Conglomerado e empréstimos falsos seriam rota de “dinheiro sujo”
A denúncia do MPF (Ministério Público Federal), que foi aceita pela Justiça, aponta João Alberto Krampe Amorim dos Santos como líder de um conglomerado de empresas, chefe de organização criminosa para desvio de verba pública e com uma rede de empréstimos fictícios para trânsito de “dinheiro sujo”.
O esquema de empréstimo foi denunciado na aquisição de duas fazendas: Jacaré de Chifre, localizada em Porto Murtinho, e Santa Laura, que fica no município de Jaraguari. Juntas, elas totalizam R$ 33.858.428,21.
Em 2010, a Idalina Patrimonial Ltda comprou a fazenda Jacaré de Chifre por R$ 30 milhões. A empresa tem como sócias as filhas de João Amorim: Ana Paula Amorim Dolzan, Ana Lúcia Amorim e Renata Amorim Agnoletto. Mas, no documento de compra e venda, João Amorim assina como procurador. O contrato e pagamentos foram encontrados na sede da Proteco Construções, empresa da qual ele é proprietário.
Segundo a denúncia, apesar de negociada em nome da Idalina Patrimonial, a fazenda foi adquirida com “recursos ilícitos provenientes da organização criminosa chefiada por João Amorim, que também a administrava”.
Com valor de R$ 4.989.708,26, o dinheiro da terceira parcela teve como origem a conta de Elza Cristina Araújo dos Santos (sócia e secretária) de Amorim. Com a reprodução das lâminas de cheque, a investigação aponta que Elza repassou a quantia de R$ 4.990.000,00 para João Amorim em 13 de maio de 2011.
Três dias depois, um cheque de igual valor foi dado por ele para Ana Paula. Ainda no dia 16 de maio, Ana Paula repassou igual quantia para a Idalina Patrimonial. E, também em 16 de maio, a empresa deu cheque de R$ 4.989.708,26 para o dono da fazenda.
A aquisição do imóvel rural foi concluída em 2015. O vendedor disse no inquérito policial que negociou diretamente com Amorim e que as cobranças eram tratadas com Elza, sem contato com as proprietárias da Idalina Patrimonial.
Santa Laura - Entre 2010 e 2013, foi adquirida a fazenda Santa Laura, com valor de R$ 3.858.428,21. O contrato informa que o comprador é Ana Paula Amorim Dolzan e outras.
De acordo com a denúncia, a quitação das 12 parcelas recebeu recurso de Ana Paula e da Idalina Patrimonial. Porém, aponta que em algumas parcelas a origem foi João Amorim e a empresa ASE Participações. Mesmo com o pagamento, a fazenda permaneceu em nome do antigo proprietário.
Conforme o MPF, as filhas de Amorim permitiram de forma voluntária e consciente os atos para dissimular a origem do dinheiro. Já Elza seria testa de ferro do empresário.
“Todos esses empréstimos eram fictícios, ideologicamente falsos, e tinham por única e exclusiva finalidade justificar formalmente o trânsito do dinheiro sujo. Ao final, permitia a aquisição de imóveis rurais, buscando-se distanciar tais bens de sua origem ilícita”, informa o documento.
Os cinco foram denunciados por crimes de “lavagem” ou ocultação de bens. A Justiça Federal acatou o pedido e eles viraram réus. A defesa de Amorim informou que o processo está em sigilo e não se manifestaria.
Conglomerado – O Ministério Público aponta que João Amorim, valendo-se de familiares e pessoas próximas, criou um conglomerado de empresas que ajudavam a ocultar bens. Segundo a denúncia,a fonte do dinheiro foi desvio de recurso em obras do governo do Estado.
A lista tem 14 empresas. Algumas não estão em nome de Amorim, mas são de propriedade de parentes. A lista é composta por Proteco Construtora Ltda, ASK Apoio Administrativo Ltda ME, Bósforo Participações Ltda, ASE Participações e Investimentos Ltda, LD Construções Ltda, Kamerof Participações Ltda, Raiz Participações S/S Ltda, Agropecuária Areias Participações Ltda, Areias Patrimonial, Idalina Patrimonial Ltda, Agropecuária Idalina, AS Construções, MBM Construções, e DMP Construções Ltda.
A operação Lama Asfáltica é realizada desde julho de 2015 e já teve três fases. A investigação foi realizada pela PF (Polícia Federal), CGU (Controladoria-Geral da União) e Receita Federal.