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“Não cuidaram nem depois da morte”, diz tia de bebê achado com formigas

O menino Killian teve uma vida que durou três dias; corpo de bebê estava em meio a panos sujos

Aline dos Santos | 09/03/2020 12:54
Bebê  morreu na madrugada de sábado (dia 7) em maternidade de Corumbá (Foto: Arquivo Pessoal)
Bebê morreu na madrugada de sábado (dia 7) em maternidade de Corumbá (Foto: Arquivo Pessoal)

“Foi completamente desumano, desrespeitoso, horrível. As pessoas não têm mais amor de verdade, não se sensibiliza pela dor do outro. Não cuidaram do meu sobrinho nem depois da morte”.

O relato da garçonete Danieli Valmaceda, 32 anos, ao Campo Grande News nesta segunda-feira (dia 9), é marcado pela dor de quem viu uma cena que não consegue despregar da memória: um bebê morto em meio a lençóis sujos e formigas na maternidade de Corumbá.

O menino Killian Lima de Carvalho nasceu em 4 de março, com sinais de icterícia, doença que deixa criança com pele amarelada e, em casos de complicações, pode levar à morte. Danieli conta que uma enfermeira logo comentou que o bebê era forte candidato para ir para a luz, uma forma corriqueira de se referir ao procedimento de fototerapia. O parto foi cesárea, aos nove meses de gestação e sem problemas no pré-natal.

A tia afirma que o pediatra que acompanhou o parto viu a criança apenas duas vezes: no nascimento e dois dias depois do parto. Entre os dias 4 e 6, a situação da criança chamou a atenção de outros profissionais, como ginecologista, psicóloga e de outro pediatra.

“No dia seguinte a do nascimento, estava bem mais amarelo. Apareceu o médico ginecologista. Ele disse que a minha irmã estava bem, mas perguntou se ela estava criando um canarinho e que era para chamar o pediatra”, conta a tia.

Na sexta-feira, dia 6, o bebê, conforme a família, prosseguia sem o banho de luz. “Quando cheguei lá. Ele estava alaranjado, com os olhos meio verdes. Tomei o maior susto, saí com ele para o corredor, ia levar para tomar sol. No corredor, encontrei outro pediatra, que correu com ele para a pediatria”, relata. Neste momento, o médico também pediu para chamar o pediatra que acompanhou o parto.

No entanto, mesmo na fototerapia, a criança não apresentou melhoras, com dificuldade para mamar e gemidos. Danieli conta que diante de seus comentários, a enfermeira colocou o termômetro e constatou que a criança tinha febre.

Depois, o quadro piorou e, no sábado de manhã (dia 7), a família foi avisada pelo hospital de que o bebê morreu na madrugada, vítima de parada cardiorrespiratória. A família aguarda resultado de exames realizados durante a internação.

Panos sujos - Ao lado de outra tia da criança, Danieli Valmaceda foi à maternidade para os procedimentos burocráticos. As mulheres foram autorizadas a ver o bebê no necrotério. Ela conta que houve uma confusão com a chave e foi aberta a porta de outra sala.

“Tinha um monte de pano sujo e vi o nome da minha irmã escrito na fita de curativo. Eu peguei, puxei e vi o corpo no meio dos panos sujos e cheio de formigas. A enfermeira disse que era impossível uma coisa dessas”, conta.

Com uma vida que durou três dias, Killian Lima de Carvalho foi sepultado na tarde de ontem em Corumbá. A irmã de Danieli tem um filho de 4 anos. Na sequência do enterro, a garçonete já passou na delegacia, perto do cemitério, para prestar depoimento.

Ela conta que uma das linhas de apuração será omissão de socorro do pediatra que só esteve duas vezes com o bebê. O Campo Grande News não conseguiu contato com o titular da Delegacia de Atendimento à Infância, Juventude e Idoso de Corumbá, delegado Willian Rodrigues de Oliveira.

A Secretaria Municipal de Saúde de Corumbá divulgou nota informando ter tomado conhecimento do ocorrido e que está acompanhando o caso junto à administração do hospital. A Junta Administrativa Interventora da Associação Beneficente de Corumbá determinou a abertura de sindicância. O documento, divulgado na Folha MS, é assinado pelo interventor Eduardo Iunes, irmão do prefeito de Corumbá, Marcelo Iunes (PSDB).

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