ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
DEZEMBRO, SEGUNDA  23    CAMPO GRANDE 25º

Cidades

Cúpula da Funai considera emissão de certificado de cacique “desnecessária”

Presidência da fundação vai orientar coordenadores regionais sobre situação, após órgão em Campo Grande expedir documento e gerar polêmica na Câmara Federal

Humberto Marques | 15/06/2018 15:13
Coordenador regional da Funai divulgou cópia de certificado expedido para cacique em perfil no Facebook; medida foi considerada desnecessária pelo comando do órgão. (Imagem: Reprodução)
Coordenador regional da Funai divulgou cópia de certificado expedido para cacique em perfil no Facebook; medida foi considerada desnecessária pelo comando do órgão. (Imagem: Reprodução)

A assessoria da presidência nacional da Funai (Fundação Nacional do Índio) afirmou que a emissão de “certificados de reconhecimento” a caciques indígenas para “validar as lideranças” não está de acordo com a missão institucional do órgão e, por esse motivo, emitirá circulares para informar seus coordenadores regionais sobre os artigos da Constituição Federal que tornam “desnecessária” a expedição de tais documentos.

A medida foi tomada após ser divulgado que o coordenador regional da Funai de Campo Grande, Paulo Rios, emitiu “certificados de cacique” para os indígenas eleitos para o posto nas aldeias sob jurisdição do órgão. O tema, que balizou reportagem do jornal Folha de S. Paulo, foi duramente criticado na terça-feira (12), durante audiência pública na Câmara dos Deputados.

O documento, assinado por Rios e divulgado por este em seu perfil no Facebook (inclusive marcado com a hashtag #certificadodereconhecimento), passou a ser entregue depois que o coordenador regional assumiu o cargo, em setembro de 2017, via indicação do atual ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun.

Na Câmara, representantes da INA (Indigenistas Associados, que reúne servidores da Funai) e do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) condenaram a emissão dos certificados, tratados como desrespeito à autonomia dos povos indígenas –que não dependeriam de nenhuma certificação para decisões tomadas dentro de sua autonomia.

Desacordo – Em nota ao Campo Grande News, a Funai informou que “tal prática (a emissão dos certificados de cacique) não está de acordo com a missão institucional do órgão indigenista, que é a promoção e a proteção dos direitos dos povos indígenas no Brasil”, previstos nos artigos 231 e 232 da Constituição.

“São eles: o reconhecimento de suas organizações sociais e costumes, bem como o fim da tutela dos povos indígenas, que têm autonomia para ingressar em juízo individualmente, em comunidade e em organizações”, destaca a fundação em nota, ao destacar também que o seu estatuto coloca como primeiro princípio norteador das ações da entidade “o reconhecimento da organização social dos povos indígenas”.

A fundação salienta que “a emissão de certificados para lideranças indígenas é imprópria e pode reforçar a ideia equivocada de que as organizações indígenas necessitam de validação ou tutela do órgão indigenista para que as suas estruturas sociais e de representatividade sejam respeitadas”. Desta forma, decidiu-se enviar memorando-circular às unidades da Funai reforçando que a emissão do certificado de cacique é desnecessária.

Nos siga no Google Notícias