
Réu em ações derivadas das outras fases da Omertà, por crimes que vão de tráfico de armas a homicídio por encomenda, o octagenário está preso desde setembro do ano passado, atualmente em unidade prisional federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Lá, também está o filho dele, “Jamilzinho”, 41 anos.
Um dos responsáveis pela defesa de Name, o advogado Tiago Bunning foi procurado pela reportagem. Sobre 4ª fase da Omertà, disse que só se manifestará quando houver algum tipo de comunicado oficial.
A operação seria realizada nesta quinta-feira (25), com cerca de 300 agentes de segurança, A “Black Cat” envolveria Polícia Civil, Gaeco e dois batalhões da Polícia Miltiar, o Choque e o Bope (de Operações Especiais).
A iniciativa acabou restrita ao Gaeco e à Polícia Civil com policiais de unidades especializadas. Bope e Choque não participaram.
A reportagem pediu explicação à prefeitura de Campo Grande sobre a ocupação do passeio público, que segundo a investigação descumpre as regras municipais, mas não houve retorno até o fechamento do texto.
O Gaeco foi procurado e indagado se vai abrir investigação sobre o vazamento da operação, e também não se manifestou.