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Capital

Durante julgamento, réu assume assassinato e “livra” PCC de crime

No depoimento, André Abner afirmou ter matado Mauro Éder Araújo, o “Fininho”, sozinho e gritou que ninguém mandava nele

Geisy Garnes e Danielle Valentim | 19/09/2018 14:38
André e Carlos durante julgamento no Tribunal do Júri (Foto: Danielle Valentim)
André e Carlos durante julgamento no Tribunal do Júri (Foto: Danielle Valentim)

Passam por julgamento nesta quarta-feira (19) André Abner Correa de Arruda, de 20 anos, e Carlos Henrique de Oliveira Arguelho, réus pela morte de Mauro Éder Araújo, o “Fininho” - executado com tiros na cabeça em maio do ano passado, após ser torturado e condenado pelo “Tribunal do Crime”. Outras 12 pessoas foram identificadas por envolvimento no caso.

Agindo com deboche, desrespeito e se referindo ao juiz por “você”, André Abner Corrêa de Arruda assumiu ter matado “Fininho” sozinho, por causa de dívida de droga. Os restos mortais da vítima foram encontrados em julho, em meio à mata fechada, às margens da estrada vicinal que dá acesso ao balneário Atlântico, na saída para Três Lagoas, em Campo Grande.

Diante do juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, o suspeito desmentiu ter cometido o assassinato a mando do PCC (Primeiro Comando da Capital) em um “Tribunal do Crime” e chegou a gritar quando ouviu a afirmação da promotoria. “Ninguém manda em mim”, disse.

As investigações no entanto, apontam que o assassino de “Fininho” foi João Lucas e que André agia como “peão do PCC”. No julgamento, o promotor Douglas Oldegardo Cavalheiro ressaltou que, apesar de não ter matado a vítima, como afirma, o réu recebia ordens do presídio. Entre as determinações, estaria a de furto ao celular de Gláucia Maria Padim, vulgo “Branca”, considerada irmã da facção.

A ordem do crime teria partido de Paulo Roberto Dias, “o Perturbado” - interno do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande - após “Branca” ter sido considerada suspeita de traição. As investigações apontaram ainda a presença de André na quinta e última cantoneira - nome dado às casas usadas como cativeiros durante os “tribunais do crime”.

O promotor reiterou em julgamento que ter assumindo os disparos e afirmando ter agido sozinho, concederá a André status dentro da facção. “O interrogatório de hoje serviu para que André seja promovido a irmão do PCC. O presídio inteiro já está sabendo das afirmações, do desrespeito, dos gritos, das risadas e até de ter se referido ao juiz como “você”. De alguma forma André fez a parte dele dentro do crime organizado”, finalizou.

Enquanto isso, Carlos apenas negou conhecer os envolvidos no crime ou ter qualquer participação no assassinato.

Fininho em vídeo implorando por uma oportunidade no PCC (Foto: Danielle Valentim)
Fininho em vídeo implorando por uma oportunidade no PCC (Foto: Danielle Valentim)

"Cantoneiras" - Segundo as investigações da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), “Fininho” passou por cinco cantoneiras antes de ser executado. Diferente das outras mortes coordenadas pelo PCC, a vítima foi mantida por mais tempo como refém para ser interrogado.

“As trocas de casas não demoram mais de dois dias, para que a polícia não descubra, mas o julgamento do Fininho demorou mais, pois o PCC queria saber nomes e grau de vulnerabilidade do Comando Vermelho, no Estado e na Capital”, reforçou o promotor Douglas durante o júri.

Um exemplo disso, segundo o promotor, foi a morte de Rudnei da Silva Rocha, o “Babidi”, um dos nomes entregues por “Fininho” como integrante do Comando Vermelho.

Na primeira casa, estavam Israel Rodrigues Lopes, o Coringa e mais dois comparsas. Na segunda casa, Luan Avila Santana, o Maconha e outros dois comparsas. Na terceira cantoneira, estavam Luis Alberto de Jesus Ramos, o Beto, e os suspeitos identificados como Camarote e Neném PCC.

Neste local, Neném chegou a tirar fotos com armas. Na quarta casa, no bairro Jardim Veraneio, estavam Carlos Henrique de Oliveira Arguelho, o Eclipse, e mais uma vez Camarote e Neném PCC. Foi na quarta cantoneira que “Fininho” foi gravado entregando comparsas e pedindo uma nova chance ao PCC.

Na quinta e última casa, estavam André Abner, o Gordinho, Glaucea, a “Branca”, “Camarote” e João. Lucas.

Suspeitos - Em julho do ano passado, quatorze pessoas foram identificadas como suspeitos do crime pela DEH, além de quatro adolescentes. Foram eles:

Claudimon Moreira da Silva, 36 anos, Joceli Lima dos Santos, 23 anos, Luan Avila Santana, 20 anos, Luis Alberto de Jesus Ramos, 23 anos, André Abner Correa de Arruda, 20 anos, Israel Rodrigues Lopes, 23 anos, Maycon Erickson Dias Ponsolle, 23 anos, Luan Laftan da Silva Queiroz, 21 anos, Diego Alcunha Medina, 23 anos, Cristhian Thomas Vieira, 28 anos, Glaucia Maria Padim, 31 anos, Miguel Angelo Sanches Benitez, 19 anos, Carlos Henrique de Oliveira Arguelho, 39 anos e Leonardo Caio dos Santos, 28 anos. Os adolescentes tiveram a identidade preservada.

Em julho, doze pessoas foram presos e quatro adolescentes apreendidos (Foto: João Paulo Gonçalves)
Em julho, doze pessoas foram presos e quatro adolescentes apreendidos (Foto: João Paulo Gonçalves)
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