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Capital

Prefeitura atrasa repasses e funcionárias de home care ficam sem salário

Três técnicas de enfermagem que atuam na empresa procuraram a reportagem e relataram a espera pelo pagamento

Lucia Morel | 26/01/2023 19:34
Fachada na Abrace, na rua Bahia. (Reprodução Google Maps)
Fachada na Abrace, na rua Bahia. (Reprodução Google Maps)

Funcionárias da empresa de assistência em saúde domiciliar Abrace procuraram o Campo Grande News porque estão sem o pagamento do salário de dezembro até agora. A empresa presta serviço para a Prefeitura de Campo Grande e, segundo os dirigentes, os repasses não têm sido feitos.

Três técnicas de enfermagem que atuam na empresa procuraram a reportagem e relataram a espera pelo pagamento. Uma delas depende apenas da Abrace e diz não ter mais alimentos em casa e nem mesmo dinheiro para colocar gasolina na moto para poder ir até a casa da paciente que atende.

Elas preferiram não se identificar para evitar retaliações, mas todas afirmaram que a direção da Abrace diz que não tem recebido da prefeitura e, por isso, tem atrasado os salários. A demora tem sido frequente nos últimos quatro meses, mas neste janeiro piorou, já que hoje é dia 26 e não há nenhuma previsão de pagamento.

“Trabalho lá há três anos e meio e nunca aconteceu isso. O dono fala que não recebeu da prefeitura e não tem o que fazer para nos pagar. Tem gente que nem mesmo recebeu o salário de novembro ainda”, contou uma delas, que tem 47 anos, lembrando que o trabalho é autônomo e elas recebem por plantão de 12 horas, que varia de R$ 110,00 a R$ 135,00 por dias e horários.

Ela afirma que tem mantido atendimento à família assistida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) porque “eles não tem culpa”, mas também porque tem outro emprego, entretanto, uma colega sua, de 64 anos, que relata não ter mais condições de comprar comida nem de colocar combustível em seu veículo para poder atender a paciente. “Eu não sei mais o que fazer”, lamentou.

A funcionária disse que o argumento da empresa é o mesmo: a prefeitura não fez o repasse devido pelos atendimentos de home care. “O pagamento sai sempre dia 10. Hoje já é 26 e eu não tenho nada pra comer em casa. Está me batendo ansiedade porque as pessoas estão me cobrando pagamentos que eu não fiz”, lamentou.

Outra técnica de enfermagem, de 32 anos, reclama da mesma situação. “Já vai pro quarto mês dos atrasos, mas sempre paga, atrasado, mas pagam. Mas agora ultrapassou todos os limites e não temos nem previsão de receber”, contou, reforçando que o dono da empresa “vai praticamente todos os dias na prefeitura tentar resolver, e nada”.

A reportagem entrou em contato com a prefeitura, que respondeu que a informação de falta de pagamento da empresa desde setembro não procede. "Nesta semana a Sesau está regularizando esta situação com todas as empresas. Estima-se que até o final do mês todos os pagamentos estarão regularizados", declarou. A direção da empresa também foi procurada, e informou que “houve atraso no repasse da prefeitura, mas já estamos regularizando. Eles já começaram a depositar”, disse o proprietário Cleber Ferraro Vasques, por mensagem.

Na página da Transparência Municipal, a reportagem identificou que os últimos repasses à empresa foram de R$ 14.700,00 e R$ 5.390,00 nos meses de setembro e outubro, respectivamente. O município mantém dez contratos com a Abrace desde o começo do ano passado, todos de home care sob demanda judicial. O mais antigo começou em 17 de janeiro de 2022 e o mais prolongado segue até janeiro de 2024.

Dos contratos, o mais volumoso é de R$ 200.021,75, sendo que R$ 52.349,00 já foram pagos, com validade até julho deste ano. Os demais contratos têm valores que variam de R$ 7,2 mil a R$ 36,9 mil, maioria com validade de um ano.

(*) Matéria atualizada às 11h25 de sexta-feira (27) para acréscimo de nota da prefeitura.

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