Sem respostas, pai de Carla desabafa: "foi difícil ver ela jogada, morta"
Jovem foi levada da porta de casa no dia 30 de junho e o corpo deixado na esquina de casa, 3 dias depois
Toda morte enche de luto o ambiente familiar. Em toda casa onde alguém se foi, por todo o canto, os dias são marcados pela ausência. Para a família de Carla Santana Magalhães, é pior. Há mais de 200 horas, o lar onde ela vivia com a mãe e um irmão, até ser sequestrada e assassinada de forma brutal, é preenchido pela pergunta incessante: por quê?
A mãe, de 58 anos, não consegue falar a respeito. Sob efeito de medicamentos, já foi três vezes tentar dar o depoimento à Polícia Civil na última semana. Não foi possível. A palavras não saem.
O pai, o mestre de obras Carlos Araújo Magalhães, 56 anos, é quem consegue falar brevemente com a reportagem, não sem sofrimento. “Foi difícil ver ela jogada, morta daquele jeito aqui na esquina, eu me segurei, estou tentando ser forte”, conta.
“Não tem explicação do porquê mataram ela e ainda deixaram na esquina da nossa casa. Nossa angústia era não ter achado ela, mas jogaram ali. Pelo menos conseguimos despedir dela”, balbucia.
Mudança triste - Carlos estava trabalhando em Porto Murtinho, na fronteira brasileira com o Paraguai, a mais de 400 quilômetros de Campo Grande. Voltou, diante da tragédia familiar.
Está sem chão, como é se de imaginar. Durante a conversa de poucos minutos, diz à repórter a todo tempo o quanto a família está incrédula, e assustada, com a morte tão violenta de Carla. “Não faço ideia de quem fez algo tão cruel”.
“Estamos cismados, ainda não acharam quem fez isso é nosso medo é e se eles fazem isso de novo com mais alguém da nossa família”. Na semana passada, ele chegou a falar em uma “vingança”, mas na entrevista de hoje, reforçou não ter suspeitas do que possa ter ocorrido.
Ele prestou depoimento na DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios).
Memória - Na lembrança do mestre de obras, ficou o retrato de uma filha “brincalhona e comportada”, como define. “Ela faz muita falta, ela era tudo para nós, ela era uma boa filha, muito comportada, não tinha o que reclamar dela. Ela era só na brincadeira, muito feliz, risonha. No dia eu falei com ela duas vezes e na terceira já tinha acontecido”, relembra.
No túmulo onde Carla foi sepultada, no cemitério Santo Amaro, o amor das famílias está cravado, no cimento do jazigo simples. "Te amamos".
O tom sobre as investigações policiais é de resignação. “Estamos deixando na mão da justiça, já mataram ela e isso não vai mudar, não temos mais o que fazer. O que fica agora é a dor de ter perdido nossa filha”, diz.
Dor em dobro – O pai de Carla revelou que o vídeo de câmera de segurança registrando os gritos da jovem ao pedir ajuda à mãe, quando foi levada à força, foi puro sofrimento para a família. “Quando ouvimos os gritos dela na câmera de segurança, pedindo socorro, eu desliguei a televisão. Eu não aguentei imaginar o sofrimento que a minha filha passou”.
“E o pior é que não conseguimos ajudar e nem fazer nada”, lamenta.
A gravação, obtida pelo Campo Grande News dois dias atrás, tem o registro em áudio do exato momento em que a vítima gritou pela mãe e disse estar sendo “roubada”.
São menos de 20 segundos, cujo conteúdo é relevante para o inquérito. Fica claro que Carla foi levada forçadamente e que pelo menos duas pessoas agiram: uma para atacar a moça e outra para dirigir o veículo onde foi levada. Uma pessoa só não conseguiria fazer isso tão rapidamente.
O responsável pelo caso, o delegado Carlos Delano, falou apenas uma vez sobre o inquérito. Disse que não adiantaria linha investigatória ou suspeitos, para não comprometer o trabalho.
Informou, ainda, que a morte de Carla, com um corte profundo no pescoço, ocorreu poucas horas após o sequestro. O cadáver tinha, ainda, sinais de tortura e violência sexual.