Réu por executar traidor do PCC achou que cárcere era churrasco entre amigos
Dos 15 acusados, dois já foram condenados pela execução e Mauro Éder Pereira, o "Fininho", em 2017
Três réus estão sendo julgados hoje pela morte de Mauro Eder Araújo Pereira, o “Fininho”, assassinado com tiro na cabeça no tribunal do crime do PCC (Primeiro Comando da Capital). No júri, dois deles alegaram desconhecer que a casa em que estavam era cárcere da vítima, achando que a reunião de pessoas era churrasco de fim de semana.
A denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) alega que “Fininho” foi morto por ter traído o PCC e se aliado ao CV (Comando Vermelho).
De 29 de maio a 3 de junho de 2017, ele foi levado a cinco cárceres, conhecidos como “cantoneiras”, no mundo do crime. "Fininho" passou pelos bairros Portal Caiobá, Mário Covas, Jardim Noroeste, Estrela D´Alva e Jardim Veraneio. Neste período, a vítima foi obrigada a gravar vídeo, suplicando pela vida. Também há foto dele com dois dos acusados. Depois da peregrinação, foi executado com tiro na cabeça, numa estrada vicinal perto do Autódromo Internacional.
No total, em agosto daquele ano, 15 pessoas foram denunciadas pelo crime de homicídio qualificado, cárcere privado e associação criminosa. O juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Aluízio Pereira dos Santos, impronunciou, ou seja, julgou improcedente as acusações contra seis deles.
Em agosto de 2020, a impronúncia foi reformada pelo TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) para três, que ainda serão levados a julgamento: Joceli Lima dos Santos, 29 anos, o “Neném do PCC”, Luan Avila Santana, 25 anos, o “Maconha” e Luiz Alberto de Jesus Ramos, 28 anos, o “Beto”.
Dos acusados, três já foram a julgamento em agosto de 2018, dois deles, condenados: André Abner Correa de Arruda, 25 anos, o Gordinho, que confessou o crime, dizendo que agiu sozinho para acertar dívida de droga. Foi sentenciado a 19 anos e cinco meses de prisão; Claudimon Moreira da Silva, 40 anos, condenado a condenou a 19 anos e oito meses de prisão, em júri de agosto de 2018.
Hoje, estão sendo julgados Luan Laftan da Silva Queiroz, 26 anos, o “Camarote”, Miguel Angelo Sanches Benites, 24 anos, o “Paraguai” e Diego Alcunha Medina, 28 anos, o “João Lucas”, “Piveti” ou “PCC Integrante”.
Júri - Em depoimento durante o julgamento, Luan Laftan negou participação no crime. Diz que é calheiro de profissão, nunca teve envolvimento com PCC e nem tem apelido de “Camarote”. Alegou que saiu do trabalho na hora do almoço e foi tomar cerveja com amigo “Neném”. Este é Joceli Lima dos Santos, 29 anos, o “Neném do PCC”.
Laftan diz que os dois passaram em frente da casa de Luiz Alberto de Jesus. Este endereço, de acordo com a denúncia do MPMS é o segundo cárcere de “Fininho”, no Estrela D´Alva.
O acusado nega que tenha cuidado da vítima. “Paramos lá, tinha bastante gente fazendo churrasco lá, ficamos lá, usei cocaína e, depois, fomos embora de moto”, contou.
Laftan diz ter visto “Fininho” na casa e não pareceu estar em cárcere. “Estava sentado, tranquilo, conversando com os caras, não notei nada de anormal. Tinha música, nem notei nada, estava sob efeito de droga”, justificou. “Não sei se estavam fazendo interrogatório”. Também não prestou muita atenção. “Estava usando droga, cocaína te deixa desinquieto de ficar em um lugar só”.
O depoimento seguinte foi de Miguel Ângelo, 24 anos, o “Paraguaio”. Relatou ao juiz que, de todos os acusados, só conhecia André Abner, pois moravam no mesmo bairro, o Jardim Noroeste. Também nega participação no crime e que só estava na casa de Abner para dormir, depois de ter brigado com a esposa.
A casa de Abner teria sido o quinto e último cárcere de “Fininho”, antes de ser levado para execução. “Não sei o que estava acontecendo no dia, estava sob efeito de droga e bebida, com muito sono, só queria descansar”. Descreveu cenário que seria de reunião de amigos. “Era som ambiente que tinha lá, pessoal estava fumando maconha”.
Miguel Ângelo diz que só ficou sabendo do crime na prisão, para onde foi por conta de condenação por tráfico de drogas. “Não sei te dizer porque estou aqui e nem porque o André Abner soltou meu nome”.
O terceiro réu, Diego Alcunha Medina, foi acusado de ter atirado na cabeça da vítima. Já teve condenações por tráfico de drogas em 2013 e roubo em 2017, mas nega participação no homicídio. “Eu não participei desse crime, todos os que cometi eu confesso, sei dos meus erros, mas não tenho participação nesse”, disse, explicando que confessou o crime sob tortura na delegacia. Medina diz não conhecer os outros acusados.