Sindicato sai em defesa de secretário que elogiou Hitler em reunião
Anderson Gonzaga da Silva pediu desculpas e considerou comentário como "infeliz"
O Sindgm (Sindicato dos Guardas Municipais de Campo Grande) se manifestou em defesa do secretário municipal de Segurança, Anderson Gonzaga da Silva Assis, após ser citado em reportagem como tendo feito apologia ao nazismo. O caso ganhou destaque após uma fala do titular, na qual ele teria elogiado Adolf Hitler durante uma mobilização contra a prefeitura.
A nota pública do sindicato, divulgada no fim da tarde desta quarta-feira (6), argumenta que a declaração de Gonzaga foi "descontextualizada" e que não deve ser considerada um crime. Hudson Pereira Bonfim, presidente do Sindgm, expressou sua posição sobre o ocorrido, destacando que, apesar das divergências históricas entre o sindicato e a gestão municipal, isso não justifica a exposição "injusta" do secretário.
A nota ainda critica a forma como a população tem tratado a declaração, afirmando que, de acordo com o sindicato, "[...] não há base para a acusação de apologia ao nazismo, e que a fala de Gonzaga deve ser analisada com mais cautela".
Por fim, o sindicato da GCM (Guarda Civil Metropolitana) reiterou o compromisso com a defesa dos direitos dos trabalhadores e a busca pela justiça, "independentemente dos desentendimentos políticos passados", e reafirmou seu apoio ao secretário, alegando que ele "não deve ser alvo de justiçamento público".
A polêmica surgiu após uma reportagem do Campo Grande News publicada na terça (5), que trouxe à tona o comentário de Gonzaga, levando à repercussão negativa. A fala é antiga e aconteceu durante conversa convocada por ele no primeiro semestre para cobrar membros do Romu (Ronda Ostensiva Municipal), que participaram da mobilização contra a prefeita Adriane Lopes (PP). Na época, os servidores montaram acampamento no canteiro em frente ao Paço Municipal em protesto à falta de reajuste salarial e ao não pagamento de adicional de insalubridade.
Em um trecho da reunião, o secretário afirmou: "Fizeram até videozinho do Hitler. Eu até admiro Hitler, porque ele era um cara inteligente. A Alemanha é a potência que é hoje graças ao Hitler. Estrategista, um cara inteligente. Foi ditador, sim. Tinha as ideologias dele e conquistou o que conquistou graças à inteligência dele. Então só colocar na Netflix lá, na Segunda Guerra Mundial, como ele conquistou e fizeram um videozinho eu queria ser. Mas me dói porque eu queria ser um terço daquilo. Principalmente com esse grupamento aqui".
Embora Anderson tenha se referido à inteligência estratégica de Hitler em sua fala, fica claro o tom elogioso e admiração pelo ditador. Ao declarar que "queria ser um terço daquilo" que Hitler alcançou, o secretário parece ter feito uma analogia que muitos consideraram inapropriada e perigosamente positiva em relação a um dos regimes mais opressivos e violentos da história moderna.
O secretário foi procurado pela reportagem, e em nota, ele se defendeu. Admitiu que errou e pediu desculpas pelo "comentário infeliz" que fez na ocasião. "É importante explicar que o tema veio durante uma fala na qual eu me defendia sobre uma montagem maldosa de um vídeo no qual eu era comparado a Hitler. Refletindo agora, percebo que mencionei um aspecto histórico de forma inadequada, sem considerar o contexto sensível e o impacto emocional que isso poderia ter causado. Em nenhum momento minha intenção foi minimizar as atrocidades cometidas por Hitler e seu regime. No momento em que me defendia, o que tentei destacar, embora de maneira desastrosa, era uma análise do contexto estratégico de um período histórico específico, mas reconheço que isso não tem lugar em um ambiente como o nosso, que dever ser pautado pelo respeito e pela consideração pelas experiências de todos", diz trecho da nota.
O que diz a lei - Vale lembrar que a legislação brasileira proíbe qualquer manifestação ou promoção de ideologias que incentivem o ódio, a violência ou a discriminação, especialmente quando relacionadas ao regime nazista.
Artigo 20 da Lei nº 7.716/1989, a lei que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor é a principal legislação que trata da questão. Ele diz: "Art. 20. Fazer, direta ou indiretamente, apologia de fato ou ato discriminatório, referente a raça, cor, etnia, religião ou origem, é punido com reclusão de 2 a 5 anos, e multa." Além disso, o Artigo 5º da Constituição Federal, que garante a liberdade de expressão, também estabelece limites para esse direito, especialmente quando se trata de incitação ao ódio e discriminação. A Constituição brasileira afirma que é “vedado o anonimato” e protege contra a “apologia ao crime”.
A Lei 9.459/1997, que alterou a Lei nº 7.716/1989, também inclui como crime a “distribuição, divulgação ou exposição de símbolos nazistas”, como suásticas, uniformes e outros símbolos associados ao regime de Adolf Hitler. Essa legislação é clara ao proibir a apologia ao nazismo, estabelecendo penalidades severas para quem fizer apologia ou promover essa ideologia. A pena prevista para quem pratica esse tipo de apologia pode ser de ”reclusão de 3 a 5 anos e multa”, dependendo do caso.
Leia a nota na íntegra:
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