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Cidades

Chefes de consórcio contrabandista criaram aliança “narcocigarreira”

Quatro líderes da quadrilha estavam escondidos desde 2011 após fuga ao Paraguai

Danielle Valentim | 22/09/2018 14:35
Delegado da Polícia Federal Felipe Vianna de Menezes destacou que a PF entrou em uma das organizações mais complexas do país. (Foto: Kísie Ainoã)
Delegado da Polícia Federal Felipe Vianna de Menezes destacou que a PF entrou em uma das organizações mais complexas do país. (Foto: Kísie Ainoã)
Coletiva na PF para divulgação de dados parciais da operação neste sábado (Foto: Kísie Ainoã)
Coletiva na PF para divulgação de dados parciais da operação neste sábado (Foto: Kísie Ainoã)

A Operação Nepsis deflagrada neste sábado (22) em Mato Grosso do Sul e mais quatros Estados, ainda não acabou, mas escancarou a forma de agir de uma das organizações mais complexas do país, no ponto de vista criminoso. Líderes da organização empresarial intitulado pela polícia de “Consórcio de Contrabando” enriqueceram com alianças “narcocigarreiras” e em cima de dois pilares: a estrutura logística altamente sofisticada e a corrupção policial.

O delegado da Polícia Federal Felipe Vianna de Menezes destacou que a PF entrou em uma das organizações mais complexas do país, no mundo do crime. “É uma investigação de dois anos e a PF conseguiu entrar na estrutura da organização. É uma organização empresarial que funcionava em cima de dois pilares: a estrutura logística altamente sofisticada e a corrupção policial”, explicou.

Menezes pontuou que a estrutura logística se desenvolvia por meio da mobilização de gerentes. Essas pessoas eram responsáveis por determinados trechos das rotas e por recrutar batedores, mateiros e motoristas para passarem as cargas, tendo em vista, que o contrabandista escolhido só consegue passar por determinado local com a liberação do gerente.

“Esse liberação vai acontecendo de trecho em trecho até a saída do Estado. Outro papel, além de coordenar a movimentação, é o do policial corrupto, que atua como ponte entre a organização e outros policiais. E esse policial, normalmente age com vista grossa, ou seja, deixa de fiscalizar”, disse.

Influência, consórcio e enriquecimento – Um dado interessante levantado na investigação é o poder de influência que os “gerentes” possuíam sobre diversos policiais. “Foram interceptadas ligações que os gerentes ordenavam aos policiais fizessem a “contra vigilância” e identificassem policiais honestos, ou seja, os recrutados deveriam chegar até os honestos e impedir a fiscalização das cargas”, disse.

A organização tem raízes mais fortes no sul de Mato Grosso do Sul, no entanto, recentemente, os “cabeças” haviam inaugurado base operacional em Pedro Juan Caballero, no Paraguai. O que se detectou, segundo o Felipe Vianna foi o aumento do nível de violência da organização e, inclusive a criação de alianças com facções criminosas e grandes narcotraficantes, chamadas de “Narcocigarreiras”.

“Em dezembro de 2017 a principal base de entrada da organização – Pedro Juan – foi objeto de operação da Polícia Paraguaia, e nessa ação foram presos diversos traficantes e apreendidos diversos fuzis. Foi uma ação de grande repercussão em solo paraguaio”, disse.

O delegado Felipe Menezes explica que a organização começou passando as próprias cargas, mas quando dominou a estrutura logística e aumentou os gastos com os “recrutados” iniciou a passagem de carga de outros cigarreiros se tornando uma espécie de “consórcio de contrabando”.

A organização criminosa possuía quatro líderes que já haviam sido alvo de operação em 2011, em Naviraí. No entanto, eles escaparam e permaneceram foragidos até julho de 2018, quando houve a prescrição dos crimes. “Mesmo com os mandados de prisão vencidos, eles adotavam muita cautela para entrar no Brasil e o casamento que ocorreria em um resort no nordeste foi um marco para a deflagração desta operação”, disse o delegado Felipe Menezes.

“Temos que usar inteligência, estratégia, informação e tecnologia, para conseguir monitorar todas as nossas estradas, pois essas organizações são muito móveis e as estratégias mudam a todo o momento", pontua o delegado adjunto Henry.
“Temos que usar inteligência, estratégia, informação e tecnologia, para conseguir monitorar todas as nossas estradas, pois essas organizações são muito móveis e as estratégias mudam a todo o momento", pontua o delegado adjunto Henry.

O delegado adjunto da Receita Federal em Mato Grosso do Sul, Henry Tamashiro de Oliveira destacou a importância do trabalho integrado das forças, a dificuldade em manter o sigilo durante a operação, devido ao envolvimento de agentes públicos e dados importantes sobre apreensões de cigarro em Mato Grosso do Sul.

“Temos que usar inteligência, estratégia e informação, aliando tecnologia para conseguir monitorar todas as nossas estradas, pois essas organizações são muito móveis e as estratégias mudam a todo o momento. O trabalho da Receita também é de apoio, pois temos muitos dados para cruzar e montar o quebra-cabeça. Além disso, a maior dificuldade foi em manter o sigilo, porque como temos agentes públicos envolvidos temos dificuldades em saber até onde podemos envolver mais pessoas. Mas foram identificados problemas e estamos resolvendo esses problemas”, disse.

Ainda segundo Tamashiro, essas organizações crescem, pois movimentam dinheiro. “Dinheiro deixa rastro e são várias situações que chamam a atenção da polícia, como notas fiscais, registro de embarcações, de veículos, movimentações financeiras, que nossas equipes analisam. A partir do momento que levantam um indício, verificamos e essas provas vão se juntando para montarmos as provas relacionadas ao esquema. Ela consegue se estruturar dessa forma é porque movimenta dinheiro”, explica.

Atualmente, as forças apreendem por ano em MS cerca de R$ 300 milhões em cigarros contrabandeados, valor equivalente a 60 e 70 milhões de maços. Houve uma mudança no cenário e queda no contrabando de eletrônicos, mesmo assim 95% do contrabando de Mato Grosso do Sul é de cigarro, cerca de 25% de todas as apreensões do Brasil.

As apreensões são feitas pela Receita, PRF, PF, polícias militar e civil, além do apoio do Exército e a previsão para 2018 é de que tenha um aumento de 30% nas apreensões.

“Em 2017 foram apreendidos 60 milhões de maços de cigarros, cálculo aproximado pelo volume nos quatro depósitos de MS, em Mundo Novo, Ponta Porã, Corumbá e Campo Grande. Mesmo autuando de forma ostensiva, ainda não é suficiente. Se não unirmos força de montar quebra-cabeça da organização e tentar desmantelar estrutura e sufocar as organizações financeiramente, não chegaremos ao objetivo, precisamos de recurso, efetivo, mas o trabalho de todas as instituições é um trabalho sério e que tem dado resultado”, finalizou.

O delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul, Cléo Mazzotti destacou o motivo do termo “cortar a própria carne” e que a operação ainda não acabou.

“Essa fornalha que se tornou MS, até por uma questão geográfica, que atrai muita organização forjou essa união de forças entre várias instituição. E hoje o que chamamos de cortar na própria carne é o que as policias estão fazendo. Esse consórcio era comandado por quatro indivíduos, mas ainda temos diligências em andamento, ainda não acabou e nem todos indivíduos estão presos”, disse.

Prisões - Três dos quatro líderes foram presos na manhã deste sábado, quando se preparavam para festa de casamento nesta tarde, em um resort em Maceió, Alagoas. Um deles era o noivo, que não teve o nome divulgado. O quarto homem, alvo da operação, foi preso em Eldorado quando pescava em um rio no fundo de casa. Além dos cigarreiros, doze policiais estão presos.

Até o começo da tarde deste sábado já haviam sido cumpridos 29 dos 43 mandados de prisão, sendo 20 contrabandistas, seis policiais rodoviários federais, quatro policiais militares e dois policiais civis. Também foram apreendidos R$ 250 mil em dinheiro e vários bens como carros, lanchas, jet ski e mercadorias contrabandeadas.

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