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Cidades

Expedição cruza a fronteira levando a certeza que Rota Bioceânica é viável

Sílvo Andrade, de Boquerón, no Paraguai | 26/08/2017 08:56
Expedição cruza a fronteira levando a certeza que Rota Bioceânica é viável
Caminhonetes embarcando em balsa para atravessar o Rio Paraguai (Foto: Silvio Andrade)
Caminhonetes embarcando em balsa para atravessar o Rio Paraguai (Foto: Silvio Andrade)

“Viva Brasil, Viva Paraguai!”, proclama a prefeita do distrito paraguaio Carmelo Peralta, na fronteira com Porto Murtinho, Mirna Oreo, ao saudar a caravana brasileira formada por 28 caminhonetes que percorrerá 3 mil km de estradas até Antofagasta, na costa do Pacífico, para apresentar às autoridades sul-americanas a viabilidade da rota para integração comercial entre Brasil, Argentina, Paraguai e Chile.

O entusiasmo da intendente paraguaia pelo esforço dos governos brasileiro e do seu país para viabilizar o caminho considerado estratégico para unir os quatro países e reduzir custos nas exportações, sintetizou o clima de otimismo que reina na região com a garantia de que o projeto sairá do papel e estará pronto em no máximo quatro anos.

“Estaremos unidos para todos, Brasil e Paraguai”, disse Mirna Oreo.

Depois de tentativas do governo brasileiro e das propostas defendidas por Mato Grosso do Sul para criar alternativas de reduzir distâncias para os produtos até o Pacífico via Bolívia, país que não proporciona confiabilidade em seus acordos, a entrada para o oceano por Porto Murtinho ganhou unanimidade. O Brasil assinou embaixo e Mato Grosso do Sul ganhou apoio político não acenado em 20 anos de discussão da rota bioceânica.

De concreto, até o momento, está o compromisso firmado pelo governo brasileiro de construir a ponte sobre o Rio Paraguai, entre Murtinho e Carmelo Peralta, enquanto o Paraguai se compromete a pavimentar cerca de 470 km da rodovia que corta o Chaco até a fronteira com a Argentina. Desta fronteira até os portos do Chile, o caminho está pavimentado desde 2014 para receber os produtos de Mato Grosso do Sul e outros Estados do Centro-Oeste.

A ponte, segundo o ministro João Carlos Parkinson, das Relações Exteriores, está nos planos do governo e sua construção depende de aprovação de empréstimo internacional pelo Congresso Nacional, provavelmente via Fonplata (Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata), o fundo de desenvolvimento dos países latinos.

Para atestar o acordo do presidente Michel Temer com o Paraguai, Parkinson integra a comitiva de empresários, lideranças políticas brasileiras e paraguaias e secretários estaduais do Governo de Mato Grosso do Sul que segue o caminho ao Pacífico até o dia 2 de setembro. O diplomata foi saudado com grande entusiasmo na fronteira Brasil-Paraguai.

No meio, o secretário Marcelo Miglioli durante evento no Paraguai (Foto: Silvio Andrade)
No meio, o secretário Marcelo Miglioli durante evento no Paraguai (Foto: Silvio Andrade)
Integrantes da expedição em barco que atravessou o Rio Paraguai (Foto: Silvio Andrade)
Integrantes da expedição em barco que atravessou o Rio Paraguai (Foto: Silvio Andrade)

A viagem - As caminhonetes que farão a segunda etapa da Rila (Rota da Integração Sul-Americana), idealizada pelo Setlog (Sindicato das Empresas de Cargas e Logística de MS), saíram de manhã de sexta-feira (25) de Campo Grande com destino a Porto Murtinho. Pouco antes da chegada à fronteira, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) se reuniu com autoridades paraguaias em Murtinho para selar acordos bilaterais.

No encontro, ficou patente a certeza de que a rota se viabilizará pelos compromissos do Brasil, em relação à ponte sobre o Rio Paraguai, e o aceno do Paraguai em abrir licitações para asfaltar o trecho da rodovia até a fronteira com a Argentina. “Não tenho mais dúvidas de que vamos viabilizar esta rota e trazer o desenvolvimento a toda a região, economizando mais de 8 mil quilômetros para chegarmos ao Pacífico”, disse Reinaldo.

Os paraguaios, dentre elas os governadores de Boquerón, Edwin Pauls, e de Alto Paraguai, Marlene Ocampos, e o presidente da Cooperativa Chortitzer, Gustan Sawtsky, foram enfáticas em afirmar que o Paraguai cumprirá a sua parte e todos em seu país projetam um crescimento extraordinário do agronegócio, em especial no setor de carne bovina. “Todos ganharão, inclusive o turismo, a cultura”, pontuou Edwin Pauls.

Depois da recepção à caravana da Setlog, pelas autoridades sul-mato-grossenses e paraguaias, na Praça de Eventos de Porto Murtinho, os caminhonetes atravessaram o Rio Paraguai de balsa para Carmelo Peralta, enquanto os integrantes do Rila seguiram de navios, por cerca de 6 km rio acima.

Na comunidade paraguaia, uma grande concentração pública para receber os visitantes. Integrando a expedição, o secretário estadual de Infraestrutura, Marcelo Miglioli, saudado por faixas estendidas na principal avenida de Peralta, disse não ter mais nenhuma dúvida de que a rota por Porto Murtinho será um realidade. “Já passamos do sonho e desejo sucesso a nossa empreitada”, falou.

Trecho noturno e tenso da viagem (Foto: Silvio Andrade)
Trecho noturno e tenso da viagem (Foto: Silvio Andrade)

Sábado - A comitiva saiu de Carmelo Peralta no entardecer, às 18h, com pelo menos duas horas de atraso. A noite chegou rápido na travessia do Chaco, exigindo muito cuidado dos motoristas das caminhonetes em uma estrada de terra em boas condições, mas com muita poeira, navegando a 50 km/h em média. O pó fino que impedia a visibilidade dava a impressão de uma tempestade de areia no deserto.

Em todo o trajeto até Boqueron, a polícia paraguaia deu apoio, liberando inclusive entraves nos postos de fiscalização.

O grupo chegou a esta comunidade de pouco mais de 8 mil habitantes à 23h20, acomodando-se em hotéis. A agenda deste sábado começou às 7h, com o café da manhã, e logo depois haverá uma visita à Cooperativa Chortitzer, referência na produção de carne e leite na região sustentadas pela colônia menonita.

O próximo destino será Pozo Hondo, já em território argentino, com previsão de chegada às 13h. Serão mais 215 km de estrada de terra.

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