Prefeitura aciona Justiça para tirar lixo de casa de "acumulador" que morreu
Município quer a autorização porque os vizinhos não aguentam mais matar ratos e suportar cheiro ruim
Imóvel localizado na Rua Pinus, no Jardim Centro Oeste, em Campo Grande, foi abandonada com quantidade expressiva de lixo. O imóvel pertencia a Luiz Carlos Camargo Goulart, falecido em julho deste ano, um conhecido acumulador da região. A situação ficou tão crítica que a prefeitura teve de pedir autorização judicial para a entrada de agentes municipais do setor de vigilância sanitária, para realizar a limpeza do local.
A decisão ainda não saiu, mas os vizinhos torcem para que a prefeitura seja autorizada. Após 5 meses fechado, o quintal da residência se assemelha um lixão, com garrafas e sacolas plásticas, restos de eletrônicos, caixas de papelão rasgadas e restos de comida podre, tudo deixado pelo antigo morador. Também há entulhos e água parada, além do matagal que tomou conta do espaço. A montanha de lixo chega a cobrir metade da porta da casa.
Segundo apurado pela reportagem no local, essa situação já dura quatro anos. O caso já havia sido denunciado ao Campo Grande News pelos vizinhos em 2021.
O imóvel recebeu vistoria sanitária e ambiental, realizada pela Coordenadoria de Controle de Endemias Vetoriais no dia 7 de outubro deste ano. Os fiscais sanitários constataram o completo abandono do local, além da situação degradante do imóvel.
Conforme consta no ofício encaminhado à Procuradoria Geral do Município agora, desde então não foram identificados herdeiros, sucessores ou inventariantes (responsável por administrar herança deixada por falecidos).
Luiz Carlos havia sido internado no Hospital Universitário para tratar de problemas psiquiátricos no início de 2023 e, após a alta social (quando a pessoa não tem familiares que possam acolhê-lo), o idoso ficou na lista de espera por vaga em uma residência terapêutica do município., mas faleceu em 26 de julho deste ano.
Risco à saúde pública - Conforme relata a dona de casa Dilza Soares Macedo, 59, a expectativa era de que o problema fosse resolvido após o idoso ser levado, mas apesar do imóvel estar vazio desde janeiro, nenhuma providência foi tomada.
Segundo a dona de casa, a situação insalubre do imóvel deixou a rua inteira infestada de roedores e insetos.
“Agora, com essa chuvarada, os ratos estão tomando conta. Meu marido compra esse pacotinho [veneno], de oito a 10 saquinhos por semana, para dar conta da infestação. Se você andar no quintal de manhã cedo, você acha bicho grande morto”, relata Dilza Macedo.
Segundo a aposentada Orezina de Oliveira, 66, a situação fica pior em dias chuvosos, pois a água faz com que o mau cheiro do lixo acumulado no terreno se intensifique. O muro da casa da idosa faz divisa com o muro da casa do acumulador falecido.
“Ontem mesmo eu estava sentada aqui, e levei um susto. Tava assistindo jornal, e apareceu um [rato] bruto aqui, parecia um cavalo correndo aqui dentro, sem brincadeira nenhuma. Eles sempre ficam transitando aqui. Eu coloco veneno, uns morrem, outros fogem, mas rato e pernilongo é o que mais tem”, relata a aposentada.
Espera - A situação insalubre e degradante da residência é um risco à saúde da vizinhança, comprovado pela vigilância sanitária, no relatório encaminhado à Procuradoria Geral do Município. A espera para que o poder público tome uma providência sobre o local gera a indignação de Dilza Macedo.
A moradora comenta que foram realizadas inúmeras denúncias para a vigilância sanitária por parte da vizinhança. “Vai esperar morrer um da rua com dengue? Porque a dengue está solta aí. E os ratos cheios de doenças também”.
Ela ressalta que a vizinhança é, em sua grande maioria, de pessoas idosas e vulneráveis à contraírem doenças. "Diz que está na mão da justiça. Que justiça é essa? E nós, como é que ficamos? Nós aqui da rua é tudo cabecinha branca. Não tem nenhum novinho aqui não".
A aposentada Orzelina de Oliveira também aguarda ansiosa por uma solução. "Desde janeiro, que levaram ele [o acumulador], ninguém fala nada, não fazem nada. Eles tem que tomar uma providência, porque eles ficam fazendo propagada da dengue, mas e esse terreno ai?", questiona a idosa.
Histórico - Luiz Carlos possuía histórico de internação compulsória por causa de problemas mentais e alcoolismo e já havia sido preso em 2021 por crime ambiental, por acumular lixo em outra casa, que ficava na Vila Piratininga.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande, a respeito da ação, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para a manifestação.
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