Cimi culpa Funasa por morte de índia em área de conflito
A omissão da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) em prestar atendimento à índia Tatirrara, de 2 anos, é citada pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário) como causa da morte dela, ocorrida hoje no acampamento Jaguá Ambá Cué, dentro da fazenda Maria Auxiliadora, em Coronel Sapucaia.
Tatirrara, filha de Jaeson Batista e Marcelina Rodrigues, morreu em decorrência de desnutrição. Existe a informação de que a criança estava sofrendo de diarréia e vômito há 15 dias.
Conforme o Cimi, a Funasa foi informada sobre o caso e solicitada a prestar socorro necessário. A menina apresentava ainda inflamação na garganta, fator que provocou a desidratação do corpo e contribuiu para seu falecimento.
O local está sendo palco de muita tragédia, de acordo com o Cimi, já que anteontem o adolescente Osmair Martins Ximenes, 15 anos, foi encontrado morto próximo à escola da aldeia Taquapery, a 25 quilômetros de Sapucaia.
O Cimi faz suposições de que Ximenes tenha sido morto por causa da retomada da comunidade guarani-kaiowá Kurusú Ambá a uma propriedade rural em Sapucaia, próximo à fazenda Madama. Em nota encaminhada pelo conselho, há a informação de que o adolescente foi espancado e torturado.
Solicitação - Há dez dias, as lideranças da comunidade em que a criança se encontrava encaminharam uma "solicitação desesperada" ao MPF (Ministério Público Federal), segundo o Cimi.
Os indígenas frisaram na solicitação de ajuda que várias outras crianças estariam sendo vítimas de desnutrição. Eles queriam que "a Funasa entrasse dentro da fazenda Maria Auxiliadora para atender aos que estão doentes e que a Funai [Fundação Nacional do Índio] levasse cesta básica".
Segundo os indígenas, a resposta do MPF foi negativa alegando que a Funai e a Funasa não poderiam entrar na fazenda sem autorização judicial, já que a propriedade é privada.
O MPF pediu aos indígenas que se deslocassem para a aldeia Taquapery, com o intuito de receber a cesta básica e atendimento médico, explica o Cimi.
Denúncias - Segundo os indígenas que estão na área de retomada existe a possibilidade de que a maioria das crianças esteja sentindo os efeitos do veneno que é jogado pelos fazendeiros na plantação de soja que rodeia o acampamento indígena.
A fazenda Maria Auxiliadora, reclamada como terra tradicional indígena, não tem criação de gado e só plantação de soja, segundo os nativos. As fontes de água que os indígenas começaram a consumir estariam contaminadas com os produtos tóxicos usados para proteger a soja.
No entender do Cimi, mais crianças podem morrer se a Funasa não tomar uma posição. Em 2008, duas crianças já morreram de desnutrição no acampamento que as famílias ocupavam desde 2007 às margens da BR-289, que liga Amambai a Coronel Sapucaia.
Agora, de acordo com informações do Cimi, os indígenas disseram que, antes de mais mortes serem registradas, estão solicitando à Funasa pelo menos um caixão para enterrar a criança.