Aos solavancos, passageiro enfrenta calor e barulho em viagem de 45 km
Beneficiado por decisão da Justiça em favor de cooperativas, Expresso Fátima do Sul faz dez viagens diárias em micro-ônibus sem ar condicionado e sem banheiro; passagem custa R$ 10
Moradores que precisam viajar de Dourados para Fátima do Sul pagam R$ 10 para embarcar em um micro-ônibus sem ar condicionado, sem banheiro, com bancos sujos e que sacode quando passa nos buracos do asfalto.
Com as janelas abertas por causa do calor, o barulho do vento e de outros veículos torna a viagem ainda mais desagradável e impede até mesmo de ouvir as músicas do som ambiente que toca no micro-ônibus. Sem contar o mau cheiro que invade o coletivo toda vez que passa um caminhão boiadeiro ou de transporte de suínos.
Essa é a realidade enfrentada pelos passageiros do Expresso Fátima do Sul, o micro-ônibus que viaja quase 500 quilômetros por dia entre as duas cidades localizadas na região sul de Mato Grosso do Sul. São dez viagens de ida e volta todos os dias pelo trecho de 50 quilômetros, contando a distância que roda no perímetro urbano das duas cidades e na MS-376.
De acordo com a Agepan (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos), que fiscaliza o transporte intermunicipal em Mato Grosso do Sul, o “Expresso Fátima do Sul” pertence a Gramaci Ferreira Lino Oliveira, cooperada da Cooptrapte, a cooperativa dos proprietários de transporte alternativo de passageiros.
A Agepan informou ao Campo Grande News que os autônomos operam linhas regulares no sistema rodoviário intermunicipal de passageiros através de duas cooperativas, a Cooptrapte e a Coopervans Pantanal. As duas operam graças a uma decisão judicial.
Cada cooperado e seu respectivo veículo é cadastrado individualmente na Agepan. As tabelas de tarifas e horários são definidos pela agência para cada linha.
“A Linha 418 – Fátima do Sul/Dourados – é operada pela cooperada Gramaci Ferreira Lino Oliveira. Expresso Fátima do Sul é o nome fantasia usado pela cooperada”, informou a agência de regulação, através da assessoria de imprensa.
Calor e barulho – Na terça-feira (8), o Campo Grande News embarcou no Expresso Fátima do Sul, como mostra o vídeo abaixo. O embarque ocorreu no terminal rodoviário de Dourados, onde o serviço autônomo não possui guichê ou qualquer tipo de atendimento aos passageiros.
Um dos primeiros passageiros foi um idoso, que perguntou se poderia usar a passagem gratuita por ter mais de 60 anos de idade. “Carteirinha só para passageiro agendado”, respondeu a cobradora.
Após sair da rodoviária, o micro-ônibus faz um tour pelo centro de Dourados. Para no ponto da Rua Camilo Hermelindo da Silva, ao lado da Igreja do Relógio. Depois volta para a Marcelino Pires, sempre pegando passageiros nos pontos ao longo da avenida, até chegar à BR-163 e depois à MS-376, que liga Dourados a Fátima do Sul.
Os passageiros são, em sua maioria, moradores de Fátima do Sul que vão até Dourados para trabalhar, para fazer compras, para consulta com médico ou para visitar parentes.
“Não sinto falta de ar condicionado, porque não estou acostumada. Acho a passagem barata e sempre que preciso viajo nesse ônibus”, disse uma moradora da Linha do Barreirão, como é chamado o trecho da MS-376 entre as duas cidades, importante região produtora de grãos.
Antonio Belarmino, 54, disse que viajava pela primeira vez no Expresso Fátima do Sul. Acostumado com o trabalho braçal, não reclamou da falta de conforto e explicou ter optado pelo serviço por considerar barato.
Só que a passagem do Expresso Fátima do Sul custa o mesmo valor cobrado pela van com ar condicionado da empresa Maranatha Transportes, que carrega passageiros entre as duas cidades. A Viação Motta, que tem três horários diários entre as duas cidades, cobra R$ 12,40 pela passagem.
Entretanto, os clientes do Expresso Fátima do Sul citam como vantagens o fato de pegar o micro-ônibus em qualquer ponto e ter várias opções de horários para fazer a viagem.
Outro lado - A presidente da Cooptrapte Magna Ajala informou que vai pedir providências imediatas para resolver a falta de ar condicionado no micro-ônibus e melhorar a limpeza. Quanto ao sanitário, segundo ela, a portaria da Agepan que regulamenta o serviço não permite instalação, por ser “transporte alternativo”.