Seis meses após morte, pai de Brunão cumpre promessa e abre fundação
Fundação Bruno Escobar começa a funcionar no próximo dia 20
A Fundação Bruno Escobar está a poucos dias de sair do papel. A promessa que João Márcio Escobar fez ao filho morto por Cristhiano Luna enquanto trabalhava como segurança em uma casa noturna, vai se tornar realidade.
Hoje, durante mais uma manifestação de famílias vítimas da violência, na esquina da avenida Afonso Pena com a rua 14 de Julho, João Escobar já podia comemorar uma vitória no caminho da Justiça pela morte de Jefferson Bruno Escobar, a Fundação inaugura dia 20 deste mês.
Os protestos pedindo por Justiça e para que o caso não caia no esquecimento é apenas uma das ações que a Fundação vai abraçar. A iniciativa de lutar pelo que é justo para os autores da violência virou bandeira para João. As manifestações feitas praticamente todos os meses desde março de 2011, inclui em cada protesto mais uma família vítima da criminalidade.
“Estamos nós, a mãe da Bruna, convidei também a família do Manoel Dudu”, conta se referindo ao assalto que terminou na morte do taxista no último dia 26 de agosto.
“A mãe do Paulinho conseguiu na Justiça que o criminoso fosse apenado. É isso que a gente quer, eu não quero que ele mofe na cadeia, nem fazer justiça com as próprias mãos eu quero. Eu só quero o que é justo, o que for decidido pelo Júri”, declara sobre a condenação de Cristhiano Luna.
As famílias vítimas da criminalidade se abraçam na tentativa de dar consolo umas às outras e força na hora em que pais e filhos mais precisam. “Eu fui até o ponto de táxi em que ele trabalhava. Agora o filho dele que está ali e no mesmo carro”, relata João.
O trabalho da Fundação, além de unir os familiares vai ser empenhado também em campanhas contra a violência nas escolas. “Vamos estar com pré-adolescentes, adolescentes, jovens e adultos. A sociedade não pode se calar. A violência está banalizada, virando uma coisa comum. Precisamos fazer alguma coisa”, declara o pai de Brunão.
O fato de não deixar a “peteca” cair e lutar com todas as forças contra a violência teve como base também o exemplo da Fundação paulista Ives Ota, criada em 1997 pelo casal Massataka e Keiko Ota, depois que o filho de apenas 8 anos, foi assassinado por três homens em sua própria casa, na Zona Leste de São Paulo.
O menino Ives morreu porque reconheceu um dos sequestradores, que fazia a segurança nas lojas do pai.
“A impunidade é a grande responsável pela criminalidade. Eles cometem e não veem a punição, dá a impressão de que o crime compensa”, ressalta João.
Segundo o pai de Brunão, por esse motivo é que a bandeira levantada por ele vai continuar erguida.
“Nós temos que mudar urgentemente o Código de Processo Penal. O Judiciário fica refém do Código e acaba soltando quem comete crimes, como aconteceu com a Daniela, que matou a jovem Bruna. Ela ficou presa 84 dias, como não teve julgamento, eles soltaram. E se não solta é o Judiciário que pode ser preso”, fala.
O primeiro passo da Fundação é se reunir com o deputado federal Fábio Trad (PMDB), presidente da comissão do novo Código de Processo Civil.
“A Fundação vai falar com a comissão. Nós temos que mudar isso logo e envolver toda a sociedade que é a maior interessada”, acredita João.
O projeto de novo Código de Processo Civil foi elaborado por uma comissão de juristas coordenada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux - então ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O texto, que já foi aprovado pelo Senado em dezembro do ano passado, tem como principal objetivo dar agilidade à tramitação das ações, com a limitação de recursos e de formalismos desnecessários, o reforço à jurisprudência e a criação de um mecanismo para a resolução, em apenas uma decisão, de causas que se repetem no Judiciário.
“Eu prometi para no caixão do meu filho que enquanto eu tivesse vida eu ia lutar por Justiça. A gente tem que continuar, ele não vai voltar, mas o que me resta é a luta”, finaliza a mãe de Brunão, Edcelma Vieira Gomes.