24 horas depois, famílias seguem sem assistência e pedem ajuda
Sem casa e sem renda, moradora diz que terá que reconstruir a vida após o rompimento da barragem do Nasa Park
O rompimento da barragem do Nasa Park levou “toda a vida” de quem mora próximo do empreendimento de luxo, em Jaraguari, a 47 km da Capital. Sem casa, roupa e renda, uma das famílias relata que um dia depois do desastre ninguém os procurou para prestar qualquer assistência.
Luzia Ramos do Prado, de 60 anos, morava há 36 anos na casa que foi atingida na manhã de terça-feira (20). Os cômodos estão cobertos por lama e nada pôde ser salvo. A produtora rural relata que na madrugada de hoje sonhou que a tragédia não tinha acontecido. “Mas infelizmente eu acordei e vi que tudo isso era verdade. Eu perdi toda a minha vida ali. São 36 anos de história que foram perdidos por irresponsabilidade dos outros”, fala.
Ela morava na casa com o filho Tiago Andelço, de 35 anos, que nasceu e cresceu no lugar. Ambos tinham uma criação de 16 porcos e mantinham uma horta que garantia o sustento. Oito animais foram arrastados pela enxurrada e a plantação também ficou destruída.
Ainda abalado, Tiago diz que a madrugada foi muito difícil porque uma situação como essa não tem explicação. Até esta manhã, no momento da entrevista, o morador expõe que ninguém os procurou para prestar qualquer esclarecimento ou oferecer ajuda.
“É um absurdo tudo isso ter acontecido e até agora ninguém do condomínio, Defesa Civil, governo ou bombeiros procurarem a gente para saber como estamos, o que perdemos e se tem alguém precisando de ajuda médica”, afirma. “Eu vou acionar um advogado porque isso não pode ficar em vão”, completa.
Enquanto o filho planeja procurar um advogado, ela mesma expõe que não sabe como será a vida a partir de agora. “Ainda não sei o que vou fazer daqui pra frente. Eu tenho dois tumores no intestino, não consegui fazer os exames por conta do valor que é muito alto e agora preciso pensar em reconstruir a minha vida, já que não me sobrou nada”, pontua.
Os dois passaram a noite na propriedade do ex-marido de Luzia, que mora em outro terreno próximo e que não sofreu danos após o rompimento da barragem. A filha de Luzia e irmã de Tiago, Gabriele do Prado Lopes, de 34 anos, mora com o pai e os quatro filhos na casa que ficou ilesa.
A produtora rural comenta que durante a madrugada viu pelo menos seis homens invadindo a casa da mãe para tentar furtar os animais que sobreviveram. Ela acionou a Polícia Militar que foi até o local e perseguiu os suspeitos.
Além de Luzia e Tiago, outras quatro famílias perderam tudo, incluindo veículos e animais que eram criados na região. O prefeito de Jaraguari, Edson Rodrigues Nogueira, esteve no local na manhã desta quarta-feira (22) para distribuir cobertores, roupas, comidas e ver se algum morador precisa de alojamento.
O problema, segundo mãe e filho, é que a casa deles fica no lado que pertence ao município de Campo Grande e, por isso, a jurisdição não é da Prefeitura de Jaraguari. Eles relataram durante entrevista que ninguém da Prefeitura de Campo Grande entrou em contato.
Entenda o caso - Na manhã desta terça-feira, o rompimento da barragem do Nasa Park pegou todos de surpresa. A situação destruiu casas, abriu cratera na rodovia, e interditou totalmente o km 500 na BR-163.
O Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) informou que vai autuar os proprietários do Nasa Park e cobrará a elaboração de um Prada (Plano de Recuperação de Área Degradada) para reestabelecer a condição natural existente antes do rompimento da barragem da represa do local, um empreendimento reunindo casas e espaço para prática de esportes náuticos.
O Corpo de Bombeiros esteve no local ontem e não encontrou nenhum certificado de vistoria em relação à represa do Nasa Park.
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