ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
DEZEMBRO, SEGUNDA  23    CAMPO GRANDE 30º

Interior

Aluna da pior escola, índia passa em dois vestibulares de medicina

Dara Ramires Lemes foi aprovada em duas faculdades públicas e depois de formada quer trabalhar na aldeia

Helio de Freitas, de Dourados | 23/01/2015 15:29
Dara estudou em escola de aldeia com pior nota no Enem, mas se dedicou e vai fazer medicina em São Paulo (Foto: Caarapó News)
Dara estudou em escola de aldeia com pior nota no Enem, mas se dedicou e vai fazer medicina em São Paulo (Foto: Caarapó News)

A guarani Dara Ramires Lemes, 19 anos, moradora na aldeia Tey Kuê, no município de Caarapó, a 283 km de Campo Grande, foi aprovada no vestibular para medicina em duas universidades públicas conhecidas em todo o país. A jovem índia que fez o ensino fundamental e o ensino médio na escola da própria aldeia foi aprovada na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), no Rio Grande do Sul, e na UFScar (Universidade Federal de São Carlos), interior de São Paulo.

Na universidade gaúcha, Dara disputou duas vagas com 121 pessoas e alcançou o primeiro lugar. Nesta semana ela ficou sabendo do resultado do vestibular da universidade de São Carlos, onde fez 32 pontos de 40 questões.

“Estou muito feliz, pois estudei de 8 a 10 horas por dia, durante um ano, para conquistar isso. Minha ficha ainda não caiu, mas acredito que só vai cair quando eu estiver lá na universidade”, afirmou a jovem ao site Caarapó News.

A Escola Estadual Yvy Poty, na aldeia Tey Kuê, onde Dara lemes estudou, foi considerada a pior nota no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2014, com média 412,65. O resultado obtido por Dara, no entanto, comprova que o esforço pessoal dela ajudou a superar as dificuldades enfrentadas pelos demais alunos.

Dara alcançou 760 pontos na redação do Enem, o que mostra, segundo ela, que a escola tem professores capacitados. “Desde criança estudei na escola indígena, sempre fui esforçada e os professores nunca me negaram ajuda, sempre que tinha dúvidas eles me ajudavam, e hoje eu devo o resultado dos vestibulares a eles também, pois se não fosse a disponibilidade e paciência deles talvez eu não tivesse ficado em 1° lugar”.

Na opinião da jovem guarani, uma escola não se faz com professores, mas sim com alunos dispostos a aprender. “Quando eu estudava lá, até durante as aulas vagas eu procurava os professores para tirar algumas dúvidas. E acredito que a escola apareceu com essa nota no Enem por que muitos alunos foram em um dia fazer a prova e no outro não apareceram”, disse a estudante ao site de notícias de Caarapó.

Ela decidiu cursar medicina na Universidade Federal de São Carlos e depois de formada quer voltar para a aldeia, para atender a comunidade. Segundo Dara Lemes, existe a necessidade de médicos que falam a língua guarani para atender os moradores da aldeia.

“Nós indígenas temos uma dificuldade muito grande de se comunicar com o branco e agora, para complicar mais ainda nossa dificuldade, vieram para a aldeia dois médicos cubanos participantes do programa ‘Mais Médicos’. Aí você pensa: se já é difícil nos comunicarmos com pessoas que falam o português, imagina com pessoas que falam uma língua mais diferente ainda”, disse ela.

Nos siga no Google Notícias