“Sérgio Cabral me usou como bode expiatório”, diz Marcelo Piloto
Traficante disse que ex-governador o acusou de ser grande traficante como “cortina de fumaça” para encobrir corrupção
Em entrevista coletiva a jornalistas paraguaios nesta terça-feira (6), o narcotraficante brasileiro Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o “Marcelo Piloto”, acusou o governo do Rio de Janeiro de usá-lo como bode expiatório para esconder a corrupção que tomou conta do Executivo fluminense.
Preso há 11 meses no Paraguai, de onde enviava drogas e armas para o Comando Vermelho, Marcelo disse que o ex-governador Sérgio Cabral e depois o atual mandatário, Luiz Fernando Pezão, o transformaram em “poderoso traficante” como cortina de fumaça, para desviar a atenção enquanto bilhões eram desviados.
“É o que está acontecendo aqui agora. Colocaram meu nome na mídia para tapar segundas intenções de outras pessoas. Na época o governador era o Sérgio Cabral, o maior corrupto da história do Rio de Janeiro. Ele tirava bilhões da saúde e deixava as pessoas morrerem. Aí precisaram de um ‘bola da vez’ na mídia para chamar a atenção”, acusou o traficante.
Segundo ele, foi por isso que fugiu para o Paraguai: “quando o Sérgio Cabral saiu ficou o braço direito dele, o Pezão, e a política continuou a mesma. Me jogaram na mídia, aí teve a UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] na comunidade. Eu tava muito em evidência, estava levando problema para a comunidade, aí vim para o Paraguai”.
Marcelo Piloto afirmou que ficou cinco anos livre no Paraguai até ser preso em dezembro do ano passado em Encarnación e que nesse período usou documentos falsos, obtidos com a ajuda de autoridades daquele país.
“Este país é dominado pela corrupção. O mundo inteiro [bandidos] vem para o Paraguai porque aqui a corrupção manda”, afirmou.
Ele disse que pagou muito dinheiro para policiais paraguaios lhe informarem toda vez que a polícia brasileira começava a monitorar a viagem de seus funcionários do Rio ao Paraguai, para visitá-lo.
“Me avisaram [policiais paraguaios] para não ir ao encontro no shopping que a Polícia Federal estava lá para me prender. Paguei muito caro, tenho como provar, tenho gravações, disse ele.
Piloto acusou diretamente o comissário Abel Cañete, atual diretor geral de Investigações Criminais da Polícia Nacional. “Corrupto que está me acusando de ser terrorista”, afirmou sobre Cañete. O comissário negou as denúncias.
Peixe pequeno – O brasileiro disse que independente dele estar preso no Paraguai ou no Brasil, o comércio de drogas e armas vai continuar. “Posso estar até morto, vai continuar. Eu sou um pequenininho no meio disso tudo. Estão me colocando como o terceiro [na escala de chefia do Comando Vermelho]. Nem é um numero maneiro ser terceiro. Eu não sou chefe de nada. Eu trabalho sozinho”.
Marcelo Piloto negou ligação com Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho. “Nem conheço ele, nunca vi na minha vida. Quando passou por lá ele ficava no [presídio] Bangu I isolado e eu no Bangu III. Fizeram com ele o que estão fazendo comigo, pegando um traficantezinho como bode expiatório”.
Vida no crime – Na entrevista, em que acusou policiais paraguaios de darem respaldo no período em que ficou livre no Paraguai, ele falou também de como iniciou sua vida como membro do Comando Vermelho, a maior facção do Rio.
Afirmou ter entrado para o CV aos 22 anos, após ser condenado por roubo de carro. Disse que foi por acaso, porque na prisão teve de escolher uma facção e optou pela que dominava a comunidade onde morava no Rio de Janeiro, o Morro do Urubu.
“Eu era um simples assaltante. Me colocaram com homicida, assaltante, traficante. Passei dez anos nesse cárcere, eu conheci todo mundo”.
Marcelo se irritou quando uma repórter perguntou se a mulher dele ajudaria no plano de resgate. “É mentira. Não existe resgate. Quem seria louco de tentar passar por um quartel desse com essa segurança? A família para nós [facções] é sagrada. Os meninos que trabalham para mim, que são da minha comunidade, estavam aqui. Por que eu ia envolver minha esposa?”.
Marisa de Souza Penna, 24, a mulher de Marcelo Piloto, foi presa junto com outros quatro cariocas em uma casa em Assunção, no dia 4 de outubro deste ano. No local foi encontrado um arsenal, formado por fuzis, pistolas e grande quantidade de munição.
Apesar de inocentar a mulher afirmando que ela estava lá para visitá-lo, Marcelo admite na entrevista que os quatro cariocas presos com o arsenal trabalham para ele. Sobre as armas e munições, afirmou: “tudo minha, comprei para revender. Sou um negociante”.
Ele também inocentou a advogada paraguaia Giselle Gutiérrez, que faz sua defesa no Paraguai. Foi ela que alugou uma das casas usadas pelo grupo ligado a Piloto. Giselle está sendo investigada pela Polícia Nacional.
“Ela é inocente, só me fez um favor em alugar as casas para meus familiares ficarem, porque se pede muitos documentos de estrangeiros. Primeiro foi para minha esposa e depois meu cunhado, que trabalha para mim, mas eu não preciso dar satisfação para ela”, afirmou.
Marcelo Piloto admitiu que continuou negociando a venda de drogas e armas mesmo preso. “Eu tinha um telefone, foi apreendido na minha cela durante buscas. Eu falava com a minha esposa e também com o pessoal que trabalha para mim”.
Feijão e arroz – O traficante brasileiro comparou o negócio de armas à venda de alimentos. “Se você compra feijão, arroz ou o quer que seja, você compra num lugar mais barato para vender em outro mais caro e ganhar a comissão. É o que faço. As armas foram compradas aqui e seriam vendidas aqui mesmo no Paraguai”.
Ele se negou a revelar o valor das armas e quem são seus fornecedores. “Não vou entregar ninguém, não adianta querer saber”, disse aos jornalistas. Sobre as munições de metralhadora calibre 50, afirmou que um comprador que encomendou as balas e ele tinha o fornecedor, mas negou ser dono de uma arma desse calibre.
Marcelo Piloto encerrou a entrevista afimando que mesmo após quase um ano preso, não foi interrogado pelos fiscais (promotores) paraguaios. "Se quiserem saber eu entrego as provas. Não vou passar essas informações para jornalistas".